Inverno aumenta incidência de doenças cardíacas, com maior risco a pacientes cardiopatas com Covid-19

Durante o período de inverno, surge um alerta em relação ao aumento na incidência de cardiopatias, o que gera ainda maior preocupação em meio a pandemia, visto que doenças desta natureza estão entre os principais fatores de risco associados à Covid-19. Dados do Instituto Nacional de Cardiologia mostram que, durante esta estação, o risco para complicações como o infarto costuma aumentar em 30%. Como a vulnerabilidade frente ao Coronavírus é maior para cardiopatas, os cuidados relacionados ao coração devem ser redobrados com a chegada das estações frias. Além disso, para pacientes que já possuem complicações cardiológicas, a infecção pelo Coronavírus pode se manifestar de maneira mais grave. Segundo estudo¹ publicado no acervo científico Arquivos Brasileiros de Cardiologia em 2020, a taxa de letalidade por complicações cardiovasculares é de 10.5% para pacientes que se enquadram nestas características – problema que pode se agravar devido aos impactos da queda na temperatura no coração.

Este fenômeno ocorre, pois o frio causa a contração dos vasos sanguíneos, levando a uma descarga elevada de adrenalina que pode provocar um aumento na pressão arterial. Por isso, o coração se torna mais ativo neste período e pode sobrecarregar. Segundo o Dr. Nilton Carneiro, cardiologista do Hospital Santa Catarina – Paulista, alguns hábitos que surgem durante o inverno também contribuem para o aumento na incidência das cardiopatias. “Além da sobrecarga no sistema cardiovascular causada por vasoconstrições, alguns costumes sociais ligados à estação também estão associados a este fenômeno. Entre estes temos a alimentação inadequada, que envolve o consumo em excesso de sódio e alimentos gordurosos. Outro fator relevante são as aglomerações características deste período, que também levantam um alerta para a disseminação da Covid-19”, adiciona o especialista.

Síndrome Coronária Aguda está entre as principais complicações

Entre as principais complicações cardiológicas afetadas pela queda na temperatura estão a hipertensão, infarto, insuficiência cardíaca descompensada e as arritmias. De acordo com o Dr. Carneiro, uma das condições de maior incidência no clima frio é a Síndrome Coronária Aguda. “A SCA é, na verdade, um grupo que engloba duas outras condições, a angina e o infarto, que estão entre as enfermidades mais afetadas pelo impacto do inverno no coração”, completa. Este quadro é caracterizado por qualquer diminuição ou interrupção do fluxo sanguíneo para o coração, frequentemente causados por rompimentos ou coágulos nas artérias. O sintoma mais frequente associado à SCA é a dor no peito, que pode evoluir para dores no braço, capazes de incitar outros indícios como o suor em excesso, náuseas e dificuldade de respirar. O aumento na incidência destas complicações durante este período do ano gera um alerta adicional em meio a pandemia, visto que os cardiopatas possuem maior vulnerabilidade frente a Covid-19. “Além do risco ser superior para indivíduos com patologias desta natureza, caso acometidos, estes podem sofrer uma descompensação da condição cardiológica já presente. Por isso, a preocupação para este grupo é maior na pandemia, principalmente nestas estações específicas”, completa o especialista.

Pessoas sem histórico podem apresentar problemas cardíacos devido à Covid-19

Mesmo para pacientes isentos de problemas cardíacos, a infecção pelo Coronavírus é capaz de causar a incidência de complicações relacionadas ao coração, que também podem ser agravadas por baixas temperaturas. Uma pesquisa² publicada neste ano, no banco de dados da Cochrane, ONG britânica especializada em pesquisas na área de saúde, identificou que para pacientes que precisaram de internação, a probabilidade da incidência de determinadas condições cardiológicas pós-Covid pode variar em torno de 10%. Os dados utilizados são baseados em 220 estudos internacionais sobre o tema. Entre as cardiopatias mais comuns que podem surgir como resultado da infecção estão a arritmia, taquicardia, extrassístoles e a miocardite. Os principais sinais que podem indicar a presença destas enfermidades incluem palpitações, dor no peito, falta de ar e tontura. Por isso, aqueles já curados da Covid-19 precisam ficar atentos à manifestação de sintomas no órgão, principalmente com a chegada do inverno, que poderá contribuir para a gravidade destas possíveis repercussões. “Para aqueles que tiverem sequelas no coração como um resultado da infecção pelo Coronavírus, as estações frias podem servir como fator desencadeante adicional”, finaliza o Dr. Carneiro.

Prevenção

A principal ação que pode contribuir para reduzir o risco imposto pela queda na temperatura é evitar a exposição ao frio. A utilização de mais camadas de roupas e o uso de aquecedores portáteis podem facilitar esta indicação. Quando o assunto é a prevenção das complicações cardíacas em geral, recomenda-se a adoção de uma rotina de exercícios e dieta saudável, além do controle de doenças como diabetes, colesterol alto e hipertensão. Para aqueles já com diagnóstico confirmado, existem outras ações singelas que podem ser incorporadas ao cotidiano para aliviar os sintomas das condições. Entre estas estão a suspensão do consumo de cafeína, redução do consumo de bebidas alcoólicas e a evasão de fatores que causam estresse.

Referências:

¹ “O coração e a Covid-19: o que o cardiologista precisa saber”, estudo publicado no acervo Arquivos Brasileiros de Cardiologia em 2020. www.scielo.br/j/abc/a/F5BDXsNWzSjbwzqfV6WPQbF/?lang=pt

² “Covid-19 and its cardiovascular effects: a systematic review of prevalence studies”, estudo publicado em 2021 no banco de dados da Cochrane, ONG britânica especializada em pesquisas na área de saúde. Os dados utilizados são baseados em 220 estudos internacionais sobre o tema, conduzidos na China (47.7%), EUA (20.9%) e Itália (9.5%).
www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD013879/full

Redação

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