A dona de casa Raquel Clarindo Mendes, 26 anos, tem vivenciado um período delicado em sua vida. A filha mais nova, Eloise, de apenas cinco anos, foi diagnosticada no ano passado com um tumor no sistema nervoso central e iniciou em janeiro o tratamento na Unidade de Oncologia do Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga (MG). A Unidade é referência em tratamento do câncer para mais de 67 municípios mineiros, administrado pela Fundação São Francisco Xavier (FSFX). Quando chegou ao hospital, a criança passou por uma cirurgia para a retirada do tumor, que estava localizado na nuca. O procedimento, que contou com uma equipe altamente especializada e equipamentos modernos, foi um sucesso. Atualmente, ela realiza sessões de radioterapia.
Para o tratamento, Eloise, assim como os pacientes adultos, precisou primeiro fazer um molde de uma máscara personalizada que fica bem justa à cabeça para depois dar início a indicação de 27 sessões de radioterapia.
Um artifício muito comum para manter as crianças imóveis durante o procedimento radioterápico é a sedação. O radioterapeuta da Fundação São Francisco Xavier, Gustavo Pereira Maciel, explica que a maioria das crianças com até cinco anos precisa de sedação, pois é necessário ficar imóvel durante o tratamento. “A sedação é importante neste processo de manter a criança tão pequena quietinha. À medida que vão crescendo, e existe alguma possibilidade de compreensão, é avaliado caso a caso, mas é um processo gradual. Mas existem casos em que a nossa equipe com o carinho e cuidado de sempre consegue conquistar a confiança da criança e realizar a sessão sem necessidade de sedação. A não sedação traz benefícios”, pontua.
Entre as vantagens de não sedar estão a rapidez, conforto e tranquilidade. Sem sedação, a sessão costuma ser três vezes mais rápida. Além disso, não necessita de jejum, o que é extremamente importante, principalmente para crianças que chegam de outras cidades, como é o caso de Eloise, que mora com a mãe em Piedade de Caratinga, a 100 km de Ipatinga.
Eloise tem feito as sessões sem precisar de sedação, graças ao sucesso do tratamento humanizado realizado pela equipe da Unidade. A enfermeira Yatiara Soares, que cuida da criança desde o primeiro dia da sessão de radioterapia, conta que a garotinha tem surpreendido a todos. “Temos um preparo específico para lidar com esses casos. Conversamos muito com a criança, com a família, explicamos como será feito, que é preciso ficar quietinha durante o procedimento. Não é fácil, mas é muito gratificante. Descobrimos que ela ama a boneca Barbie e demos uma para ela, que recebeu o nome carinhoso de Bibi. A boneca a acompanha durante todas as sessões”, conta.
Além disso, cada sessão possui um tema diferente, como dia da massinha, do salão, de colorir e de brincar com a boneca. Eloise ganha, ainda, um café especial com tudo que ela mais gosta e no fim de cada sessão, a menina assina um certificado de coragem, que ela levará para casa quando acabar todo o procedimento. É uma espécie de diploma.
Gratidão
A mãe de Eloise comenta que ficou surpreendida com a compreensão da filha. “No dia a dia, ela não para quieta. Fiquei impressionada com a forma que a equipe cuida da minha filha e ela obedece direitinho. A equipe passa segurança e confiança para ela e a boneca a deixa mais tranquila, pois não larga a Bibi. Ela também fica muito orgulhosa na hora de assinar o atestado de coragem”, ressalta a dona de casa.
“A preocupação ainda é grande, mas sei que estamos sendo atendidas em uma unidade com infraestrutura de ponta, que ela está nas mãos de uma equipe muito profissional, e, acima de tudo, um atendimento humano. O apoio e a dedicação de todas as pessoas do Hospital Márcio Cunha nos ajudam muito. A gente é recebido com sorrisos e muito amor. E isso faz toda a diferença. São anjos na nossa vida”, completa emocionada.
Câncer Infantil
Apesar de grave, o câncer infantil é curável, com índices que chegam até a 90% de remissão, se descoberto precocemente. O oncologista pediátrico da FSFX, Lucas Teiichi Hyodo, reforça que a melhor forma de atuar sobre os tumores nas crianças é quando a doença ainda está em seus estágios iniciais. “Assim, há maior chance de sucesso no tratamento, muitas vezes menos agressivo, com melhor prognóstico para a criança e menor risco de efeitos colaterais”, explica.
Eloise é uma das mais de 8 mil crianças diagnosticadas anualmente com câncer infantil no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O tumor no sistema nervoso central é o segundo tipo mais comum, com 16% dos casos. Em primeiro lugar estão as leucemias (33%) e os linfomas assumem a terceira posição (14%).
Sintomas
O câncer em crianças tem características diferentes de adultos e, muitas vezes, pode ter sintomas parecidos com doenças comuns na infância. Diferentemente dos adultos, o câncer infantil não está associado a fatores ambientais e hábitos de vida. “Na maioria dos casos, os tumores que aparecem na faixa-etária pediátrica têm relação com alterações genéticas, que nem sempre são herdadas do pai ou da mãe, podendo ser adquiridas ao longo do período intrauterino ou durante o seu desenvolvimento”, pontua o oncologista.
Entre os sintomas mais comuns estão perda de peso, dor nos ossos ou articulações, vômitos, caroços que não regridem (geralmente no pescoço, axilas, virilhas e abdômen), aumento de volume na barriga, manchas roxas na pele, cansaço persistente, palidez, entre outros.