O mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo com a saúde pública?

No dia 16 de setembro, pesquisadores de diversos estados brasileiros se reúnem no Fórum Meio Ambiente e Câncer da Criança, que acontecerá no Centro Infantil Boldrini, em Campinas (SP), para falar sobre os impactos das atividades socioeconômicas atuais na saúde das crianças. Entre os temas abordados estará a estreita relação entre globalização e saúde pública, conectando questões sociais, econômicas e ambientais, assim como seus efeitos a curto e longo prazos.

Destacam-se, nesse cenário, as incertezas inerentes à incessante busca por crescimento econômico e inovações tecnológicas, e às mudanças climáticas e suas possíveis consequências.

Para o professor Gastão Wagner, da UNICAMP, especializado em Saúde Coletiva, um sistema social e econômico que acelera globalmente a acumulação de capital e resulta em concentração extrema de riqueza, é inconsistente com o alcance de metas de justiça social, equidade e de promoção da saúde. “Não vivemos em condições de escassez econômica. Estamos vivendo em condições de extrema desigualdade. Nossas vozes de oposição à globalização, que devasta, explora e aumenta a disparidade econômica, precisam ser levantadas para serem mais altas e mais fortes. Princípios, valores, comprometimento ético-político e evidências estão do lado da saúde pública”, afirma.

Para ele, as práticas inerentes à globalização, que prima pelo crescimento econômico, têm negligenciado a atenção à saúde, uma vez que ignora os direitos humanos no que se relacionam à questão dos impactos socioambientais gerados por estes produtos e pelo modelo de desenvolvimento que os sustentam.

Um exemplo simples é o uso dos agrotóxicos. Enquanto o investimento em pesquisa sobre novos produtos agrotóxicos cresceu progressivamente, o mesmo não aconteceu com a pesquisa em torno dos impactos dos agrotóxicos para a saúde e o ambiente natural. É um momento de refletirmos o que queremos da vida.

Este cenário gera violações cotidianas aos direitos humanos de trabalhadores do campo e da indústria agroquímica, trabalhadores da saúde, além dos próprios consumidores que consomem alimentos e água contaminados.

Para o professor Luiz C. M. Filho, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, a conta do crescimento econômico global está se tornando impagável. “O crescimento chegou no teto do meio ambiente, chegando ao limite histórico em que ainda pode gerar benefícios para a humanidade”, afirma.

Entre os sinais que já estão aparecendo em virtude da devastação, o professor cita as temperaturas cada vez mais altas e letais, secas prolongadas e incêndios que exterminam remanescentes florestais, extinções maciças de espécies de vertebrados e invertebrados, solos menos fecundos, quebras de colheitas, insegurança alimentar crescente, poluição, intoxicação, pandemias, alteração das marés, e entre outros.

“É preciso urgentemente desglobalizar a economia e colocá-la a serviço da diminuição dos impactos ambientais. Sabemos que não é algo fácil de ser colocado em prática, mas é preciso atacar a causa da doença, antes que se torne terminal”, destaca o professor.

“Mais especificamente, isso significa abandonar em regime de economia de guerra tudo o que faça aumentar as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa: a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento, o complexo industrial-militar, a cadeia corporativa da petroquímica, da agroquímica e do sistema alimentar baseado em rebanhos gigantescos e no consumo crescente de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados. Significa investir, portanto, em políticas proativas de decrescimento demoeconômico, a começar pelo direito humano fundamental de ter acesso gratuito e assistido pelo Estado a todas as formas de anticoncepcionais e de interrupção da gravidez. Significa investir em transporte coletivo de qualidade de pessoas e mercadorias, em generalização da infraestrutura sanitária, em uma agricultura local e orgânica, produtora de alimentos saudáveis e não de commodities, que só enriquecem o agronegócio em detrimento das florestas, de seus povos e da saúde da sociedade em geral. Significa renunciar de uma vez por todas ao sonho hollywoodiano de matrizes energéticas poderosas, baratas e ilimitadas e resignar-se a níveis muito menores de consumo de energia e de bens, o que é obviamente impossível, mantida a engrenagem econômica concebida para o benefício dos 10% mais ricos da humanidade”, complementa, destacando que “é ilusão pensar que os atuais Protocolo de Kyoto, Acordo de Paris, Objetivos do desenvolvimento Sustentável e Metas de Aichi darão conta do recado. Esses são textos diplomáticos, negociados de forma a reduzir metas de devastação desde que não prejudiquem planos de crescimento econômico. Isso não é suficiente”.

Fórum Meio Ambiente e Câncer da Criança

No próximo dia 16 de setembro, acontece no Centro Infantil Boldrini, em Campinas (SP), o Fórum Meio Ambiente e Câncer da Criança. Na programação, palestras dos professores citados na matéria acima:

14h30 – O Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo por nós? Gastão Wagner de S. Campos (UNICAMP/ABRASCO)

15h30 – Dimensões éticas, culturais, políticas e legais do capitalismo e colapso ambiental. Luiz C. M. Filho (IFCH da UNICAMP)

Para se inscrever, basta acessar: bitt.com.br/evento/exibir/871

Redação

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