O Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre (RS), está adotando protocolos com dietas menos rígidas para a realização de exames e cirurgias. A orientação válida para os períodos pré e pós-operatório é resultado do trabalho de uma equipe integrada por cirurgiões, anestesistas, nutricionistas, fisioterapeutas e enfermeiros que, seguindo práticas internacionais, desenvolveu um protocolo com dietas mais flexíveis.
Segundo o Dr. Guilherme Pesce, gestor do Serviço de Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo, o resultado é uma recuperação mais rápida, atenuação da resposta ao estresse da operação e alta precoce, porque o paciente vai para a cirurgia com o organismo mais bem preparado.
Em 2001, o estudo europeu ERAS – Enhanced Recovery After Surgery permitiu líquidos claros (água, chá e sucos sem resíduos) até duas horas antes do procedimento cirúrgico. A ASA – American Society of Anestesiology incluiu nesta lista de líquidos sem resíduos sucos de frutas sem polpa. Em 2005, o ERAS publicou o primeiro consenso de cuidados perioperatórios (antes, durante e após procedimentos) para os pacientes que fossem submetidos à cirurgia no cólon.
O ERAS também aborda outras questões, como redução no tempo de uso de drenos e sondas, deambulação ultraprecoce (saída do leito no mesmo dia da cirurgia), uso racional de antibióticos em cirurgia, otimização da analgesia pós-operatória e informação pré-operatória para o paciente e seus familiares. Essas novas abordagens abriram caminho para que alguns autores brasileiros estudassem a possibilidade de determinadas soluções, como soros e medicamentos, não comprometerem o esvaziamento gástrico – importante para evitar complicações durante a anestesia.
No Hospital Mãe de Deus, esse trabalho começou a ser desenvolvido em 2013. Inicialmente, houve a adoção do acompanhamento nutricional para preparar o paciente para cirurgias de cólon (intestino grosso). Atualmente é aplicado em vários outros procedimentos.
O objetivo é fazer com que o paciente submetido a uma intervenção esteja no seu “melhor momento nutricional”. Ou seja, reverte o quadro nutricional debilitado comum em quem precisa de uma cirurgia ou um exame de maior complexidade, como colonoscopia ou endoscopia. “Trata-se de uma iniciativa que ajuda, inclusive, a reduzir o desconforto e a resistência de pacientes contra a realização destes procedimentos”, comenta o Dr. Pesce.
A realimentação precoce traz potenciais benefícios para os pacientes, tais como menor incidência de complicações infecciosas, menor resistência à insulina e diminuição de custos. Outras vantagens dessa prática são o alívio e o conforto proporcionado aos pacientes por estarem recebendo a dieta mais rapidamente. Como a orientação nutricional se estende ao pós-operatório, favorece a recuperação. Há casos, como cirurgias de esôfago, em que é possível reduzir em dois a três dias o período de internação.
Com a expertise alcançada, o Hospital Mãe de Deus elaborou protocolos para definir a terapia nutricional no pré e pós-operatório que garanta o tempo adequado do jejum para pacientes submetidos às cirurgias oncológicas. Desde 2017, essas práticas mais flexíveis são adotadas pela instituição para cirurgias de trato gastrointestinal, abdominal, de tórax, cabeça e pescoço. Assim, nas recomendações pré-operatórias de jejum, o paciente recebe um formulário com todas as orientações a serem seguidas. A última refeição (com líquido apropriado) poderá ser feita até duas horas antes da cirurgia.
Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 92, de julho/agosto de 2018. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-92-revista-hospitais-brasil