A morte do jovem Vitor Augusto Marcos, de 25 anos, dentro de uma ambulância em frente ao Hospital Geral de Taipas, na zona norte de São Paulo, nesta semana, reafirmou a necessidade de estrutura adequada para atendimento de pacientes com obesidade mórbida no Brasil.
O jovem, que pesava 195 quilos, teve uma parada cardiorrespiratória e ficou sem atendimento devido a falta de maca e equipamentos para suporte a pacientes obesos. Vitor veio a óbito após cerca de 8 horas de espera.
Desde 2018, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) desenvolve um Programa de Certificação e Acreditação de profissionais e hospitais com o objetivo de elevar os padrões de qualidade dos serviços no atendimento de pacientes com obesidade.
Para o presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi, o tratamento adequado de pacientes com obesidade ainda é um desafio e tragédias como a de Vitor se repetem com cada vez mais frequência.
“As doenças relacionadas à obesidade são responsáveis por mais de 4,7 milhões de mortes em todo o mundo a cada ano, metade das quais ocorrem entre pessoas com menos de 70 anos de idade”, diz Valezi.
A diretoria da SBCBM propôs, em outubro de 2022 ao Ministério da Saúde, suporte técnico e cientifico para auxiliar na avaliação e certificação de hospitais do pais, tendo em vista que possui mais de 2,5 mil cirurgiões especializados no tratamento da obesidade.
Atualmente nove hospitais estão acreditados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e outros 80 encontram-se em processo de certificação.
Segundo o vice-presidente Executivo da SBCBM, Luiz Vicente Berti, a Acreditação é um selo de aprovação das organizações de saúde, e que segue padrões estabelecidos por boas práticas para atendimento de pacientes com obesidade mórbida no mundo, inclusive para os que necessitam da cirurgia bariátrica.
“A Acreditação inclui uma avaliação completa da infraestrutura, para garantir padrões de qualidade e segurança aos pacientes que buscam esses estabelecimentos. O grande objetivo da Acreditação é reconhecer os hospitais qualificados, padronizar condutas que influenciarão positivamente no desfecho clínico, trazendo segurança e efetividade para os pacientes”, explica Berti.
São estes os hospitais que possuem a Acreditação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica:
- Blanc Hospital – Porto Alegre (RS)
- Hospital Alberto Urquiza Wanderley – João Pessoa (PB)
- Hospital Imaculada Conceição – Patos de Minas (MG)
- Hospital Nossa Senhora de Fátima – Patos de Minas (MG)
- Hospital PUC Campinas – Campinas (SP)
- Hospital Santa Joana – Recife (PE)
- Hospital Santa Lucia – Poços de Caldas (MG)
- Hospital Santo Amaro – Salvador (BA)
- Hospital São Luiz Unidade Itaim – São Paulo (SP)
Outros 80 hospitais ainda estão em processo de credenciamento e auditoria.
“Tratamento adequado da obesidade ainda é um desafio”
Entre 2017 e 2021, o Brasil realizou 311.850 mil cirurgias bariátricas, sendo 252.929 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), através dos planos de saúde; 14.850 feitas de forma particular; e 44.093 procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O número, no entanto, não representa 1% dos pacientes portadores de obesidade que possuem indicação cirúrgica para o tratamento da doença.
“A obesidade, além da sobrecarga do peso, traz outros problemas de saúde como a hipertensão, o diabetes, problemas cardiovasculares e pode até aumentar o risco de alguns tipos de câncer se não houver um controle adequado. Entre estes tratamentos está a cirurgia bariátrica, considerado o método mais eficaz até o momento para controle da obesidade em seus níveis mais graves”, explica o presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi.
Entidade também busca melhorar o atendimento de pacientes no SUS
A SBCBM apresentou uma proposta para atualização das portarias do Ministério da Saúde que estabelecem as diretrizes da cirurgia bariátrica e metabólica no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as revisões sugeridas pela entidade estão atualizações nos critérios e contraindicações do tratamento cirúrgico, rotinas de pré e pós-operatório, regulação dos hospitais credenciados, recursos para habilitação de estrutura física e equipamentos adequados, entre outras.
A proposta de revisão da portaria também prevê a realização de oficinas com gestores estaduais de unidades da federação onde não existam serviços habilitados e também nos que possuem para divulgação de informações. Atualmente, Amapá, Rondônia e Roraima não possuem nenhum hospital habilitado. A proposta ainda não foi avaliada pelo Ministério da Saúde.
Obesidade no Brasil
Os índices de obesidade no Brasil crescem a cada ano. O último levantamento da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, em 2021, aponta que a doença atinge, em média, cerca de 22,4% da população. Nas capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, as médias são de 22,5%, 21,5% e 22,6%, respectivamente.