Covid-19: letalidade da doença em crianças está em queda

Uma análise dos dados epidemiológicos mais recentes sobre a Covid-19 demonstra que a taxa de hospitalização e morte de crianças e jovens pelo novo Coronavírus está caindo nesse primeiro trimestre de 2021. O mapeamento, realizado conjuntamente pelos Departamentos Científicos de Imunizações e de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), considerou os dados oficiais do Ministério da Saúde sobre o contágio e comportamento da doença no grupo de zero a 19 anos de idade.

Assinado pelos médicos pediatras Marco Aurélio Sáfadi, presidente do DC de Infectologia, e Renato de Ávila Kfouri, do DC de Imunizações, o estudo traz esclarecimentos relevantes para a classe médica e a sociedade em geral, no momento em que o aumento da transmissão da doença causa maior preocupação no país.

“Em 2021, até o presente momento, observamos menor proporção de hospitalizações, menor proporção de mortes e menor taxa de letalidade nas crianças e nos adolescentes de zero a 19 anos em comparação ao ano de 2020. A análise das taxas de letalidade entre os hospitalizados por SRAG devida à Covid-19 mostrou também menores taxas em 2021 em comparação com 2020. A tendência de redução de letalidade foi uniforme nos diferentes estratos de idade”, diz o documento.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a taxa de letalidade em crianças e adolescentes hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) relacionada à Covid-19 foi de 8,2% (1.203/14.638) em 2020, caindo para 5,8% (121/2.057) em 2021. Confira no gráfico:

Taxas de letalidade (%) em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos hospitalizados por SRAG relacionada à Covid-19 em 2020 e em 2021

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Segundo destaca o dr, Marco Sáfadi, a importância dos dados para esclarecer o cenário da Covid-19 com foco em crianças e adolescentes, foco principal da Pediatria. “Os dados nos dão alento, mostrando que o impacto sobre esse público está caindo. Isso reforça nosso apelo e orientação às famílias e ao poder público para que mantenham o rigor nas medidas de prevenção, de forma a proteger a todos”, afirma.

Já o dr. Renato Kfouri explica que a SBP tem acompanhado os desdobramentos da crise sanitária e seus impactos sobre crianças e adolescentes, com vistas a garantir ao médico pediatra todo o conhecimento necessário para orientar as famílias e oferecer a seus pacientes o melhor tratamento contra a Covid-19. “Também para esse público é essencial a adoção das medidas de prevenção, como o distanciamento social, a higienização frequente das mãos e o uso da máscara, de acordo com a idade”.

O estudo realizado pela SBP parte da premissa observada durante a pandemia, em que crianças e adolescentes apresentaram formas clínicas leves ou assintomáticas, assim como número reduzido de casos graves após contágio pelo novo Coronavírus, para avaliar se há maior risco nesse momento, em que mutações do vírus foram identificadas.

Nota técnica sobre dados epidemiológicos da Covid-19 em pediatria

Um dos aspectos mais intrigantes da pandemia causada pela Covid-19, e que se demonstra consistente em todo o mundo, baseia-se no fato de que as crianças e adolescentes apresentam em sua maioria formas clínicas leves ou assintomáticas, não obstante a rara ocorrência de casos graves, como os descritos em crianças que apresentaram a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

Levando em conta o atual comportamento da Covid-19 no Brasil em 2021, com aumento substancial no número de novos casos da doença, hospitalizações e mortes, em conjunto com a identificação de novas variantes de atenção do SARS-CoV-2 de maior transmissibilidade circulando em diversas regiões, entendemos ser de fundamental importância o monitoramento das características da Covid-19 em crianças e adolescentes para identificar se houve alterações no risco de ocorrência de desfechos graves atribuídos à Covid-19 neste grupo etário, relacionados à atual situação epidemiológica da doença no país.

Desta forma, com base nos dados oficiais apresentados pelo MS em seus boletins epidemiológicos, realizamos uma análise das taxas de hospitalizações e mortes da Covid-19 em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, hospitalizadas por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2021 (até a data de 1º de março) em comparação à de 2020, sendo que, até o presente momento, observamos em 2021 menor proporção de hospitalizações, menor proporção de mortes e menor taxa de letalidade nas crianças e nos adolescentes de 0 a 19 anos em comparação ao ano de 2020.

Proteção para crianças e adolescentes

É esperado que ao ocorrer aumento no número de casos de Covid-19, como o vivido neste momento no Brasil, este aumento seja observado em todos os grupos etários. Desta forma registram-se mais casos, hospitalizações e mortes em números absolutos associados a esta nova situação epidemiológica nas diversas faixas de idade. Entretanto, não há nenhuma evidência, baseando-se na análise dos boletins epidemiológicos do MS, que mostre um perfil particularmente mais grave da doença em crianças e adolescentes.

A análise contínua e o monitoramento do comportamento da doença nos diversos grupos etários é uma ferramenta fundamental de vigilância para que se compreenda a epidemiologia da Covid-19 e esperamos que com o avançar das coberturas vacinais nas populações alvo da campanha de imunização, tenhamos uma diminuição substancial das mortes e das hospitalizações.

Neste contexto, torna-se imperativa a necessidade de realizarmos estudos de segurança e de imunogenicidade com as atuais vacinas para Covid-19 em crianças e adolescentes, com o objetivo de estendermos a este grupo o benefício da vacinação. Esta estratégia servirá não apenas para proteger as crianças e adolescentes de formas graves, mas também para ajudar a controlar a transmissão do vírus na comunidade.

Documento da Sociedade Brasileira de Pediatra (SBP), elaborado pelos infectologistas pediátricos Dr. Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), e Dr. Renato de Ávila Kfouri, vice-presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP)

Redação

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