Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que o câncer de testículo acomete 5% dos homens, principalmente entre os 15 e 50 anos. Embora corresponda a 1% dos tumores que afeta a população masculina, a doença preocupa porque atinge em geral pessoas sexualmente ativas, causando grande impacto psicológico, emocional e social. Pesquisadores da AFIP – Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa realizaram um estudo nacional para investigar os biomarcadores que contribuem para o diagnóstico e o monitoramento da doença.
O Brasil carece de pesquisas recentes sobre o câncer de testículo que se diferencia dos demais por acometer adultos jovens. Na pesquisa da AFIP, por exemplo, a faixa etária com maior incidência ficou entre os 21 e 45 anos, mas também houve casos de crianças e homens idosos. “As dosagens dos biomarcadores aumentam as chances de sucesso do tratamento porque ajudam na diferenciação dos tumores e no acompanhamento pós-cirúrgico”, explica o biólogo Felipe Silva de Siqueira, supervisor do setor de Inteligência Laboratorial da AFIP Medicina Diagnóstica, que está realizando o estudo sob orientação da Professora Dra. Márcia C Feres. Quando identificado em fase inicial, o câncer tem altos índices de cura.
A AFIP Medicina Diagnóstica é um braço da AFIP, instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, que dá suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à comunidade, com ênfase no serviço público de saúde. A unidade de realiza 70 milhões de exames por ano, sendo o maior laboratório de análises clínicas da rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS). Paralelamente, promove estudos, alguns focados na saúde do homem, como pesquisas para a validação de um novo marcador de câncer de próstata, o p2PSA, e a alta incidência de papilomavírus humano (HPV) em homens.
Câncer de testículo
Os testículos têm a função de produzir espermatozoides e testosterona, o hormônio responsável pelas características sexuais masculinas. O sintoma mais comum do câncer de testículo é o surgimento de um nódulo duro, que pode ser seguido de endurecimento, aumento ou redução do tamanho dos testículos, dor abaixo do abdômen, sangue na urina e sensibilidade nos mamilos. O aparecimento desses sinais demanda uma consulta ao urologista, que pode fazer o encaminhamento para o oncologista.
O tratamento do câncer envolve inicialmente cirurgia para a retirada unilateral do testículo ou bilateral por decisão do médico e do paciente. A função sexual ou reprodutiva é preservada na cirurgia unilateral, desde que o outro testículo esteja saudável. O tratamento posterior inclui radioterapia, quimioterapia ou controle clínico.
O autoexame regular, o checkup periódico e a identificação dos sintomas nos adultos jovens podem propiciar o diagnóstico precoce do câncer de testículo. “Por causa do preconceito que envolve os exames, muitos homens são diagnosticados quando a doença já está em estágios mais avançados, o que leva ao aumento da mortalidade”, lamenta a biomédica Márcia C. Feres.
Pessoas com histórico familiar deste tumor, infertilidade, história prévia de testículo contralateral (fora do escroto), criptorquidia (não descida na infância de um ou dois testículos para a bolsa escrotal) e pessoas que trabalham em locais com desenvolvimento industrial elevado possuem risco aumentado para a enfermidade.
Pesquisa da AFIP
Mais de 95% dos casos de tumores de testículos derivam de células germinativas, que dão origem aos espermatozoides. Esses tumores se dividem em dois grandes grupos: seminomatosos e não seminomatosos. O primeiro apresenta menor agressividade e incide em homens de 20 a 35 anos. Um subtipo, conhecido por espermatocítico, atinge homens com 60 anos ou mais, tendo uma evolução favorável.
Já os tumores não seminomatosos são mais agressivos e se dividem em quatro subtipos: carcinoma embrionário, coriocarcinoma, teratocarcinoma e teratoma. O primeiro representa cerca de 20% dos tumores de células germinativas do testículo em jovens, tem alta malignidade e cresce de forma rápida com metástases precoce. O último incide em até 10% dos jovens e 40% das crianças.
O estudo da AFIP envolveu aproximadamente mil amostras de anátomo patológica de testículos analisadas ao longo de dois anos. Deste total, cerca de 13% foram diagnosticados para câncer. Mais da metade com resultado positivo para a doença apresentava três marcadores tumorais: alfafetoproteína (AFP), gonatotrofina coriônica humana (b-HCG) e desidrogenase láctica (DHL).
Os biomarcadores b-HCG e AFP contribuem para a identificação do tumor. Altos níveis de b-HCG na corrente sanguínea demonstram que o câncer se originou em uma célula germinativa. No caso, no testículo. Ao apresentar uma alteração, o biomarcador AFP indica a origem da célula tumoral, mostrando se está ou não enquadrada na categoria seminomatosa. Já o DHL ajuda a avaliar o estágio do câncer, tanto no pré como no pós-operatório.