Levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a partir de dados do Ministério da Saúde, apontou elevação de 45,7% de mulheres vitimadas pelo suicídio, entre 2009 e 2018. Paralelamente, observou-se que entre a população masculina, a escalada foi de 33%. Ao todo, mais de 12 mil pessoas têm tirado a própria vida, todos os anos. Trata-se de uma perda a cada 45 minutos. A entidade aponta que o suicídio tem se consolidado como um problema de saúde pública, no Brasil. Outro dado alarmante diz respeito a profissionais de saúde, sobretudo do gênero feminino. Estatísticas internacionais apontam que médicos apresentam maior risco de tomarem essa medida extrema, em comparação à população não médica.
O suicídio pode ser compreendido como um fenômeno multicausal gerado por um severo estado de sofrimento psíquico, comumente associado a quadros de depressão. Psicólogos e psiquiatras destacam que entre os sinais de alerta potencialmente associados à tendências suicidas figuram a diminuição do autocuidado; isolamento social; mudança repentina de humor; abuso de álcool, cigarro e outras drogas; e automutilação. Muitas vezes, esta última característica pode não estar ligada à ideias para tirar a própria vida, mas indicam um quadro de sofrimento psíquico.
Em meio a esses fatores, carecem ainda mais atenção às pessoas entre 14 e 24 anos, que integram algum grupo ou situação de vulnerabilidade ou que apresentem desesperança e falta de perspectivas de futuro.
Porta de entrada de muitas mulheres ao serviço de saúde, a ginecologia e obstetrícia têm se firmado como grande colaboradora na identificação de pacientes com sinais ligados às doenças mentais ou dores de impacto psicológico.
Impacto na população médica
Segundo o psiquiatra Dr. Leonardo Sérvio Luz, docente da Universidade Federal do Piauí, ainda há pouca literatura sobre a incidência de suicídio entre profissionais de saúde. Contudo, ele aponta que estudos americanos e europeus indicam risco 1,4 vezes maior entre profissionais homens e 2,3 vezes mais elevadas entre as colegas mulheres, em comparação à população geral.
“Além do esgotamento por questões profissionais e o estresse inerente ao exercício da medicina, devemos lembrar que as mulheres têm uma sobrecarga por jornadas múltiplas de trabalho. Principalmente, as que têm filhos hoje dentro de casa, sem poder ir à escola, em função da pandemia. Além das elevadas cargas conhecidas, sobrepõem-se as oriundas desse atual momento de saúde”, comenta a ginecologista Dra. Maria Celeste Wender, Diretora de Defesa e Valorização Profissional da Febrasgo.
Fatores como depressão, síndrome de burnout (esgotamento decorrente do trabalho), baixa qualidade de vida, lazer e convívio social reduzidos, diminuição da atividade física figuram entre as causas que têm levado médicos e médicas a decisões extremas contra si.