Os preços dos medicamentos vendidos aos hospitais no Brasil cresceram 1,32% em janeiro, revela o Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), indicador inédito criado pela Fipe em parceria com a Bionexo, health tech especialista em soluções digitais para gestão em saúde. É a segunda alta do índice após quatro quedas seguidas. Em dezembro do ano passado, o indicador avançou 1,37%, enquanto houve recuos nos meses de outubro (-0,11%), agosto (-1,82%), setembro (-2,48%) e novembro (-0,65%). Com esse resultado, o indicador acumula alta de 15,57% nos últimos 12 meses.
A variação em janeiro foi impulsionada pelo avanço no preço médio de medicamentos atuantes no sistema musculesquelético (+12,33%), aparelho digestivo e metabolismo (+9,90%), sistema nervoso (+3,59%), entre outros grupos de medicamentos. Esses grupos, vale ressaltar, incluem medicamentos utilizados pelos hospitais em casos graves relacionados à Covid-19, como propofol (anestésico), fentanila (analgésico) e omeprazol (distúrbios gastrointestinais).
Comparativamente, o resultado do IPM-H em janeiro superou a inflação oficial do país medida pelo IPCA/IBGE (+0,25%), mas não o comportamento dos preços medido pelo IGP-M/FGV (+2,58%). Além disso, a elevação do IPM-H em janeiro foi menor do que a variação da taxa média de câmbio no mês (+4,09%).
A segunda alta seguida do IPM-H após quatro quedas consecutivas traz indícios de um novo ciclo de alta dos preços, possivelmente associado ao agravamento do quadro da pandemia no Brasil e no mundo. As crises sanitária e econômica no país têm afetado os preços dos produtos pela combinação de vários fatores, entre eles o aumento da demanda dos sistemas de saúde, desabastecimento do mercado doméstico, efeitos cambiais e do preço de insumos.
Crescimento na pandemia
Desde o início da pandemia, entre fevereiro e janeiro de 2020, o índice registrou um crescimento de 13,63%. Nesse horizonte, o IPM-H superou a variação do IPCA/IBGE (alta acumulada de 4,35%). Por outro lado, a variação no preço médio dos medicamentos ficou abaixo da variação acumulada do IGP-M/FGV (alta acumulada de 25,76%) e também da variação na taxa de câmbio no período (+23,39%).
O comportamento do IPM-H durante a pandemia é explicado pela elevação no preço médio observada quase todos os grupos, destacando-se as variações no preço médio de medicamentos atuantes no aparelho digestivo e metabolismo (+64,44%), sistema nervoso (+51,37%), aparelho cardiovascular (+46,53%), sistema musculoesquelético (+36,33%), entre outros.
Exemplos dos medicamentos que contribuíram no comportamento do IPM-H na pandemia da Covid-19 incluem: norepinefrina (terapia cardíaca e suporte vital), fentalina (analgésico), propofol (anestésico), midazolam (hipnótico/sedativo/tranquilizante), omeprazol e pantoprazol (antiácidos utilizados no tratamento de dispepsia/úlcera gástrica e outros distúrbios gastrointestinais).
Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro de 2021, o IPM-H acumula uma elevação de 15,57%. Nesse recorte temporal, os grupos que mais contribuíram para a forte alta do índice incluíram: aparelho digestivo e metabolismo (+76,16%), sistema nervoso (+52,55%), aparelho cardiovascular (+46,98%), sistema musculesquelético (+36,46%) e sangue e órgãos hematopoiéticos (+17,81%).
Em oposição, os grupos com as menores variações incluem: agentes antineoplásicos/ quimioterápicos (+1,16%), anti-infecciosos gerais de uso sistêmico (+1,89%), medicamentos atuantes no aparelho geniturinário (+7,77%), órgãos sensitivos (+8,67%), aparelho respiratório (+9,21%), imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+9,70%) e preparados hormonais sistêmicos (+12,86%).
Em 2020, o IPM-H acumulou uma alta anual de 14,36%. Nesse horizonte, os grupos que mais contribuíram para a forte alta do índice incluíram: aparelho digestivo e metabolismo (+69,96%), aparelho cardiovascular (+54,22%), sistema nervoso (+48,16%), sistema musculesquelético (+20,67%) e sangue e órgãos hematopoiéticos (+16,05%).
Em contraste, os grupos com as menores variações incluíram: agentes antineoplásicos / quimioterápicos (+1,06%), anti-infecciosos gerais de uso sistêmico (+3,65%), medicamentos atuantes no aparelho geniturinário (+5,81%), órgãos sensitivos (+8,23%), aparelho respiratório (+8,67%), imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+9,56%) e preparados hormonais sistêmicos (+11,45%).
IPM-H
O Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H) é uma parceria entre a Fipe e a Bionexo, com o objetivo de disponibilizar informações inéditas e de interesse público relacionadas à área de saúde, com foco no comportamento de preços de medicamentos transacionados entre fornecedores e hospitais no mercado brasileiro. O IPM-H é elaborado com base nos dados de transações realizadas desde janeiro de 2015 através da plataforma Bionexo, por onde são transacionados mais de R﹩ 12 bilhões de negócios no mercado da saúde por ano, o que representa cerca de 20% de tudo que é transacionado no mercado privado nacional.
A health tech conecta mais de duas mil instituições de saúde a mais de 20 mil fornecedores de medicamentos e suprimentos hospitalares. A cada mês e para cada grupo de medicamentos, a FIPE calcula o índice de variação do seu preço em relação ao mês de referência, levando em consideração algumas variáveis que podem ser relevantes para determinar o preço das negociações, incluindo: (i) quantidade de produtos transacionada; (ii) distância geográfica entre hospitais e fornecedores.
Os medicamentos são agrupados em 13 grupos terapêuticos (classificação da ATC*) e ponderados de acordo com uma cesta de valor total transacionado na plataforma Bionexo no ano anterior. O IPM-H consolida o comportamento dos índices dos preços de cada grupo terapêutico, também ponderados pelo valor transacionado do grupo na plataforma.
Embora possam estar correlacionados, o comportamento do IPM-H não mensura o comportamento dos preços de medicamentos em farmácias, isto é, nos preços ao consumidor final (segmento varejo). Além disso, o IPM-H não é uma medida de variação dos custos dos hospitais e/ou planos de saúde, que envolvem também gastos com equipamentos, procedimentos, materiais recursos humanos, protocolos de tratamento/atendimento e segundo frequência de uso.