Mais de 60 conferências e oito debates, com participação de 35 painelistas internacionais e um conteúdo alinhado às melhores práticas, produtos e serviços de digital healthcare no mundo. Esse é o HIMSS@Hospitalar – International Digital Healthcare Forum, uma parceria com o HIMSS dos Estados Unidos (Healthcare Information and Management Systems Society), que acontecerá de 22 a 25 de maio, das 9h às 14h30, no Expo Center Norte, em São Paulo (SP). O evento é promovido pela UBM Brazil durante a edição de 2018 da feira Hospitalar.
Com o tema “eHealth. 18 – Centralize Data & Decentralize Care”, o evento contará com 8 verticais de conteúdo:
1 – Innovation Solutions for Hospital Chain
2 – Venture Capital Supporting eHealth Revolution
3 – TeleHealth Connected Care
4 – Consumerization of Healthcare
5 – Privacy & Security of Healthcare Data
6 – eHealth Interoperability Challengers
7 – EHR, Artificial Intelligence and Cognitive Computing
8 – Pharma Demand-driven
O tema vai de encontro aos desafios enfrentados pelas organizações de saúde: centralização de dados e descentralização do cuidado. “O universo da saúde centrado em dados possibilita a descentralização do atendimento. Não importa com quem ou onde está a informação, você poderá receber cuidado em qualquer lugar do mundo. Estamos falando, inclusive, em teleconsulta e vídeo orientação, um formato que entrará este ano no Brasil. Daqui a uma década, cerca de 20% a 25% de todo o atendimento no Brasil será feito remotamente”, prevê o coordenador do HIMSS@Hospitalar, Guilherme Hummel.
Vem aí uma transformação de larga escala na comunidade médica: mudam as formas de pagamento, remuneração, prescrição, consumo e, principalmente, relacionamento entre médico e paciente. “É possível se comunicar com o médico via WhatsApp, por exemplo, para informar um desconforto. Nós, usuários, já praticamos telemedicina com Google, YouTube, participando de comunidades de uma patologia nas redes sociais, assistindo a um programa de TV. O atendimento presencial sempre irá existir, mas diminuirá. Somos testemunhas de um novo tempo”.
Confira abaixo o conteúdo que será apresentado nas oito verticais temáticas do HIMSS@Hospitalar:
Vertical 1 – Innovation Solutions for Hospital Chain
Essa vertical mostra o impacto causado pelas tecnologias emergentes nos hospitais públicos e privados. “O que faremos com 7.000 hospitais no Brasil com baixa tecnologia? Esta é uma pergunta que abordaremos no HIMSS@Hospitalar, onde discutiremos tecnologicamente o papel do hospital. É possível eliminar uma consulta médica presencial e desafogar o sistema se tivermos a tecnologia certa envolvida no processo. Se houver um prontuário eletrônico, melhora a gestão clínica e organizacional, o estoque, entre outros. Mas, o que significa centralizar os dados?”, pergunta Hummel.
De acordo com o coordenador científico, outro problema que o sistema de saúde enfrenta é referente ao segundo diagnóstico. “Poucos ou nenhum hospital (ou Plano de Saúde) o faz formalmente. E quando faz, não é adequado. Cerca de 15% a 20% dos sinistros são porque não foi feito o segundo diagnóstico como se deveria. É possível comparar bases de dados utilizando algoritmos, avaliar casos semelhantes, os mesmos sintomas dos e pacientes que tomaram a mesma medicação, por exemplo, e tomar decisões sobre o melhor diagnóstico. Até o final da próxima década, todo segundo diagnóstico no Ocidente, será feito por máquinas (machine learning). Serão utilizados novos modelos de triagem. O dado clínico passa a ter valor efetivo na tomada de decisão. Essa é a grande discussão que estamos trazendo para os hospitais”.
Vertical 2 – Venture Capital Supporting eHealth Revolution
Hoje, os Healthcare moonshots são os desbravadores que fazem a diferença no universo de eHealth. Segundo a RockHealth, só no primeiro semestre de 2017, US$ 3,5 bilhões foram investidos em 188 empresas de digital health (EUA), estabelecendo um recorde no número de empresas financiadas e no valor total investido. Essa vertical do HIMSS@Hospitalar expõe os obstáculos e as oportunidades de Venture Capital para o mercado nacional de saúde.
Na avaliação do coordenador, existem baixos mecanismos institucionais de fomento no Brasil, seja de serviços ou produtos de Saúde. “Grande parte da busca pela inovação reflete essa dificuldade. Há uma timidez dos investidores, bancos, mercado aberto financeiro. Naturalmente isso cai na mão do Venture Capital, que é muito mais afinado com o risco”.
