Em 25 de novembro a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), em parceria com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM) e a Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar (ABIH) promoveram a último ciclo de palestras do Encontro de Sociedades Médicas. O evento, transmitido via web, teve o macrotema ‘AMS TALKS – Semana mundial da conscientização do uso de antimicrobianos – Uso consciente de antimicrobianos na prática clínica’.
Apoiado pela empresa bioMérieux Brasil, o evento teve a moderação da Dra. Viviane Carvalho Dias, especialista em Infectologia e presidente da ABIH. Na apresentação ‘Uso racional de antibiótico e resistência bacteriana’, a Dra. Silvia Figueiredo Costa, médica Infectologista e vice-presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), falou que foi possível ver, na pandemia, que a comunidade científica conseguiu se unir para resolver necessidades urgentes para o diagnóstico, tratamento e desenvolvimento de vacinas, e que este esforço deve ser aplicado para as questões de resistência bacteriana; neste momento, ela apresentou dados de estudos acerca de tratamentos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de países, como a China, França e Brasil.
Segundo a especialista, “devemos ter laboratórios com testes de sensibilidade acurados, se possível, testes rápidos que detectem genes de resistência, interação importante de transmissão de valor crítico e dosagem sérica de antibióticos. Com isso, haverá um impacto importante na condução e manejo clínico dos pacientes e na contenção da resistência”.
A infectologista disse que a Organização Mundial de Saúde (OMS) salienta que a educação seria a maneira mais fácil para a discussão do uso consciente de antimicrobianos, por meio de guias para usar nos hospitais, formulários, prontuários eletrônicos, além da parte estrutural com testes rápidos, monitoração de níveis séricos, entre outros.
O Dr. Alberto Chebabo, gerente de Relacionamento Médico da DASA e vice-presidente da SBI, palestrou sobre ‘Ferramentas diagnósticas para seleção adequada de antimicrobianos’.
Em relação à detecção de resistência, os testes de sensibilidade são bastante usados. Porém, de forma geral, eles são pouco úteis, considerando que podem levar até quatro dias para ter um resultado definitivo.
Há metodologias que ajudam, principalmente, detectando a presença ou não de mecanismos de resistência. “Não é um teste de sensibilidade completo, mas nos direciona que medicamento se pode ou não usar”, explica.
Existem os métodos fenotípicos, que incluem basicamente os testes bioquímicos. “A vantagem deles é o menor custo e as desvantagens são que os resultados são mais demorados do que os métodos genotípicos. Além disso, alguns não conseguem diferenciar os distintos mecanismos de resistência”.
Com relação aos métodos genotípicos, “as vantagens são os resultados muito rápidos, alguns em torno de 1h; eles são Point of Care, ou seja, não é preciso ter um laboratório de Biologia Molecular dentro do laboratório hospitalar; tem maior especificidade e discriminam o mecanismo de resistência. A desvantagem é o custo elevado”.
O Dr. Alexandre Lima Rodrigues da Cunha, membro do Comitê de Paciente em UTI da Sociedade Brasileira de Infectologia e consultor Médico do Laboratório Sabin, discorreu sobre os “Tratamentos antimicrobianos curtos – evidências recentes”. Primeiramente, é necessário entender o quadro clínico do paciente.
De acordo com o médico, o uso de antimicrobianos em geral é feito por períodos muito maiores do que é o suficiente para o tratamento dos pacientes e podem ter consequências graves, como a seleção de microrganismos resistentes, efeitos colaterais aos pacientes e aumento de custos.
“Estudos comprovam que para o tratamento de pielonefrites não há benefícios em utilizar além de sete dias de antimicrobianos, exceto em situações excepcionais, como quando há obstruções ou abcessos nos quais devem ser solicitados exames de imagem e, às vezes, é necessário prolongar o uso do antibiótico”.
