Segundo um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil, em cada quatro mulheres, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê (dados disponíveis em: portal.fiocruz.br/noticia/depressao-pos-parto-acomete-mais-de-25-das-maes-no-brasil).
A depressão pós-parto, porém, nem sempre se inicia após a gestação. “Essa é uma doença multifatorial, que pode se manifestar na gestação ou até antes dela. Mulheres com quadro de depressão prévia ou que passam por dificuldades na gestação – de diversas naturezas – têm mais chance de desenvolver o problema e precisam de ajuda antes de ele se instalar”, alerta a Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).
Segundo ela, as famílias e os obstetras devem ficar atentos ao comportamento das gestantes, que podem indicar a depressão. “A gestação, em geral, é um momento de alegria. Mas, existem mulheres que sofrem com separações, privações financeiras, violência doméstica, doenças, luto e outras situações que causam a depressão. Existem, também, casos em que a depressão não tem um motivo palpável, mas está presente. Então, a mulher deve ser tratada durante a gravidez, para que o quadro não se agrave com o nascimento do bebê”, diz a médica.
Mas, não são apenas as mulheres que sofrem com este mal: os pais também podem passar pela depressão pós-parto, por motivos emocionais variados. As estatísticas sobre o número de homens que tem o problema é muito variável, até porque o diagnóstico da doença é difícil. “Os homens são mais resistentes a procurar um médico e a depressão, no caso deles, dificilmente é ligada ao fato de terem sido pais, mas a fatores paralelos”, explica a Dra. Mariana.
Uma pesquisa publicada no The Journal of American Medical Association, em 2010, mostrou que a DPP masculina acomete 10,4% dos pais, sendo seu ápice entre o 3º e o 6º mês do pós-parto, período no qual sua ocorrência sobe para 25% (disponível em: institutogerar.com.br/wp-content/uploads/2017/02/Iaconelli-V-Artigo-DEPRESS%C3%83O-POS-PARTO-MASCULINA.pdf).
Sinais e sintomas
Os sintomas da depressão pós-parto materno são caracterizados como tristeza, apatia, desalento, insônia ou excesso de sono, alterações no apetite, sentimento de culpa, dificuldade de concentração, ansiedade, entre outros quadros tipicamente depressivos. As causas fisiológicas mais comuns do quadro depressivo pós-parto são as alterações hormonais bruscas que ocorrem com a mulher ou casos apenas emocionais. Pode haver ou não a rejeição ao bebê.
O avanço da doença pode criar um quadro chamado de psicose pós-parto, condição mais susceptível em mulheres com distúrbio bipolar. Os sintomas, que começam geralmente durante as três primeiras semanas do puerpério, incluem desconexão com os familiares e o bebê, confusão mental, mudanças de humor drásticas, alucinações e desejo de fazer mal a outras pessoas, a si mesma e ao bebê.
Quando e como tratar a depressão pós-parto
É comum que as mulheres passem pelo Baby Blues, um sentimento melancólico no período pós-parto, que pode durar poucas semanas. Ele é diferente da depressão pós-parto e não precisa de medicação ou tratamento, porque apenas um desequilíbrio hormonal momentâneo, que o próprio organismo feminino conseguirá solucionar.
Porém, se o quadro evoluir para a depressão pós-parto, é necessário que a mulher passe por uma consulta com seu obstetra, que poderá encaminhá-la ao psiquiatra e psicólogo. A ideia é fazer um acompanhamento multidisciplinar, porque ela pode precisar de medicamentos e terapia. “A depressão pós-parto geralmente é ocasionada por problemas que a mulher carrega consigo. Medos gerados na gestação – como o do abandono, violência doméstica, de problemas financeiros, desemprego, entre outros – , dificuldades de relacionamento, quadros depressivos anteriores à gravidez, morte na família, entre outros aspectos, devem ser investigados, para que os profissionais tenham clara a origem do problema”, comenta a Dra. Mariana.
O tratamento é o mesmo de uma depressão, envolvendo terapia e medicamentos, se necessário. “O suporte familiar é imprescindível, neste momento, porque a mulher é muito julgada e dificilmente consegue dar conta desses sentimentos, sozinha. Se ela tiver uma boa rede de apoio, certamente será mais fácil enfrentar esse difícil momento”, sugere a médica.
Setembro Amarelo é o nome da campanha de prevenção ao suicídio, realizada por meio de uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM). Estima-se que sejam computados mais de 12 mil suicídios no Brasil ao ano – número superior à média mundial.