O Venture Capital veio reduzir o tempo entre as relações de trocas tecnológicas. “É o que chamo de Technology Exchange, ou seja, a troca de tecnologia entre um mercado provedor com um mercado consumidor, que há décadas ocorre no Brasil sem dinheiro de risco envolvido. Isso está mudando. Hoje uma empresa global (mesmo pequena) interessada no Brasil pode se associar a um player local, tendo o fundo como investidor (garantido menor risco e maior atratividade). O fundo vem para ocupar esse espaço. Algumas empresas nacionais de tecnologia, que começaram pequenas, estão sendo compradas por fundos internacionais ou estão entrando na bolsa em mercados internacionais com grande sucesso”.
Vertical 3 – TeleHealth Connected Care
A Federal Communications Commission dos Estados Unidos estima que, ao longo de 25 anos, soluções de Remote Patient Monitoring (RMT) poderão economizar US$ 197 bilhões para aquele país em apenas três áreas: doença pulmonar, diabetes e doença cardíaca. Isso mostra a importância das aplicações de TeleHealth & Connected Care. Trata-se de um dos mercados que mais cresce no mundo e que está atrasado no Brasil.
“O mundo ocidental ensinou que as possibilidades do atendimento remoto são muito produtivas e redutoras de custeio. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina tem uma política refratária a esse posicionamento desde 2011. Isso também está mudando. O CFM deve estar ainda este ano flexibilizando a regulação, tornando a teleorientação mais clara e menos ambígua. Já existem hoje mais de 50 empresas no Brasil oferecendo consulta remota”, afirma Hummel.
Baseado nesse novo cenário, muda o eixo gravitacional da assistência médica no mundo, bem como a sua a forma de remuneração, a relação do médico com a cadeia de saúde e com o paciente, a forma da academia ensinar aos futuros profissionais e do Estado se comunicar com a comunidade.
Vertical 4 – Consumerization of Healthcare
O indivíduo que nasceu no universo digital espera por serviços personalizados e acessíveis a qualquer hora e lugar, moldado ao conceito de “consumidor”. Uma de suas características é o estilo de vida mais saudável. Para isso, baixam aplicativos que auxiliam no cuidado com a saúde e pesquisam para encontrar planos de saúde, laboratórios mais convenientes ou hospitais menos arriscados. Utilizam wearables, mHealth apps, care sensors e farão uso de vídeo-consultas com regularidade. A indústria de produtos e serviços médicos já descobriu esse indivíduo. É um caminho inevitável e um dos mercados que mais cresce.
“OS EUA já estão assistindo isso. E agora a França começa a ser inserida nesse cenário. O healthcare consumerization cresce de maneira assustadora. Os sensores são fáceis de serem adquiridos na Ásia ou nos mercados de primeiro mundo. É impossível não criar uma avalanche nessa direção. Veja o exemplo do mundo fitness. Quando surgiu foi um boom, mas o consumidor não sabia muito bem o que fazer com tanta informação. Foi uma a oportunidade para a cadeia médica se aproximar do paciente e orientá-lo”, diz o coordenador do HIMSS@Hospitalar.
Guilherme complementa que a primeira tendência do consumerization foi ofertar dispositivos para serem consumidos pelas classes A e B da sociedade moderna. “A segunda onda, que ainda está começando, é quando esses aplicativos de mobile health vêm turbinados com algoritmos de inteligência artificial e podem apoiar os profissionais na decisão clínica sobre o paciente. Já a terceira geração será brutal e não acontecerá em menos de duas décadas. Será a incrustação de sensores clínicos no corpo dos indivíduos. O recém-nascido já poderá receber um sensor capaz de monitorar os seus sinais vitais e colher tecido para biotecnologia. Tudo isso já existe, mas ainda não é de domínio do consumo comercial”.
Vertical 5 – Privacy & Security of Healthcare Data
De janeiro a junho de 2017, 233 incidentes de violação foram reportados ao Departamento de Saúde dos EUA. A segurança cibernética passou a ser item prioritário em hospitais, Secretarias de Saúde e ambientes clínicos em geral, com implantação de planos de prevenção contra a cyber-ataques, medidas de segurança em Cloud Computing, programas de proteção à privacidade dos pacientes, entre outros métodos.
“Esse é um mundo subterrâneo, com pouca divulgação. Mas, os ataques estão acontecendo diariamente, principalmente na área da saúde. Há duplicação do número de ciberataques a cada seis meses. Temos um déficit de resistência aos cybers ataques enorme no Brasil. Nossos equipamentos e sistemas operacionais são antigos, ideais para os hackers. Um exemplo foi o que aconteceu no ano passado com o WannaCry, que explorou uma brecha do Windows XP, que permitiu executar código remotamente por meio do SMB, protocolo de compartilhamento de arquivos. No Brasil, estima-se que 20% a 25% dos hospitais ainda utilizam XP. O grau de vulnerabilidade é muito alto e preocupante”, aponta Hummel.
