Investimento em políticas e cuidados em saúde mental são essenciais para ESG

A ênfase em olhar para o ESG (Environmental, Social and Governance) tem se tornado uma realidade cada vez mais presente no Brasil. Para além de um olhar para o impacto socioambiental e para o papel social das empresas no que diz respeito ao meio ambiente, às relações sociais e à governança, a proposta também se conecta (e muito) à questão da saúde mental dentro de organizações.

Mas o que é ESG? 

ESG é uma sigla que surgiu no ano de 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. A sigla, que agrega os componentes ‘Environment‘ para o meio ambiente, ‘Social’ para as relações sociais, e ‘Governance‘ para a governança, é um resultado de um olhar comprometido para a sustentabilidade por parte das empresas dentro de sua atuação. O movimento coloca critérios de impacto socioambiental e de regras sólidas de governança dentro do mundo corporativo, elevando os padrões com que estes fatores devem ser levados em consideração na condução dos negócios.

Por que isso é importante?

O entendimento e aplicabilidade do ESG no Brasil e no mundo é cada vez mais relevante e tende a indicar mais solidez, reputação e compromisso social. Estes critérios estão também diretamente relacionados com as metas de desenvolvimento global da ONU, as ODS, e trazem para o centro do debate o papel das empresas no desenvolvimento sustentável.

Consumidores e investidores têm dado preferência a instituições que incorporam práticas sólidas de ESG em seus negócios. Um estudo realizado pela Ágora Investimentos mostrou que empresas preocupadas com essas questões tendem a se destacar em seus nichos, com vantagens competitivas, melhor reputação e maior lucratividade. Em meio à urgência de mudanças climáticas, soluções sustentáveis e crescentes demandas de responsabilidade social, a pauta do ESG está cada vez mais em alta, especialmente entre as gerações mais jovens que têm dado mais atenção à perspectiva de futuro e longevidade saudável. Esse movimento exige, de forma articulada, um compromisso por parte do setor privado.

O que a saúde mental tem a ver com ESG?

O processo de adoecimento no mundo do trabalho se acentuou ainda mais com a pandemia da Covid-19. Cargas horárias extensas, pressão psicológica, sobrecarga de tarefas, competitividade e responsabilidade financeira, impactos físicos e emocionais são alguns dos motivos que levaram mais de 47,3% de trabalhadores de serviços essenciais no Brasil ao esgotamento profissional e pessoal entre 2020 e 2021, segundo Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Índices como estes têm despertado o entendimento de que questões associadas à saúde, ao social e ao ambiente têm grande impacto econômico, sobretudo na permanência de empresas no mercado e continuidade de investimentos. Pessoas adoecidas mentalmente fazem com que haja uma maior rotatividade de funcionários (turnover), menor produtividade e maior absenteísmo, o que impacta diretamente nos resultados finais de uma organização.

Por conta disso e pela necessidade de se olhar para os indivíduos como parte da responsabilidade socioambiental de uma empresa, há um tempo especialistas vêm colocando a saúde mental como um componente importante do “S” do ESG, já que este se relaciona com o bem-estar dos funcionários e preocupações com questões sociais da comunidade.

“Apesar de encaixarmos de forma bastante direta a saúde mental no ‘S’ do ESG, ela também está presente como parte indissociável dos outros componentes. Ela se relaciona com o meio ambiente quando percebemos que a poluição do ar e as mudanças climáticas foram classificadas como uma das maiores ameaças à saúde global, com sérios  impactos na saúde mental. Por outro lado, saúde mental também tem tudo a ver com o ‘G’, já que para trabalhar a saúde mental nas empresas não basta apenas que ofereçam atendimentos psicológicos aos seus funcionários, mas, sim que abordagens estruturais sejam adotadas, como a institucionalização da saúde mental nas práticas e governança, através, por exemplo, da criação de comitês e áreas específicas que olhem para o tema de forma transversal em toda a empresa”, salienta Maria Fernanda Quartiero, Diretora Presidente do Instituto Cactus, organização que atua na prevenção de doenças e promoção da saúde mental no Brasil, através da geração de conhecimento, identificação e multiplicação de boas práticas, colaboração em políticas públicas, articulação de ecossistemas e conscientização sobre o tema.

O olhar de forma estrutural para a saúde mental dentro das empresas e como parte fundamental do ESG é fundamental. De acordo com uma pesquisa do LifeWorks Mental Health Index, 76% dos entrevistados afirmaram que ter suporte à saúde mental é um diferencial na hora de deixar o emprego. O Relatório de Tendências, da Great Place to Work, revela que a saúde mental foi citada por 38% dos 1.700 respondentes como principal tema da gestão de pessoas em 2021.

Caminhos a se seguir 

Cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho não é só oferecer terapia e exercícios laborais. Cuidar da saúde mental no trabalho deve passar por um olhar que evite que o ambiente de trabalho seja um ambiente que adoeça e, por isso, precisamos institucionalizar o debate sobre saúde mental em todos os espaços (inclusive nas empresas), incorporando visões que trabalhem a  prevenção e a promoção da saúde mental no ambiente de trabalho.

Quando falamos em boas práticas para a saúde mental, podemos, então, pensar em uma diversidade de ações, como: iniciativas de diversidade e equidade, práticas de integração de equipe e momentos de convivência em grupos, atividades de formação e práticas corporais guiadas, canal de escuta e denúncia de abusos, plano de carreira, creches internas próximas ao local de trabalho etc.

“Investir em profissionais qualificados (como médicos e psicólogos); criar projetos de psicoeducação preventiva, com programas que contemplem o tema; incentivar rodas de conversas com profissionais para os funcionários falarem sobre as dificuldades do dia a dia e terem orientação sobre os sinais de alerta em termos de saúde mental, ao quais precisam se atentar; oferecer rede apoio, serviços de terapia online e criar condições saudáveis de trabalho, que estejam incorporadas às práticas de gestão e governança das empresas, são algumas ações importantes que precisam ser atribuídas pelas empresas como parte prioritária de suas políticas, visto que a atenção à saúde de forma integral não só é um investimento cujo retorno pode ser financeiramente positivo, mas principalmente porque o olhar para os indivíduos e sua saúde mental é pressuposto básico para uma sociedade mais saudável e inclusiva”, finaliza Luciana Barrancos, Gerente Geral do Instituto Cactus.

Redação

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