Quando Guilherme Kushida, de 32 anos, deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz com quadro de falta de ar e vômito, acreditava que havia sido contaminado pelo SARS-CoV-2. Mas, os primeiros exames já mostraram que o quadro era um pouco diferente e que seu coração estava inchado, com um tamanho maior do que o normal.
O ecocardiograma e a biópsia constataram a dilatação do músculo cardíaco, sem causa determinada, e o paciente recebeu o diagnóstico de miocardiopatia idiopática, doença que provoca o enfraquecimento da sua força de contração e piora a circulação sanguínea, derivando para complicações, como arritmias, coágulos, quedas de pressão e edemas pulmonares.
A doença interfere principalmente no ventrículo esquerdo, importante câmara de bombeamento do coração. “É essa a área responsável por mandar o sangue para o corpo e, conforme o nível de comprometimento, o dano pode ser irreversível a ponto de o paciente precisar de um transplante, como no caso do Guilherme”, explica o Dr. Rafael Otto Schneidewind, cirurgião cardiovascular e um dos líderes das equipes de transplantes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
A Instituição retomou a realização desse tipo de procedimento e, nos últimos oito meses, fez três transplantes cardíacos em pacientes com quadros extremamente graves. Atualmente, a equipe é composta por dez pessoas, entre cirurgiões, equipe assistencial e de captação de órgãos. O transplante de coração consiste na substituição do coração por outro, vindo de um indivíduo que esteja com morte cerebral, que não possua doença e alterações cardíacas e que seja compatível com o do paciente que tem um problema cardíaco potencialmente fatal.
Segundo o médico responsável pelo transplante de Kushida, o paciente apresentava uma insuficiência cardíaca grave, com muita falta de ar e cansaço e um comprometimento de 70% das funções do coração. Se não fosse diagnosticado a
tempo, poderia evoluir para um choque cardiogênico grave, com risco de morte súbita. Kushida ficou cerca de 120 dias na UTI e nesse período pré-transplante, fez uso de drogas vasoativas e de balão intra-aórtico (dispositivo de assistência circulatória mecânica) para manter o funcionamento do coração. Normalmente o equipamento é usado por, no máximo 15 dias.
“Foi uma surpresa para mim, pois eu não apresentava nenhum problema de saúde. Inclusive era adepto de caminhadas e fazia academia e trilhas”, explica o paciente que ganhou força extra para enfrentar a doença com as três visitas de sua gata Mel. “Estar com ela e o apoio da família com as videochamadas foram fundamentais para suportar a internação e esperar por um novo coração. Isso sem falar do carinho da equipe assistencial. Ganhei novos amigos, adorava receber visita e a atenção deles.” A realização da visita PET faz parte das ações de humanização do Modelo Assistencial Hospital Alemão Oswaldo Cruz®, que coloca o paciente e o familiar no centro do cuidado.
Realidade Aumentada no planejamento cirúrgico
Com duração de cinco horas, o transplante foi realizado com a técnica tradicional bicaval e após a cirurgia, a equipe médica usou a realidade aumentada para avaliação do coração transplantado. Por meio desta tecnologia de ponta, os exames de imagem são sobrepostos em cenários reais e permitem a visualizado do órgão em 3D. O recurso oferece ao médico um detalhamento maior da cavidade do coração.
O software desenvolvido no Centro de Inovação e Saúde Digital da instituição possibilita o acesso digital aos órgãos do paciente, além de permitir que o cirurgião visualize lesões e identifique órgãos adjacentes que possam estar afetados. Para visualização das imagens em 3D, o cirurgião conta ainda com a tecnologia de óculos de realidade aumentada, que é totalmente “hands free” (sem uso de controles), sendo comandada por voz e gestos das mãos. “Além de trazer mais segurança para o paciente, com essa tecnologia o cirurgião consegue fazer um planejamento cirúrgico ainda mais preciso”, afirma o Dr. Schneidewind.