Ainda não há maturidade dos gestores em relação a esse cenário. “É um ponto crucial na gestão hospitalar. Há timidez na hora de investir em segurança. O mais alarmante é que as transformações na consciência dos gestores virá do caos, com muita destruição de bases de informação clínica e muita quebra de hospitais. Foi assim que aconteceu com os bancos”, relembra Guilherme, que acrescenta que o problema é tão grave que deveria ser de responsabilidade do presidente do conselho das companhias. “Tem que ter impacto no bolso do stakeholder. O próprio Estado está vulnerável a esses ciberataques. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma nota dizendo que o e-SUS também foi violado”.
Vertical 6 – eHealth Interoperability Challengers
Os problemas de interoperabilidade na saúde não são novos e os avanços ainda não são suficientes. O tema exige a cooperação de todas as partes envolvidas, regras de anuência e governança, além de estímulos ganha-ganha para a construção de acordos comerciais. O assunto ainda requer a adoção de mecanismos de segurança e privacidade. Apesar da utilização cada vez maior de Electronic Health Records (EHRs), boa parte das informações clínicas continuam dispersas, não integradas e não são facilmente acessadas.
O curador do HIMSS@Hospitalar aponta que, no Brasil, cerca de 60% a 70% dos sistemas de informação hospitalares são desenvolvidos internamente. “Isso gera uma grande longevidade das tecnologias, em geral todas ultrapassadas. Portanto, é difícil integrar o novo com o velho. Quando estamos unindo pessoas, empresas, negócios, chamamos de integração. Envolvendo sistemas, é interoperabilidade, pois a informação circula o tempo todo, e isso requer maturidade da plataforma. Uma interoperabilidade eficiente é um sonho distante”.
Segundo Hummel, o Blockchain, tecnologia de descentralização da informação que é utilizada no Bitcoin, vem mostrando bons resultados para facilitar a interoperabilidade em ambiente de nuvem. “Está sendo chamada de healthchain, e teremos palestrantes no HIMSS@Hospitalar sobre isso. É cedo para dizer que é uma solução, mas é uma grande ambição fazer com que ela reduza os problemas de interoperabilidade”.
Vertical 7 – EHR, Artificial Intelligence and Cognitive Computing
Nos últimos 10 anos, a porcentagem de hospitais e clínicas nos EUA que utilizam algum tipo de EHR (Eletronic Health Record) cresceu de 30% para mais de 90%. Com isso, explodiram as aplicações de Big Data, Artificial Intelligence e Cognitive Computing. “Os EUA são os primeiros em praticamente tudo. Possuem uma força comercial gigantesca e um ecossistema para colocar rapidamente no mercado qualquer inovação. A Food and Drug Administration (FDA) é menos burocrático e coloca a empresa como a grande responsável se houver falha, com pena de cadeia inafiançável”, explica Hummel.
Em breve, os médicos irão interagir com seus EHRs em um novo nível, ditando notas enquanto recebem informações em tempo real, orientando-se pelas opções de exames e tratamentos, relatórios e diversos tipos de análises. A computação cognitiva veio para complementar o EHRs, sendo possível pesquisar e analisar dados não estruturados, como diários de médicos, para buscar padrões e tendências que possam impactar os diagnósticos. Com isso, o profissional poderá se concentrar mais na interação humana e elevar o grau de atendimento.
Vertical 8 – Pharma Demand-driven
A competição na indústria farmacêutica aumentou, as pesquisas evoluíram e as tecnologias chegam de todos os lados para pressionar a manufatura. Muita inovação vem com o uso de aplicações de Artificial Intelligence, Big Data Analytics, Cognitive Computing, entre outras. Segundo o coordenador do HIMSS@Hospitalar, até cinco anos atrás, a indústria farmacêutica, que cresce de 12% a 13% ao ano, fez pouco para avançar nesse aspecto. “Isso vem mudando com os novos entrantes: as empresas de biotecnologia, genéricos, dispositivos médicos, biosensores e nanosensores, que são capazes de entregar a droga muito mais facilmente para o paciente. Grande parte do lucro está migrando de mãos. Por causa disso, a compra de empresas de tecnologias pelo setor farmacêutico teve um boom nos últimos anos”.
Nesse cenário, aumentou a atenção ao medicamento depois que sai da indústria e vai para o mercado, com ferramentas de monitoramento, rastreamento e coleta de dados que ajudam o setor a reduzir custos e melhorar a eficiência logística. Tecnologias como o Big Data e Blockchain vieram para auxiliar nesse processo”, finaliza o coordenador do HIMSS@Hospitalar.