Nesta terça-feira (4), na abertura do 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML), ocorreu a mesa redonda “À quantas anda o jejum nos Laboratórios?”, em que especialistas da área trocaram experiências acumuladas e falaram sobre o estado da arte acerca do tema jejum, que beneficia o paciente.
Para debater o tema foram reunidos os profissionais Dr. Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, médico patologista clínico e presidente da SBPC/ML; Dra. Marileia Scartezini, farmacêutica bioquímica, Mestre em Bioquímica (UFFPR), Doutora em Genética (UFPR e USP-Ribeirão Preto), Pós-Doutora em Hipercolesterolemia Familiar (UCL – Londres); Dr. Nairo Massakazu Sumita, professor colaborador da disciplina de Patologia Clínica da Faculdade de Medicina USP, diretor do serviço de Bioquímica Clínica da Divisão de Laboratório Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, consultor médico em Bioquímica Clínica – Fleury Medicina e Saúde e o Dr. Pedro Saddi Rosa, doutor em Endocrinologia Clínica na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP, especialista em Patologia Clínica e Medicina Laboratorial pela SBPC/ML e diretor científico da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Durante a mesa redonda, os doutores discutiram sobre o que mudou em relação as exigências de jejum por parte dos laboratórios. Em 2016, foi lançado o documento “Consenso Brasileiro para a Normatização da Determinação Laboratorial do Perfil Lipídico” elaborado em conjunto pelas Sociedades Brasileiras: Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Análises Clínicas (SBAC), Cardiologia/Departamento de Aterosclerose (SBC/DA), Diabetes (SBD) e Endocrinologia e Metabologia (SBEM) que flexibilizou a necessidade de jejum de 12 horas para coleta de perfil lipídico.
Seguindo este mesmo conceito, a coleta de diversos outros exames laboratoriais sem a necessidade de um jejum rígido virou prática rotineira nos laboratórios clínicos.
Em relação às diferentes diretrizes que abordam o perfil lipídico nota-se que ainda não existe um consenso acerca da necessidade ou não do jejum. De modo geral, valores referenciais distintos para estado de jejum e não jejum foram estabelecidos ao se optar pela não necessidade do jejum para coleta do perfil lipídico.
Alguns exames ainda exigem obrigatoriamente a necessidade de um jejum mínimo, como por exemplo, a dosagem de glicose para diagnóstico de diabetes que exige 8 horas. De outro lado, existem artigos científicos orientando a coleta preferencialmente no período da manhã, em razão de variações circadianas.
“Os interferentes pré-analíticos decorrentes do não jejum ainda representam um grande desafio aos laboratórios clínicos, sendo a hipertrigliceridemia decorrentes de alteração de hábitos alimentares, ingestão alcoólica, ingesta de alguns medicamentos, práticas de exercícios físicos extenuantes previamente à coleta de sangue, entre outros, fator de potencial interferência nos ensaios laboratoriais”, afirma o Dr. Nairo Sumita que participou da mesa redonda.
O Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial ocorre até sexta-feira (7) no CentroSul Centro de Convenções, em Florianópolis (SC). O evento reúne em média 4,2 mil participantes entre congressistas, visitantes, palestrantes e expositores do Brasil, América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia.
Conferência expõe aplicações da genômica para diagnósticos e medidas preventivas em diversas áreas da medicina
A conferência “Aplicações práticas da Gênômica e da Bioinformática no contexto clínico-laboratorial”, realizada no 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML), das 17h às 17h45, na terça-feira (4), foi apresentada pelo Dr. João Bosco de Oliveira Filho, médico-cientista com mais de 10 anos de experiência em genética e imunologia, e pela Dra. Tatiana Ferreira de Almeida, médica geneticista do Hospital Israelita Albert Einstein.
A sessão expôs as diversas aplicações da genômica, ramo da genética que estuda o genoma completo de organismos, em diversas áreas da medicina atual, a serviço tanto em busca do melhor diagnóstico, quanto da prevenção.
“A genômica tem ajudado a tratar pacientes com câncer por meio do estudo detalhado dos tecidos e, assim, definir qual é a melhor droga para ser prescrita àquele tumor específico, com suas alterações genéticas peculiares”, destaca o Dr. João Bosco.
Também foi apresentado o uso da genômica complementado por ferramentas modernas para um diagnóstico rápido. O sequenciamento do genoma completo, o exoma completo, pode ajudar a encurtar a odisseia diagnóstica de pacientes com doenças raras, graves e difíceis. Uma odisseia diagnóstica se refere a uma jornada diagnóstica que está atrasada, pausada ou chegou a um impasse.
