Nova técnica não invasiva se mostra equivalente a atual medição invasiva de pressão intracraniana

Estudo de pesquisadores brasileiros comparou o padrão-ouro de medir a pressão intracraniana, uma técnica invasiva realizada por meio da inserção de um cateter na caixa craniana, com a tecnologia de monitoramento não invasivo da variações de volume/pressão dentro do crânio (complacência intracraniana) da brain4care. Os pesquisadores concluíram que há concordância entre os resultados dos dois métodos, e, além disso, que a tecnologia não invasiva tem competência para detectar a hipertensão intracraniana. A pesquisa ‘Morfologia de forma de onda como substituto para monitoramento de PIC: uma comparação entre um método invasivo e não invasivo’, liderada pelo neurologista Fabiano Moulin de Moraes, do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi publicada na Neurocritical Care*.

Segundo Moraes, a  existência dessa correlação fortalece a possibilidade de uma mudança de protocolo em relação ao monitoramento da pressão intracraniana, com o uso da tecnologia de monitoramento não invasivo da complacência intracraniana na rotina assistencial. Para o pesquisador, a tecnologia poderá ser utilizada na triagem ou no acompanhamento de pacientes que, por exemplo, apresentam contraindicações para a técnica padrão-ouro. “Há situações em que o monitoramento invasivo padrão-ouro esbarra em limitações, como casos de pacientes com ventrículos pequenos, que apresentam risco de hemorragia na inserção do cateter (entre 5% e 7%) e têm risco cumulativo progressivo de infecção intracraniana (até 25% após 5 dias)”, informa.

Portanto, é fácil de entender a importância da busca por uma maneira não invasiva de monitoramento da pressão intracraniana na terapia intensiva neurológica. Moraes destaca que  estudos realizados com outras tecnologias não invasivas já descritos na literatura não revelaram qualquer método que tenha alcançado a precisão necessária, a disponibilidade e a capacidade de análise contínua.

Para a investigação foram selecionados pacientes adultos internados na unidade de terapia intensiva neurológica do Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, com acidente vascular cerebral isquêmico (quando há obstrução de vasos sanguíneos) ou acidente vascular cerebral hemorrágico (ruptura de vaso sanguíneo), que necessitaram do monitoramento padrão-ouro. Os 18 pacientes inseridos na pesquisa foram avaliados de março de 2019 a março de 2020 simultaneamente com o método invasivo de medição da pressão intracraniana e o não invasivo de monitoramento da complacência intracraniana. No total, os pesquisadores realizaram 60 monitoramentos não invasivos, totalizando cerca de 2.500 minutos.

A escolha dos pacientes, conforme Moraes, teve como base dois fatores: a conveniência de ter esse perfil na unidade de terapia intensiva do Hospital São Paulo e a busca por uma homogeneidade no grupo que seria estudado, aspecto importante porque cada doença tem sua especificidade em relação à pressão intracraniana. A pressão intracraniana se eleva quando um dos três componentes existentes no cérebro – tecido, sangue arterial e venoso e líquor – aumenta rapidamente, causando desequilíbrio. “Isso acontece, por exemplo, quando há o rompimento de um vaso devido a um acidente vascular cerebral e o sangue inunda o cérebro. Esse quadro pode levar o paciente a óbito ou causar danos secundários.  Portanto, o monitoramento para prevenir esses danos é fundamental no manejo desses pacientes”, explica.

O pesquisador ressalta que no monitoramento não invasivo, as alterações na complacência podem ser detectadas muito antes do efetivo aumento da pressão intracraniana. “Se por um lado isso quer dizer que haverá pacientes hipertensos e não hipertensos com a complacência alterada, por outro permite descartar hipertensão intracraniana em quadros de morfologia normal”, diz.

Para Moraes, embora o trabalho tenha sido específico em acidente vascular cerebral hemorrágico e isquêmico, faz sentido presumir que a competência apresentada pelo monitoramento não invasivo da complacência intracraniana nesses quadros se estende a outras situações. “Isso precisa ser validado por mais estudos científicos que podem contribuir para consolidar os alicerces de sustentação de um novo sinal vital, que irá mudar paradigmas no protocolo de tratamento de várias doenças em prol dos pacientes”, ressalta.

* Artigo publicado na Neurocritical Care: link.springer.com/article/10.1007/s12028-022-01477-4

Redação

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