Formulação com substâncias da cannabis medicinal é alternativa para tratamento da insônia

O medo e as incertezas provocadas pela pandemia contribuíram para o aumento dos quadros de ansiedade e depressão na população brasileira e a incidência de problemas relacionados ao sono. A pesquisa publicada na Sleep Epidemiology registra distúrbios como dificuldade para dormir, duração insuficiente do sono, irregularidades dos estados do sono (leve, profundo e REM) e outros fatores. Conforme o estudo, as mulheres têm 10% mais chances de sofrer com o transtorno do que os homens.

Segundo o médico psiquiatra Eduardo Aliende Perin, membro fundador da Associação Panamericana de Medicina Canabinoide, a insônia é uma das principais queixas dos pacientes que chegam ao seu consultório. “Muitos desses pacientes começam o tratamento com médicos generalistas, que prescrevem já na primeira consulta benzodiazepínicos ou as chamadas drogas Z, que causam forte dependência e efeitos colaterais”, afirma. “A cannabis medicinal surge como alternativa para o tratamento da insônia e para livrar os pacientes da dependência desses fármacos”, explica o médico.

De acordo com Perin, a medicina canábica vive hoje um segundo momento, de aprofundamento da pesquisa e desenvolvimento de fórmulas mais sofisticadas, destinadas a tratamentos específicos. “São mais de 140 canabinoides identificados na planta”, diz. “No caso da insônia, já contamos com uma formulação inédita no mercado, que não possui THC. Isso é importante porque, para determinados pacientes, o THC pode trazer alguns riscos, como aumento de ansiedade”.

O neurologista Flávio Henrique Rezende da Costa, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Health Meds, indústria farmacêutica especializada em fitocanabinoides, faz parte desse movimento de pesquisa aprofundada com os chamados “canabinoides menores”. Ele é um dos responsáveis pela formulação do Hypnos, primeiro produto à base de cannabis medicinal totalmente focado na insônia.

“No desenvolvimento do Hypnos, utilizamos três canabinoides menores com efeito sedativo: o canabigerol (CBG), o canabinol (CBN) e o canabicromeno (CBC), todos sem psicoatividade”, explica. “Dessa forma, o medicamento é mais tolerável e tem baixíssimas chances de causar dependência ou efeitos colaterais.”

O neurologista Gabriel Micheli, gerente médico da Health Meds, conta que o medicamento também inclui terpenos, substâncias que incorporam ao produto odor e sabor de frutas e vegetais. “Eles criam uma ação sinérgica na composição, o chamado ‘efeito entourage’, que potencializa o poder sedativo dos canabinoides. O Hypnos é o produto com a maior concentração de terpenos do mercado, 2,5%”.

Micheli destaca que a fórmula do medicamento utiliza esses terpenos são extraídos da própria planta da cannabis. São eles os sedativos limoneno, linalol e o mirceno, o mais potente de todos. Também conta com o alfapineno, terpeno cuja ação é inibir a sonolência no dia seguinte ao uso do produto, motivo de queixa comum de muitos pacientes que tomam drogas tradicionais contra a insônia.

Entenda os Canabinoides

Os canabinoides possuem mais de 480 substâncias químicas, sendo que 150 destes compostos, denominados fitocanabinoides, são os mais estudados, como o THC (Tetrahidrocanabinol), o CBD (Canabidiol) e o CBG (Canabigerol). Eles são capazes de ativar receptores canabinoides (CB1 e CB2) em diversos tecidos dos nervos periféricos, Sistema Nervoso Central (SNC) e sistema imunológico. Esse funcionamento complexo é responsável por uma série de funções fisiológicas, incluindo a memória, o humor, o controle motor, o comportamento alimentar, o sono, a imunidade e a dor.

Com base em estudos variados em fase II, fase III ou observacionais, as principais indicações para o uso de produtos de cannabis são ansiedade, demência com agitação, distúrbios do sono secundários a doença neurológica, doença de Parkinson (sintomas não-motores), dor crônica, epilepsia farmacorresistente, esclerose múltipla (sintomas urinários, dores, espasticidade), esquizofrenia, síndrome de estresse pós-traumático e Síndrome de Tourette.

Redação

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