Uma das grandes dificuldades das grandes instituições de saúde no mundo é incorporar soluções inovadoras das healthtechs (startups da saúde) ao seu portfólio de serviços. A principal barreira é técnica: como trocar dados dos pacientes de forma ágil e segura, em uma linguagem que todos os envolvidos possam entender?
Para resolver esse problema, a CTC, uma das 150 maiores empresas de TI do país, lançou neste mês uma plataforma brasileira de integração e interoperabilidade (troca de dados de pacientes) para conectar healthtechs e instituições de saúde, de grandes hospitais e laboratórios a pequenas e médias empresas do setor.
Chamada de Fastcomm, a plataforma coloca, em um mesmo ecossistema digital, todos os players interessados em trocar dados de pacientes. O projeto piloto já conta com 10 healthtechs e 5 hospitais conectados. Até 2023, a meta é impactar mais de 100 instituições de saúde.
“Essa tecnologia surgiu de um problema legitimamente real: pacientes deixam de receber um atendimento de melhor qualidade porque os players de saúde perdem tempo e correm riscos de segurança ao compartilhar dados. Muitas vezes, essas empresas não falam nem a mesma língua ao trocar informações”, afirma Valter Lima, CEO da CTC.
Momento propício
De acordo com Lima, o lançamento da plataforma ocorre em um momento em que healthtechs têm se destacado, em especial devido aos desafios trazidos pela pandemia de Covid-19. Segundo o Startup Scanner, o Brasil tem atualmente 5.387 startups ativas, das quais 548 são healthtechs. De 2019 e 2022, o número delas cresceu 16%, apontou levantamento da Liga Ventures e PWC Brasil.
O estudo “Distrito Healthtech Report 2022”, que mapeia startups de saúde no país, mostrou, ainda, que muitas healthtechs foram criadas recentemente e isso significa que ainda há um grande espaço para desenvolvimento de seus produtos e abordagens de mercado. Mais de 60% delas foram fundadas depois de 2016. E de 2020 para cá, o valor investido no setor representa 72,3% do total investido na última década.
O executivo lembra, ainda, que a interoperabilidade é uma das grandes tendências mundiais em healthcare. “Especialistas de todo o mundo são unânimes em destacar que a troca de dados vai permitir que hospitais, laboratórios e operadoras enxerguem o paciente de forma integrada. Isso significa prever doenças, agilizar atendimentos, oferecer mais segurança para toda a cadeia, reduzir custos do sistema e permitir que os médicos tomem as melhores decisões possíveis.”
Padrão internacional e SUS
Um dos pilares do Fastcomm é o padrão de interoperabilidade utilizado pelo sistema, o HL7 FHIR, escolhido pela RNDS (Rede Nacional de Dados de Saúde, plataforma brasileira de troca de dados em saúde, e já utilizado, por exemplo, já sendo adotado pelo ConecteSUS e abrangendo todos os dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
“Mais do que utilizar um padrão adotado pela RNDS, internacionalmente reconhecido e com a chancela do Instituto HL7 Brasil, o Fastcomm é capaz, ainda, de traduzir os dados de qualquer outro padrão de interoperabilidade. Basta a empresa se conectar ao ecossistema e, sem nenhuma necessidade de adaptação, receberá os dados no formato que preferir”, afirma Lima. “Tudo isso seguindo à risca as regras da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).”
A plataforma será lançada oficialmente neste mês, durante o 11º Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), que será realizado em São Paulo.