O dia 11 de março será lembrado pelo Dia Mundial do Rim, campanha anual que tem como objetivo alertar a população sobre um grave problema: a doença renal crônica (DRC), que atinge cerca de 5 milhões de brasileiros, sendo cerca de 140 mil na fase mais avançada que precisam de algum tipo de diálise e cerca de 40 mil que estão na fila de transplantes. Só no Rio de Janeiro, 13 mil cariocas sofrem com a doença de progressão silenciosa segundo dados da Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro (Sonerj). Pacientes que podem ter seus tratamentos suspensos de uma hora para a outra, caso as clínicas de diálise conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS) fechem por causa do agravamento da crise no setor.
Mesmo diante da crise, a Sonerj mantém o objetivo de conscientizar a população sobre as doenças renais e promoverá a iluminação do Cristo Redentor com as cores azul e vermelho, no dia 11, às 19h, em alusão à data comemorativa.
Mas os nefrologistas e as clínicas de diálise conveniadas ao SUS não têm muito o que comemorar, afinal, a crise financeira agravada pelo fim da isenção de ICMS acarreta uma nova carga tributária que ultrapassa 20% no custo de medicamentos e insumos fundamentais para o tratamento da diálise, causando um impacto de cerca de R$ 100 milhões por ano, segundo a Sonerj. A decisão do Governo do estado de São Paulo passou a valer na virada para 2021.
De acordo com Pedro Tulio Rocha, presidente da Sonerj, a decisão afeta o setor de nefrologia em todo o país, pois, apesar de tratar-se de um imposto estadual, o impacto acomete todo o Brasil em razão das operações interestaduais de compra de mercadorias e insumos.
“Estamos diante de um cenário preocupante, e a perspectiva é de agravamento da crise nas clínicas de diálise conveniadas ao SUS, locais que já sofrem com o sucateamento e com a falta de verba, agravada ainda mais pela pandemia, que tornou a hemodiálise um tratamento ainda mais requisitado e caro. A crise financeira já instaurada pode impactar na redução da qualidade assistencial e até mesmo na viabilidade do setor, com a iminência de as clínicas fecharem por não terem capacidade de absorver esse aumento expressivo nos custos”, afirma Pedro Tulio.
Segundo a entidade, o cenário pode afetar a continuidade do tratamento de cerca de 140 mil brasileiros renais crônicos, sendo 85% deles dependentes do SUS. “O fim da isenção fiscal coloca em risco a vida da população e a manutenção desses centros em todo o país. A diálise não pode parar”, comenta o presidente da Sonerj.
Dia Mundial do Rim e doença renal crônica (DRC)
A campanha Dia Mundial do Rim acontece anualmente desde 2006, e o tema central deste ano é “Vivendo Bem com a Doença Renal”, o que reforça a necessidade do acolhimento do paciente renal crônico e da sua inclusão na vida cotidiana. Entretanto, o dr. Pedro Tulio Rocha alerta, principalmente, para a prevenção do problema: “Para o portador de DRC – incluindo aqueles que dependem de diálise e os transplantados renais –, o apoio e acolhimento também são fundamentais durante o tratamento para que levem uma rotina normal. Mas nosso principal alerta para a população é reforçar os cuidados com a saúde dos rins, por meio de medidas de prevenção, sobretudo pelo controle da hipertensão e do diabetes, as principais causas da doença renal crônica”, afirma.
A doença renal crônica se caracteriza por uma lesão nos rins que se mantém por três meses ou mais e é capaz de alterar o funcionamento do órgão, impactando funções vitais como regular a pressão arterial; “filtrar” o sangue; eliminar as toxinas do corpo; controlar a quantidade de sal e água do organismo e produzir hormônios que evitam a anemia e as doenças ósseas, entre outras.
Entre as principais causas, o nefrologista e presidente da Sonerj aponta o diabetes, a pressão alta (hipertensão), as infecções do tecido renal e o uso excessivo de alguns medicamentos, que podem reduzir a função dos rins a longo prazo.
Segundo o médico, em geral, nos estágios iniciais, a DRC é silenciosa, ou seja, não apresenta sintomas ou são poucos e inespecíficos. “Em muitos casos, a doença progride e o diagnóstico acontece tardiamente, quando o funcionamento dos rins já está bastante comprometido, sendo necessário o tratamento de diálise ou transplante renal. Desse modo, são fundamentais a prevenção e o diagnóstico precoce com exames de baixo custo, como a creatinina no sangue e o exame de urina simples. Com eles é possível evitar os agravos da doença”, esclarece Pedro Tulio.
Entre os sinais de alerta da DRC, o nefrologista cita menor produção de urina; inchaço nas mãos, no rosto e nas pernas; falta de ar; dificuldade para dormir; perda de apetite; náusea e vômito; pressão alta e sensação de frio e cansaço. “Quanto mais cedo se notarem os sinais, melhor será para o paciente, que receberá o diagnóstico preciso e o tratamento adequado. A ajuda certa no momento oportuno pode evitar o avanço da doença renal”, finaliza.