Depressão: pesquisa recente abre novas oportunidades de tratamentos

Um levantamento realizado por uma organização global de saúde pública em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) mostrou que a incidência do diagnóstico de depressão cresceu 40% no Brasil entre o período pré-pandemia e o primeiro trimestre de 2022. De maneira geral, o tratamento para depressão, entre outras estratégias, usa antidepressivos – que equilibram a serotonina, um neurotransmissor também conhecido como “hormônio da felicidade”. Mas, uma pesquisa divulgada na revista científica inglesa “Molecular Psychiatry” apontou que a depressão não está necessariamente ligada aos baixos níveis desse hormônio. O estudo reabre as possibilidades de diferentes tratamentos para lidar com a doença, além dos remédios já utilizados. Nesse sentido, a Dra. Lirane Suliano, especialista em auriculoterapia neurofisiológica, explica que a técnica pode ser uma aliada para tratar a enfermidade.

“A partir do momento em que há um estímulo no pavilhão auricular, o sistema nervoso é ativado, desencadeando reações no paciente, dentre elas, uma sensação de bem-estar. A depressão pode ser caracterizada por um conjunto de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos que podem estar relacionados com a insônia, que pode ser uma manifestação de um quadro depressivo. Por isso é importante avaliar o paciente de forma global, enumerando as queixas que ele apresenta, como, por exemplo, problemas gastrointestinais e dor crônica, áreas em que a auriculoterapia tem resultados muito efetivos e rápidos. Dessa forma, é possível tratar sintomas que estão diretamente relacionados com quadros clínicos depressivos, melhorando a qualidade de vida do paciente e atuando no equilíbrio do organismo, favorecendo no tratamento da depressão”, explica Lirane Suliano.

Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1978 e disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006, a auriculoterapia é um recurso terapêutico natural com eficácia comprovada por centenas de artigos científicos. Não à toa, o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (Bireme/Opas/OMS) realizam uma série de estudos sobre como a prática contribui para o cuidado de diferentes problemas de saúde. A própria Dra. Lirane Suliano também é uma das pesquisadoras que atua na busca de comprovações científicas dos benefícios da técnica. Em um dos seus artigos, ela comprova por meio de neuroimagens, como o cérebro reage quando é aplicada a auriculoterapia.

Sobre a pesquisa “The serotonin theory of depression: a systematic umbrella review of the evidence”, divulgada recentemente, Lirane destaca que a pesquisa promoveu uma reviravolta no assunto, mas que certamente será motivo de pesquisas futuras, dada a complexidade do tema, pois pelo que foi apontado pelos pesquisadores ingleses não há evidências convincentes de que a depressão esteja associada a desequilíbrios químicos, em especial da serotonina, como se acreditava anteriormente. Outro ponto importante revelado pela pesquisa é que a quantidade de eventos estressantes que acometem uma pessoa oferece maiores chances de desencadear a depressão, e em especial no quesito estresse e ansiedade há inúmeros trabalhos científicos que comprovam a eficácia da auriculoterapia, inclusive em profissionais que trabalham em locais estressantes, como é o caso dos enfermeiros.

“Isso porque a auriculoterapia atua de forma natural no equilíbrio do cortisol, o chamado hormônio do estresse. Além disso, restabelece a qualidade de sono e equilibra o sistema imunológico. Suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e de relaxamento muscular contribuem para aumentar o bem-estar e a qualidade de vida retirando a dor sem o uso de medicamentos e sem efeitos colaterais. É importante lembrar que ao reduzir a dor, o estresse, a ansiedade, regularizar a qualidade do sono e o funcionamento do intestino estamos contribuindo para o bem-estar das pessoas. E se os pesquisadores apontoam o estresse como um fator de risco para a depressão, ao reduzir o estresse reduzimos esse risco, sem que o paciente precise fazer uso de medicamentos. Aliás, esse é um aspecto relevante na medida em que percebemos o aumento no consumo de ansiolíticos e antidepressivos, como sertralina e fluoxetina, que podem causar reações adversas como insônia, tontura, dor de cabeça, diarreia e náusea e muitas vezes impedir a rotina normal das pessoas. Mas é preciso fazer um alerta aos leitores: a depressão é uma doença grave, que deve ser diagnosticada somente por profissionais especializados, assim como a prescrição de medicamentos deve ocorrer de forma criteriosa por esses profissionais e embora a pesquisa realizada pelos ingleses tenha apresentado resultados surpreendentes sobre o tema, a verdade é que ainda temos muito para aprender quando o assunto é o cérebro humano”, finaliza Lirane.

Leia a pesquisa sobre depressão na revista científica Molecular Psychiatry.

Redação

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