Lidar com a perda de um ente querido nunca é fácil, ainda mais quando se trata de um bebê, que teve tão pouco tempo de vida. Essa dor faz parte da rotina do HMI – Hospital Estadual Materno-Infantil Dr. Jurandir do Nascimento, de Goiânia, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, que atende mulheres com gestação de alto risco e também bebês em estado grave de saúde.
A instituição possui uma equipe multidisciplinar que dá todo o suporte aos familiares, porém, para auxiliar no processo de luto neonatal, o setor de Psicologia sentiu a necessidade de atuar de forma mais empática e implementou o projeto Carta aos Pais, conduzido pela psicóloga Juliana Coimbra.
Segundo a coordenadora de Psicologia, Flávia Zenha, a nova ferramenta oferece maior acolhimento aos pais que se encontram em uma situação tão traumática. “A morte de um filho antes do nascimento, logo após ou com pouco tempo de nascido, rompe com a ordem natural da vida. A família se prepara, cria expectativas, faz planos em relação à criança que está por vir ou que chegou e, de repente, vê seus sonhos interrompidos. Isso é muito doloroso! Por isso, a carta aos pais se apresenta como um mecanismo no manuseio psicológico para estruturação do luto”, explica.
O projeto foi implantado oficialmente no mês de julho, mas Juliana já vinha escrevendo as cartinhas há mais tempo, de próprio punho. A carta aos pais é feita após o óbito do bebê, em um documento formalizado pelo setor de Psicologia e entregue aos pais que estiverem presentes e em condições emocionais de receberem a mensagem. Elaborada de maneira humanizada, é escrita em primeira pessoa, como se fosse o próprio bebê escrevendo. Contém os principais dados da criança e é entregue aos genitores no fechamento do atendimento psicológico. É como uma cartinha de agradecimento e despedida, que conta com o carimbo dos pezinhos do bebê e a pulseira de identificação da internação.
Coube à Juliana entregar a cartinha à mãe da criança M.H.F.S., do interior de Goiás, que morreu no dia 23 de julho, com apenas 13 dias de vida. Segundo a psicóloga, a mãe ficou impactada ao receber a carta. “Ela se emocionou muito e agradeceu pelo atendimento e acolhimento que ela recebeu no hospital. Em momentos como esse, eu tento humanizar ao máximo, para que a pessoa possa se apoiar emocionalmente”, conta.
“Sabemos o quanto é doloroso esse processo de luto, por isso, nossos profissionais estão sempre se aprimorando e desenvolvendo novas formas de humanização e cuidado para com os pacientes e a família enlutada. Eles levam calma, serenidade, empatia e profissionalismo que a perda e a dor requerem”, finaliza Sara Barbosa, diretora técnica.
Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 103, de junho/julho/agosto de 2020. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-103-revista-hospitais-brasil