Movimento Brasil Sem Corona prevê área prioritária para testagem para Covid-19

Com a abordagem da vigilância participativa, uma metodologia com embasamento científico em que cidadãos ajudam a construir um mapa de risco de epidemias, o Movimento Brasil Sem Corona conseguiu ajudar uma gestão pública do Brasil a priorizar áreas para o direcionamento de testes da Covid-19.

O caso aconteceu em Caruaru, cidade no interior de Pernambuco, onde a participação dos moradores relatando seus sintomas por meio do Brasil Sem Corona é consistente, e a plataforma foi adotada pela prefeitura municipal para complementar os dados do seu sistema de vigilância em Saúde. Diante de 100 testes para detecção de Covid-19, a prefeitura queria saber para onde seria mais inteligente direcioná-los.

Desde o dia 20 de março milhares de voluntários de todo o Brasil estão informando como estão se sentindo com o objetivo de mapear coletivamente o risco do avanço do novo coronavírus pelo território nacional. O mapa gratuito e as informações sobre como participar estão disponíveis em www.brasilsemcorona.com.br

Para ajudar a prefeitura de Caruaru (PE) a otimizar o uso dos testes, os pesquisadores do Brasil Sem Corona cruzaram as informações enviadas por moradores da cidade com dados oficiais de síndromes respiratórias do município e identificaram seis áreas de risco de infecção. A prefeitura optou por enviar os testes para uma região de sobreposição de duas dessas áreas, em que os moradores teriam de 34% a 38% mais chance de serem casos positivos de Covid-19 em relação aos de outras regiões.

Com a aplicação dos exames, 32% das pessoas testaram positivo, o que quer dizer que a análise do Brasil Sem Corona apresentou um acerto no intervalo de 84% a 94%. A prefeitura também realizou testes em áreas fora daquela região e o resultado foi que apenas 3% das pessoas testaram positivo.

“A testagem depende da disponibilidade de materiais e, em um cenário de escassez como o do Brasil, deve ser usada de maneira muito eficiente e otimizada para evitar qualquer tipo de desperdício. A experiência em Caruaru mostra como a vigilância participativa consegue empoderar uma estratégia ou política pública de direcionamento de testes para Covid-19 de maneira inteligente e robusta”, diz Onicio Leal, epidemiologista e PhD em Saúde Pública, cofundador da startup Epitrack, à frente do Movimento Brasil Sem Corona.

“A parceria com o Brasil Sem Corona é imprescindível para o uso dos recursos públicos de maneira adequada e eficiente. Com vigilância participativa, conseguimos atuar mais perto da população e do que ela realmente precisa, além de aumentar a eficiência do serviço público”, diz Francisco Santos, secretário de Saúde de Caruaru (PE).

Além de Caruaru, outras gestões públicas optaram por usar as informações do Brasil Sem Corona para entender tendências da doença e melhorar o tipo de informação que usam para combatê-la, como é o caso de Maceió (AL), Teresina (PI), Ipojuca (PE) e Santo André (SP).

Construção do mapa do Brasil Sem Corona

O mapa do Brasil Sem Corona mostra com geolocalização aproximada e atualização em tempo real os casos considerados suspeitos de Covid-19, graves, confirmados, com alguns sintomas e sem sintomas. A partir do relato dos cidadãos, a classificação é feita por um modelo epidemiológico sindrômico desenvolvido por pesquisadores da Epitrack, startup de inteligência de dados para o monitoramento e controle de doenças, que é referência internacional para a detecção de epidemias.

O Movimento Brasil Sem Corona é uma iniciativa conjunta da Epitrack e a startup Colab, plataforma colaborativa de engajamento de cidadãos e governos, por onde os voluntários reportam como estão se sentindo. O Colab foi escolhido como plataforma para a pesquisa por já ser usado por mais de 300 mil brasileiros em milhares de municípios e ser adotado por mais de 100 prefeituras para uma gestão pública mais eficiente e colaborativa.

A iniciativa tem apoio da Amazon Web Services (AWS), que doou US$ 75 mil em créditos de servidores para a plataforma do Brasil Sem Corona.

Pesquisadores e organizações interessados em desenvolver estudos independentes a partir das informações produzidas pela iniciativa podem solicitar acesso à base de dados do movimento.

Vigilância participativa no combate à Covid-19

Diante da ameaça da pandemia do novo coronavírus, muitos países têm usado plataformas de vigilância participativa para ajudar no combate à Covid-19.

Dois estudos científicos publicados recentemente legitimaram a metodologia como estratégia para prever picos de casos confirmados da Covid-19. Os estudos foram realizados a partir de relatos de mais de 2,5 milhões de voluntários por meio de um aplicativo usado nos Estados Unidos e no Reino Unido. Uma das pesquisas, publicada na revista Science*, mostrou que o método conseguiu antecipar com 5 a 7 dias de antecedência dois picos de notificação oficial da doença no sul do País de Gales.

No Brasil, a vigilância participativa foi usada pelo governo federal em 2014, durante a Copa do Mundo, e em 2016, nos Jogos Olímpicos, para monitorar possíveis focos de epidemias durante os eventos em massa, por meio de uma parceria com a Epitrack.

Redação

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