Mal de Parkinson ganha terapias que devolvem a qualidade de vida do paciente

Sentada, Lúcia Helena Lavarini do Amaral Campos e sua família, antes da cirurgia DBS, quando não conseguia ficar muito tempo em pé

Quem não convive com alguém que tenha doença de Parkinson dificilmente tem ideia do que representa este mal. Ela vai muito além dos populares tremores e movimentos involuntários, inclusive existem portadores que nem tremem. Os sintomas podem ser outros. Embora a cura não tenha sido descoberta, há terapias que devolvem a qualidade de vida do paciente. Às vésperas do Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, 11 de abril, nada mais oportuno que falar a esse respeito.

Presenciar o contentamento do paciente e de sua família ao atingir o resultado esperado com o tratamento é uma das melhores satisfações da neurocirurgiã Juliana Zuiani. “Muitos relatam que ‘nasceram de novo’ após atingir um bem-estar geral e a redução de vários sintomas. É o caso da pedagoga aposentada Lúcia Helena Lavarini do Amaral Campos, que eu setembro passado submeteu-se a Cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda, de nome Deep Brain Stimulation – DBS (em inglês).

Prestes a completar 74 anos e sofrendo da Doença de Parkinson nos últimos 15 anos, Lúcia Helena diz que está muito feliz. “A quem tiver indicação médica de operar, eu recomendo que faça. Eu só conseguia andar se tomasse 20 remédios por dia, só podia sair acompanhada e mesmo usando bengala, perdia o equilíbrio e caía muito. Até já fraturei o crânio e o nariz nessas quedas”.

Assim que saiu da cirurgia, Lúcia se sentiu outra. Ela conta que a sensação de libertação da doença vai aumentando à medida que o tempo passa. “Agora eu fico horas em pé fazendo o que eu gosto, que é cozinhar. Subo até num banquinho para pegar louça na parte mais alta do armário. Faço compras no mercado, carrego sacolas, passeio no shopping e viajo de carro sem desconforto até Jundiaí para visitar a minha netinha Helena, de 2 aninhos. Estou tão feliz que eu pedi para a Dra. Juliana contar a minha melhora para todo mundo e assim incentivar que outras pessoas recorram à cirurgia”, atesta Lúcia.

Juliana explica que o DBS é um dos tratamentos invasivos mais eficientes para Parkinson. Na maioria dos casos, é excelente para controlar diversos sintomas, como dor, fadiga, rigidez e tremores. Segundo ela, o paciente fica mais ativo, pratica atividade física e realiza sessões de reabilitação, o que aumenta a autonomia e a independência. “Apesar de ser uma cirurgia muito segura, o DBS ainda é uma intervenção complexa. No Brasil, há poucos neurocirurgiões adequadamente habilitados a executá-la”, pondera.

Como funciona

A técnica de DBS se utiliza de diminuta estimulação elétrica para tratar Parkinson e também outras condições neurológicas, como tremor essencial e distonia. O procedimento é aplicado para cuidar principalmente dos distúrbios do movimento, como tremores, rigidez, dificuldade para andar e lentidão de movimento (bradicinesia). Juliana explica que os eletrodos utilizados são muito delicados e por isso não danificam e nem lesam o tecido cerebral. Em vez disso, bloqueiam os sinais defeituosos que causam tremores e outros sintomas.

Por baixo da pele, os eletrodos são conectados a um neuroestimulador, conhecido também como marca-passo. Ele é uma espécie de microchip com uma bateria blindada, do tamanho de uma caixa de fósforos. Em geral, é implantado sob a pele, no peito, logo abaixo da clavícula. Nenhuma parte do sistema fica aparente e permite que a pessoa tenha uma vida normal. Quando o sistema é ligado, a estimulação elétrica modifica o funcionamento dos neurônios à sua volta, aliviando os sintomas da doença.

De acordo com Juliana, a maioria dos pacientes de Parkinson pode fazer a cirurgia, porém, nem todos necessitam dela. É importante que seja feita uma triagem pelo especialista. Há um período na vida do parkinsoniano em que ele responde melhor ao procedimento cirúrgico. Esta etapa normalmente se inicia cinco anos após o início dos primeiros sintomas, quando o paciente já apresenta necessidade de doses maiores da medicação ou mesmo perda do efeito antes observado. Este quadro leva o paciente a associar diversas medicações e exige numerosas doses ao longo do dia. “A cirurgia ajuda muito potencializando o efeito das medicações, reduzindo assim, em muito, as doses e o número dos medicamentos necessários ao tratamento dos sintomas. Em momentos como este é que a cirurgia é mais indicada”, exemplifica.

Juliana afirma que, com a cirurgia, sintomas motores e alguns não motores da Doença de Parkinson são quase totalmente controlados. Entre eles:

  • Tremor responde muito bem à estimulação cerebral, mas quem não tem tremor também de beneficia bastante;
  • Rigidez e a lentidão dos movimentos são reduzidos como faz a levodopa (principal medicação para Parkinson) e ainda com o uso de menores doses;
  • Cessam os movimentos involuntários causados pela superdosagem da medicação;
  • O efeito da medicação é potencializado e os pacientes têm uma redução, em média, de 50% dos medicamentos, consequentemente, diminuindo os efeitos colaterais dos remédios;
  • Em menor grau, o equilíbrio, a marcha e a fala também são beneficiados.

“Antes de se submeter ao procedimento, o paciente passa por uma série de avaliações para averiguar qual será o benefício no seu caso. Assim, a equipe médica fica tranquila em indicar a cirurgia sabendo que o efeito será positivo”, orienta Juliana.

Equipamento

Há diversos tipos de sistemas no mercado e a tendência, com o progresso na tecnologia, é este número aumentar. Juliana ressalta que, em geral, os sistemas não-recarregáveis têm a duração entre 2 e 5 anos. Em alguns pacientes, a estimulação é mantida com intensidade baixa e, assim, a bateria dura mais. Outras pessoas já precisam de programações mais complexas. Nestes casos, a bateria dura menos. Os sistemas não-recarregáveis são mais cômodos, pois não há a necessidade de recarregar a bateria semanalmente.

Já os recarregáveis duram de 9 a 25 anos. Juliana salienta que este sistema exige uma ou duas recargas semanais.

O procedimento é simples. Um aparelho externo, do tamanho de um celular, é plugado à tomada e recarregado. Com a carga completa, o paciente deve posicioná-lo sobre a pele e, por indução magnética, o equipamento implantado se recarrega. Este processo dura de uma a três horas.

“É importante que o paciente conheça os tipos disponíveis e as vantagens e desvantagens de cada um. No entanto, é o cirurgião quem sugere o tipo de sistema adequado a cada paciente”, conclui a neurocirurgiã.

Redação

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