O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), está conduzindo uma pesquisa para contribuir com a redução da morbidade e dos custos do tratamento da asma no país. O estudo clínico CuidAR consiste no desenvolvimento e implementação de um protocolo de assistência em asma para a atenção primária do SUS, e na análise de eficácia e custo-efetividade desta medida em todas as regiões do Brasil. A iniciativa tem a proposta de reduzir substancialmente as exacerbações da doença, resultando na queda de hospitalizações, de visitas a salas de emergência e consultas não programadas em Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Cerca de 30 unidades de saúde serão selecionadas para participar do estudo. A escolha irá contemplar a inclusão das cinco regiões geopolíticas do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. A capacitação das equipes que atuam nas UBSs será realizada por meio de aulas na modalidade EAD, elaboradas por especialistas em doenças respiratórias e profissional especialista em Atenção Primária à Saúde (APS). A formação será voltada para as atividades de coleta de dados clínicos para o estudo, incluindo treinamento para obtenção de espirometria e análise da qualidade das manobras do exame.
Segundo o pneumologista Paulo Pitrez, coordenador do estudo, o projeto está na fase de alinhamentos iniciais, como montagem de equipe, escolha dos centros participantes no Brasil e treinamento dos profissionais. Durante a pesquisa, o impacto da implementação do protocolo de assistência será avaliado por meio de indicadores como hospitalização e visitas à emergência por asma, controle da doença, qualidade de vida, função pulmonar e custos. Os resultados deverão ser obtidos em cerca de dois anos a partir do início da coleta de dados.
Estudo
O projeto é realizado por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), em parceria com o Ministério da Saúde. Ao todo, serão recrutados 1.440 pacientes, aproximadamente 48 por unidade de saúde. Eles deverão ser maiores de 6 anos de idade, com diagnóstico de asma moderada a grave e com histórico de mais de uma exacerbação com uso de corticoide oral nos últimos 12 meses.
Os pacientes incluídos serão acompanhados ao longo de, pelo menos, 6 meses. A participação ocorrerá mediante autorização de coleta de dados clínicos do atendimento ambulatorial prévio e ao longo do acompanhamento (com 3 visitas após a inclusão, realização de questionários e testes de função pulmonar), bem como responder a entrevistas por telefone, realizadas pela equipe do estudo, para avaliação de adesão ao tratamento do grupo intervenção.
Com base nos resultados obtidos, será feita a entrega ao Ministério da Saúde de um manual técnico e de um plano de implementação do protocolo de assistência em asma para atenção primária.
Conforme Pitrez, a asma é uma doença silenciosa e negligenciada por muitos gestores públicos. “É uma doença silenciosa porque a maioria dos pacientes se acostuma com a doença, tolerando os sintomas, crises, e limitações, sem buscar ajuda e tratamento. Além disso, nosso SUS ainda é carente de implementações eficazes de um programa de diagnóstico e manejo, necessitando também de rápido acesso aos medicamentos para controle da doença”, constata. Na rede pública, ocorrem aproximadamente 200 mil hospitalizações por ano em função da enfermidade.
Asma
A asma atinge 20 milhões de brasileiros e seis pessoas morrem diariamente por causa da doença no país. Estima-se que 10% dos adultos e 20% das crianças no Brasil sejam portadores da doença, o que significa que se não submetidas ao tratamento adequado, podem passar por restrições importantes na sua rotina, a qualidade de vida, e risco de morte. É uma doença crônica que afeta as vias respiratórias (brônquios), na maioria das vezes por causas alérgicas. Apesar de não ter cura, com os cuidados corretos, é possível controlá-la, permitindo ao paciente levar uma vida normal.
No início do inverno, os sintomas e crises aumentam muito, principalmente por conta do maior contato com infecções respiratórias virais. A maioria dos pacientes com asma no Brasil não tem controle da doença, sofrendo com crises de falta de ar, despertar noturno, limitação para atividades físicas, perda escolar ou de trabalho, e visitas em sala de emergência e hospitalizações. Os sintomas são falta de ar, chiado, aperto no peito, despertar noturno e dificuldade para a realização de atividades rotineiras.