Em um cenário pós-pandemia no Brasil, algumas técnicas e estratégias dentro da medicina deverão ganhar força, para garantir um sistema de saúde mais eficaz e seguro. Uma dessas soluções é a cirurgia robótica, tecnologia que se desenvolve e aprimora desde o final dos anos 90, nos Estados Unidos, e é considerada a inovação que mais movimentou a área da saúde nos últimos anos. Desde 2015, as cirurgias robóticas cresceram cerca de 500% no Brasil, e já há cerca de 50 equipamentos desse tipo por aqui, em todas as regiões, comprovando que o método está mais acessível e procurado pelos pacientes.
No mês de junho, o Hospital Santa Catarina (HSC), de São Paulo (SP), chegou à marca de 500 cirurgias realizadas por meio da robótica, exatamente dois anos após o início das operações. Desse total, cerca de 200 procedimentos foram de cirurgias gerais, 200 urológicas e 100 ginecológicas, que são algumas das especialidades que mais se beneficiam da tecnologia. Dos hospitais brasileiros que possuem apenas um robô, o HSC foi o que apresentou melhor desempenho ao completar 300 cirurgias.
Ao adquirir o robô modelo da Vinci Xi, um dos mais modernos da área, em meados de 2018, o HSC implantou um programa de treinamento para habilitar seus cirurgiões para usarem a tecnologia. Hoje, já são 24 médicos certificados e mais três que irão concluir o treinamento ainda em 2020, que envolve atividades em simulador e certificação internacional concedida na sede da empresa Intuitive, fabricante do Da Vinci, na Califórnia. 81% das cirurgias robóticas realizadas no Hospital Santa Catarina são feitas por profissionais capacitados pela própria Instituição. Foram investidos 16 milhões de reais na aquisição do robô cirúrgico da Vinci Xi e na modernização do Centro Cirúrgico.
Uma catarinense e uma sergipana, unidas pela tecnologia em São Paulo
A ginecologista Dra. Simone David é a única mulher habilitada para cirurgias robóticas no Hospital, e uma das poucas no estado de São Paulo. Ela, que já era especialista em cirurgia laparoscópica e minimamente invasiva, viu a robótica como evolução natural no seu aprendizado. “São necessários anos de estudo e experiência prática antes de chegar na tecnologia. A cirurgia robótica veio para aperfeiçoar e refinar a cirurgia minimamente invasiva, gerando inúmeros benefícios ao procedimento e ao paciente. Na ginecologia, há muito espaço para essa técnica, como no tratamento de miomas uterinos, cânceres e especialmente endometriose, doença que necessita muito cuidado na preservação de tecidos para o tratamento da dor pélvica e infertilidade”, afirma a especialista.
A paciente Bruna Martins, de 28 anos, veio de Aracajú, no Sergipe, para São Paulo apenas para operar com a Dra. Simone. Ela tinha uma malformação uterina chamada de útero unicorno com corno não comunicante, que impedia a saída do fluxo menstrual, gerando cólicas e acúmulo de sangue dentro do útero. Como tratamento, fazia uso de anticoncepcionais contínuos. “Eu cansei dessa rotina de acompanhamento, e minha médica recomendou a Dra. Simone e o Hospital Santa Catarina para cirurgia robótica. Eu não pensei duas vezes e, apesar da longa distância, fiz a viagem, porque senti muita segurança na tecnologia e na recuperação mais rápida. Hoje, cinco meses depois da operação, já posso até fazer planos de ser mãe, o que antes era um sonho distante”, conta Bruna.
Recentemente, outros dois hospitais da Associação da Congregação de Santa Catarina (ACSC), que administra o Hospital Santa Catarina – a Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, e o Santa Isabel, em Blumenau – também adquiriram robôs, formando um dos poucos grupos hospitalares do país a contar com três desses equipamentos.