A depressão pós-parto, que na pandemia registrou o dobro do número de casos em vários países – conforme diversas pesquisas – apresenta um grande dilema: como tratar com medicação antidepressiva a mulher que está amamentando? Os sintomas que indicam a doença devem ser valorizados pelos parentes, a exemplo da falta de interesse por atividades que antes eram prazerosas; redução ou ganho rápido de peso; falta ou excesso de sono; muito cansaço; ansiedade e preocupação exacerbada; sentimento de culpa; tristeza; dificuldade para tomar decisões e de se concentrar e desejo de prejudicar ou fazer mal ao bebê ou a si própria. Estas são as indicações principais.
De acordo com a neurocirurgiã Juliana Zuiani, o tempo de duração dos sintomas varia. Pode começar logo após o nascimento do bebê até meses depois. “O tratamento deve se iniciar o mais cedo possível para que o vínculo entre mãe e a criança se estabeleça precocemente. Como não há um exame específico que acuse o diagnóstico da doença, a avaliação precisa ser feita por um profissional. A terapia com medicação antidepressiva pode demorar de três meses a 18 meses para apresentar melhora e há o risco de a depressão tornar-se crônica”.
A primeira atitude da família, segundo Dra. Juliana, é não desprezar ou subestimar o sentimento da mulher, mas ajudar, apoiar e dar suporte para o agendamento e ida aos especialistas.
A Dra. Juliana recebe em sua clínica muitas pacientes que buscam solução isenta de medicação para a depressão pós-parto. Algumas vêm encaminhadas por seus psiquiatras, ginecologistas ou mesmo acompanhadas de familiares.
Para pacientes com esse perfil, a sugestão da Dra. Juliana é Terapia Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), que traz resultados bastante eficazes, com a enorme vantagem de não ter contraindicação para quem está amamentando, pois o tratamento é isento de produtos farmacológicos. “A EMT apresenta mais de 90% de casos resolutivos, com destaque ainda para a recidiva, que é bem menor do que na terapia medicamentosa”, enfatiza a médica.
Técnica segura
A Estimulação Magnética Transcraniana ocorre por meio de uma bobina, semelhante a um capacete, colocada na cabeça da paciente. O dispositivo emite pulsos magnéticos que atuam sobre o cérebro de forma estipulada, sem necessidade de corte e sem causar dor. Durante a aplicação, a paciente não adormece e pode voltar para casa normalmente ao término da sessão.
Dra. Juliana afirma que o tratamento com EMT já é a primeira escolha em muitos países, mas no Brasil sequer é conhecido pela maior parte dos profissionais de saúde. “A técnica é segura e não apresenta efeitos colaterais. Alguns pacientes registram um pequeno desconforto durante o procedimento, mas diferentemente de outras terapias, não há prejuízo algum à cognição”, frisa ela.
Segundo a Dra. Juliana, o campo magnético criado pelo aparelho gera uma corrente elétrica que ativa circuitos chamados de “recompensa”. Com a liberação de neurotransmissores, como a Dopamina, dão de volta à paciente a sensação de alegria e bem-estar, elevando a motivação.
As sessões têm duração aproximada de 20 minutos cada e são diárias, por um período de quatro semanas. Somente a primeira sessão leva em torno de meia hora para que faça as marcações. A médica conta que os dados são registrados numa touca, que será usada pela paciente até o fim do tratamento. Semanalmente são reavaliados os parâmetros da estimulação de acordo com o limiar de cada paciente, que pode variar. Dra. Juliana afirma que são necessárias de 20 a 30 sessões.
O sucesso da terapia é medido pela redução ou pelo desaparecimento dos sinais da depressão. “As melhoras são consistentes e duradouras, mas em até 15% dos casos os sintomas podem voltar”, observa a especialista.