O especialista explica que nas infecções de corrente sanguínea é possível tratar os pacientes por poucos dias, muitas vezes com a ajuda de biomarcadores, como a Proteína C Reativa e Procalcitonina. Observando a clínica do paciente é possível suspender a terapia entre cinco e sete 7 dias, desde que o paciente esteja afebril e com normalização dos marcadores.
“No caso das pneumonias, sejam as comunitárias ou as relacionadas a ventilação mecânica, os guidelines apontam para tempos curtos de tratamentos, em geral entre cinco e sete dias independentemente do agente, sendo tratamentos prolongados considerados exceções devendo ser aval individualmente os casos de extensão da terapia. É sempre necessária a avaliação individualizada do paciente, a fim de determinar quem pode se beneficiar de tempos prolongados do uso de antimicrobiano, sendo que a maioria irá se beneficiar de tempos mais curtos, o que possibilitará a alta mais precoce, a diminuição de custos e a diminuição de resistência bacteriana”, conclui.
Semana mundial da conscientização do uso de antimicrobianos – Impacto da Covid-19 nos perfis de resistência antibacteriana e na conduta clínica
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), em parceria com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar (ABIH), promoveram, no dia 23 de novembro, o Encontro de Sociedades Médicas. O evento online, apoiado pela empresa bioMérieux Brasil, teve o macrotema ‘AMS TALKS – Semana mundial da conscientização do uso de antimicrobianos – Impacto da Covid-19 nos perfis de resistência antibacteriana e na conduta clínica’, e contou com a moderação do médico Patologista Clínico responsável pelo setor de Microbiologia do Fleury Medicina e Saúde, Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio.
A PhD, MsC em Biotecnologia e Saúde – Fiocruz –B, Dra. Maria Goreth Barberino falou sobre aspectos laboratoriais. Segundo a especialista, a resistência é uma grande ameaça a saúde global. A percepção atual é que se trata de um problema decorrente do uso indiscriminado de antibiótico. Há um aumento alarmante em bactéria MDR (Multidrug-resistant).
A consequência da resistência microbiana impacta no tempo de interação, aumento de custo de tratamento e aumento da taxa de morbidade e mortalidade do paciente. Presume-se se que centenas de mortes ocorram por isso e a estimativa para 2050 é que ocorram 10 milhões de óbitos.
Resistência na era Covid-19: o aumento no uso de antibióticos é inegável no mundo todo, houve excesso da demanda nas unidades de saúde, diminuição do controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), falta de treinamento de novos profissionais, excesso de uso de desinfetantes impactando no meio ambiente e em animais.
Por que se usou tanto antibiótico? “Ao lidar com uma pandemia de origem zoonótica que atingiu a humanidade, com uma sensação de insegurança e na ausência de soluções comprovadas e imediatas, existiu a tentativa de redirecionar os antimicrobianos de nosso arsenal, bem como de recorrer à inovação e isso foi incompreensível inicialmente”, explica.
Sobre os testes, existem diversos eficazes. A vantagem dos testes rápidos é a decisão rápida do tratamento. A médica Infectologista Dra. Ana Verena Almeida Mendes, falou sobre aspectos clínicos. Acerca do impacto da Covid-19 na conduta clínica, ela explicou que na pandemia houve o aumento de microrganismos MDR.
A médica ressaltou diversos pontos abordados pela Dra. Maria e salientou que a perspectiva é que “muitas tecnologias microbiológicas, como a ressonância, são incríveis, mas diversos hospitais sequer têm uma bancada automatizada de microbiologia”.
As hospitalizações prolongadas e as taxas de moralidade altas, o fardo econômico, a limitação de planos de saúde emergente, ente outros pontos, agravaram a situação desde a Política Global de Prevenção de Resistência Bacteriana feita em 2015.
Sobre os fatores de risco, a especialista destacou o tempo prolongado na UTI, o uso indiscriminado de antimicrobianos, o uso de corticoides e imunomoduladores, dispositivos invasivos, manobras ventilatórias – VNI/Pronação, entre outras, isolamento, colonização intestinal, uso excessivo de antissépticos e desinfetantes e restrição de recursos.