“Com o genoma completo, doenças que levariam de 5 a 7 anos para serem diagnosticadas já podem ser identificadas em algumas semanas”, revela Dr. Bosco.
Outro uso da genômica abordado na palestra foi na área de medicina reprodutiva. A análise das informações durante a gestação de um bebê acusa se há alguma doença cromossomal, como síndrome de down. É possível diagnosticar esse tipo de alteração no feto ainda dentro do útero, por meio de um exame de sangue. A genômica pode, também, ser utilizada na fertilização in vitro para triar o embrião mais saudável e, assim, aumentar consideravelmente as chances de sucesso de uma gestação.
Adicionalmente, foram apresentados os benefícios da farmacogenômica, ramo da farmacologia que estuda como os genes herdados afetam a forma de resposta aos medicamentos pelo organismo humano. Nesse contexto, “a genômica auxilia a potencializar os genes metabolizadores de remédios, com o intuito de ajustar precisamente a dose de medicamentos, ou, ainda, identificar drogas que podem causar efeitos colaterais e adversos graves”.
Por fim, a genômica a serviço da prevenção consiste no estudo dos genes de um indivíduo a ponto de identificar se possuímos um risco maior, diferente da população em geral, para algumas doenças graves, como câncer, distúrbios cardiovasculares e aneurismas. Assim, é possível prescrever cuidados preventivos específicos, baseados no risco pessoal de cada paciente.
Mesa redonda apresenta exames de laboratórios essenciais para definição precisa de terapias e garantia de qualidade de vida aos pacientes de fibrose cística
“Exames de Laboratórios na Fibrose Cística” foi o tema da mesa redonda realizada no 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (CBPC/ML), das 9h às 10h45, na terça-feira (4).
Sob a coordenação do dr. Armando Fonseca, fundador e diretor geral do Laboratório DLE e diretor médico de Medicina Personalizada do Grupo Pardini, e com as palestras da dra. Eliane Rosseto, patologista clínica, do dr. Wagner Baratella, geneticista líder de Genética Médica do Fleury Medicina e Saúde, e da dra. Elizabeth Andrade Marques, cardiologista, o painel detalhou os mais modernos exames diagnósticos da fibrose cística, também, conhecida como mucoviscidose.
Trata-se de uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões, em que a criança nasce sem sintomas, mas que evolui com gravidade de forma rápida, com retenção de secreção pulmonar e ocorrência de repetidas infecções. Sem diagnóstico e tratamento adequados, leva a óbito a maioria das pessoas antes de chegar à adolescência, com sintomas de falta de ar, desnutrição e após muitas internações.
“Com o diagnóstico precoce, no entanto, por meio da triagem neonatal e outras técnicas moleculares de exame genético, logo após as primeiras suspeitas, várias terapias são propostas para acompanhar essas pessoas”, tranquiliza o dr. Armando Fonseca. “Assim, os pacientes diagnosticados precocemente conseguem ter uma vida próxima do normal com expectativa de vida por volta dos 50 anos, não havendo pacientes mais longevos apenas porque o tratamento é ainda recente”, acrescenta.
A mesa de debates teve três estágios. No primeiro, a dra. Eliane Rosseto falou sobre o popular “teste do pezinho”, exame rápido em que gotinhas de sangue do calcanhar do bebê são coletadas com a finalidade de diagnosticar uma série de doenças genéticas, entre elas, a fibrose cística; e o teste do suor, que confirma os achados no teste do pezinho. Esse segundo teste consiste em dosar sódio e cloro no suor da criança, a fim de identificar uma deficiência no transporte do cloro por conta de mucosas e fluidos corpóreos muito espessos.
No segundo estágio da mesa redonda, o dr. Wagner Baratella, falou sobre os painéis genéticos, que é a análise de um conjunto de genes da fibrose cística para identificar qual é o tipo da doença entre centenas de diferentes mutações que já são descritas. Apenas com o teste genético é possível confirmar e caracterizar essa doença, definindo a prescrição da melhor terapia indicada especificamente para o tipo de mutação genética de fibrose cística que a criança tem.
Por fim, no terceiro e último estágio a dra. Elizabeth Andrade Marques abordou testes em microbiologia, o exame bacteriológico que é um dos principais parâmetros que auxiliam o diagnóstico e manuseio da infecção respiratória dos pacientes com fibrose cística. Esse exame define a terapia e determina a qualidade de vida do paciente por meio da identificação precisa de patógenos respiratórios, que serve como guia para o uso adequado de antibióticos no tratamento da infecção.