Hospital Nove de Julho alerta para o crescimento de casos de Aids entre jovens

As gerações que viram a epidemia de Aids explodir, na década de 1980, estavam acostumadas com campanhas de conscientização, em especial quanto ao uso de preservativo. Para os mais jovens, que nasceram ou chegaram à idade adulta quando a doença já havia sido controlada, talvez não pareça fazer muito sentido um mês inteiro para falar de HIV e Aids. No entanto, a campanha Dezembro Vermelho, criada para alertar sobre os perigos da doença e como preveni-la, continua atual e necessária.

De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2020, do Ministério da Saúde, entre 1980 e junho de 2020, foram identificados 1.011.617 casos de Aids no Brasil. O número vem diminuindo anualmente desde 2013. Apesar disso, houve um aumento da doença entre jovens. Comparando 2009 e 2019, as faixas etárias de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos foram as que mais cresceram em casos: 64,9% e 74,8%, respectivamente. Atualmente, a maior concentração dos casos de Aids no Brasil está entre os indivíduos com idade entre 25 e 39 anos, em ambos os sexos.

“Há décadas as instituições de saúde do mundo todo têm dedicado esforços a conscientizar a população sobre os perigos da Aids, mas ainda precisamos falar sobre isso. O melhor tratamento é a prevenção e hoje há novas opções, como a PrEp HIV (Profilaxa Pré-Exposição) e a PEP HIV (Profilaxia Pós-Exposição)”, afirma a infectologista do Hospital Nove de Julho, Sumire Sakabe.

A médica explica que a PrEP consiste na ingestão de um comprimido que permite ao organismo se preparar para combater uma possível interação com o vírus, antes da relação sexual. É indicada para pessoas com maior risco de se infectar, como aqueles que têm múltiplos parceiros, profissionais do sexo, pessoas trans, entre outros. Quando as estratégias de prevenção falharam, há mais uma alternativa para diminuir o risco de infecção pelo HIV, a PEP, que consiste em fazer uso de medicação adequada em até 72 horas após exposição de risco.

“Esses medicamentos devem ser utilizados sob rigoroso acompanhamento médico e são fornecidos gratuitamente pelo SUS, inclusive para pessoas que se consultam na rede privada de saúde. É muito importante que os jovens se protejam e que, se necessário, busquem por essas alternativas, para frearmos o número de novos casos”, alerta Sumire.

Ela destaca que o uso do preservativo continua sendo essencial, por prevenir, além do HIV, a disseminação de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como a sífilis, e de hepatites. “É uma estratégia eficiente e barata, não podemos nos dar o luxo de esquecer dela”, afirma.

HIV e Aids

HIV é uma sigla em inglês para Vírus da Imunodeficiência Humana. Trata-se de um retrovírus que é transmitido por meio de fluídos corporais. Sem o tratamento adequado, a infecção pelo HIV pode levar à Aids, estágio mais avançado da infeção, que é quase sempre fatal, pois destrói o sistema imunológico. O nome Aids vem de outra sigla em inglês, para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

“Os tratamentos disponíveis controlam a reprodução do vírus, mas ainda não é possível eliminá-lo definitivamente. Isso significa que, uma vez que se contrai o HIV, a pessoa viverá com ele para o resto da vida”, explica a médica do Nove de Julho.

Até hoje, apenas dois pacientes foram considerados curados da infecção pelo HIV no mundo: Tim Brown, em 2007, na Alemanha, e Adam Castillejo, em 2015, em Londres. Eles receberam transplante de medula óssea para tratar leucemia. Os doadores foram cuidadosamente escolhidos por possuírem uma mutação genética que impede o HIV de infectar as células do organismo. Ambos tiverem sucesso no tratamento da leucemia e também se viram livres do HIV, mesmo quando o tratamento antirretroviral foi suspenso. Em 2020, a leucemia de Tim Brown recidivou e ele faleceu em decorrência dela.

“É importante frisar que ambos sofriam (e muito) em decorrência da leucemia e que o transplante de medula óssea é um tratamento de alto risco, com inúmeras complicações. Assim, essa não é uma estratégia passível de reprodução apenas para tratamento de HIV”, diz Sumire.

No Brasil, os medicamentos para tratamento de HIV/Aids são fornecidos gratuitamente na rede pública. As pessoas infectadas pelo HIV que fazem tratamento adequado têm uma expectativa de vida quase igual a daqueles que não têm o vírus. Com tratamento adequado, a carga viral fica indetectável, permitindo a essas pessoas terem uma vida normal, inclusive sexualmente, e até terem filhos, pois pessoas com carga viral indetectável de forma continuada não transmitem o vírus para parceiros ou parceiras sexuais.

Diagnóstico

“A gente só resolve aquilo que a gente conhece. Diagnóstico precoce é um dos principais fatores para a maior e melhor sobrevida das pessoas infectadas pelo HIV”, sustenta a infectologista, ao falar da importância de fazer o teste para a detecção do vírus.

A pandemia de Covid-19 trouxe um impacto nos diagnósticos e tratamentos de saúde como um todo e em se tratando do HIV não foi diferente. No estado de São Paulo, a média mensal de pedidos de testes rápidos para HIV caiu aproximadamente 50% em 2020, quando comparados os mesmos períodos no ano anterior.

A consequência direta de menos testagem é menos diagnósticos. “Uma pessoa infectada pelo HIV e não diagnosticada obviamente não será tratada e, quanto mais tardio o tratamento, maior o dano ao organismo. Além disso, pessoas não tratadas seguem transmitindo HIV para seus e suas parceiras”, completa Sumire.

A médica lembra que os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) do Sistema Público de Saúde realizam gratuitamente a testagem para detecção de HIV, sífilis e hepatites B e C. Além disso, oferecem um autoteste em fluido oral, caso a pessoa prefira fazer o teste em casa.

Redação

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