Médicos e parceiros da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) voltam a realizar ações de busca ativa de casos de hanseníase no país dentro do projeto Hansen Pará-Maranhão-VALE, neste momento ocorrendo em Imperatriz (MA).
A primeira iniciativa realizada desde o início da pandemia, em 2020, foi entre 6 e 10 de junho, no interior do Maranhão. Os especialistas visitaram casas de pessoas atingidas pela hanseníase e examinaram as famílias, coletando material e registrando casos.
Coordenado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e financiado pela companhia VALE, o projeto, que conta com profissionais parceiros da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade CEUMA/Maranhão, CRNDS-Hansen-Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão e Colorado State University, ocorrerá também em Marituba (Pará) e São Luís (Maranhão), com previsão de término em 2024.
A SBH prioriza regiões brasileiras de alta endemicidade para a hanseníase, mas o presidente da entidade, médico dermatologista e hansenólogo Claudio Salgado, alerta que a doença está por todo o Brasil. “Há uma endemia oculta da doença e a estimativa é que o país tenha de três a cinco vezes mais pacientes de hanseníase do que apontam os números oficiais. Por isso, a preocupação não pode ficar restrita aos municípios ou países que diagnosticam muitos casos. O problema ocorre também nas regiões sem registro ou que registram pouco”, declara.
A hanseníase é transmitida por um bacilo e não escolhe idade, condição socioeconômica ou regiões. Porém, a transmissão de pessoa doente para um contato saudável se dá com mais facilidade entre populações que sofrem condições precárias de aglomerados humanos.
O médico Marco Andrey Cipriani Frade, coordenador do CRNDS-Hansen, lembra que “em um país como o Brasil, a doença está presente em todas as classes sociais e um exemplo que pode ser replicado para todas as regiões brasileiras é o fato de Ribeirão Preto se apresentar como o município com mais casos de hanseníase no Estado de São Paulo”. Segundo ele, o município vem capacitando os profissionais da atenção primária à saúde e isso é condição essencial para elevar o número de diagnósticos.
Quebrando a cadeia de transmissão
De acordo com dados da SBH, nas localidades em que os serviços de saúde estão capacitados há um aumento de casos no primeiro momento. “O esclarecimento da população e o aumento do diagnóstico são condições essenciais para a quebra da cadeia de transmissão do bacilo e, consequentemente, o controle da doença”, explica Frade.
Em três dias, a equipe de 17 profissionais do projeto Hansen Pará-Maranhão-VALE avaliou 112 contatos e detectou 23 (20,5%) casos novos, além de quatro recidivas entre os casos índices examinados. Dos 23 casos novos, 10 (43,4%) tinham grau 1; 2 (8,7%) foram detectados com grau 2 de incapacidade física. Adicionalmente, em duas escolas foram examinados 65 estudantes e detectados 9 (13,8%) casos novos – nenhum deles com grau 2 – e 3 (33,3%) com grau 1 de incapacidade física.
A SBH entende que a pandemia de Covid-19 agravou o quadro delicado de anos de dificuldades no diagnóstico da hanseníase no Brasil e no mundo, mas reitera que a situação já era ruim antes e que esforços de todas as esferas de governo são necessários para reverter a situação atual de uma enorme endemia oculta, porém facilmente identificada em situações como esta.