A pauta ESG chegou com força às instituições de saúde após a pandemia de Covid-19. A necessidade de melhor gestão do ecossistema, incorporando iniciativas pública e suplementar, fez a pauta se tornar fixa e necessária no setor.
Além disso, o desafio de como economizar energia – uma vez que são os equipamentos que mantêm os pacientes vivos – e otimizar recursos – já que o setor é o grande gerador intensivo de resíduos, sobretudo os infectantes e perfurocortantes – fez com que estas demandas criassem um ambiente de urgente discussão sobre a sustentabilidade das instituições de saúde.
Somados a estes desafios, a gestão de pessoas e a promoção de equidade de gênero no atendimento ganharam mais espaço, mostrando barreiras entre iniciativas pública e suplementar. Esse será um dos assuntos em pauta no Conahp 2022, promovido pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados). Sob o tema “Saúde 2022: a mudança que o Brasil precisa”, o evento acontece de 7 a 11 de novembro.
Como uma demanda encabeçada pela ONU (Organização das Nações Unidas), nasceu, em meados dos anos 2000, a pauta ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance), em português Governança Ambiental, Social e Corporativa. Implementada primeiramente nas instituições financeiras, migrou depois para os demais setores. No ambiente da saúde, por exemplo, a produção do chamado lixo hospitalar, estimada em 480 mil toneladas por ano, teve um acréscimo de 20% somente na pandemia, segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).
“Os hospitais privados estão cada vez mais conectados com a política de otimização de recursos. Os princípios ESG demandam, muitas vezes, departamentos próprios para gerenciar, não apenas recursos, pensando na sustentabilidade do funcionamento do hospital, mas também a governança corporativa e social que contribui para a sustentabilidade de todo setor”, destaca Fernando Torelly, conselheiro da Anahp, Superintendente Corporativo-CEO no Hcor e idealizador e presidente da Associação Voluntários da Saúde.
Mas ele reconhece que o desafio é ainda muito amplo, haja vista que ainda “menos de 6% dos hospitais possuem um processo de acreditação hospitalar (auditoria de processos assistenciais e de qualidade e segurança)”. “Precisamos avançar com força nas diferentes pautas em favor dos pacientes, saúde e sociedade.”
Torelly lidera a Associação Voluntários da Saúde, que oferece apoio para a qualificação da gestão de instituições de saúde que atendem o sistema público. “No SUS, são as dificuldades mais latentes. É necessário melhorar o financiamento e desenhar um melhor modelo de governança e investimentos na qualificação das práticas de gestão.”
Ainda segundo o CEO, as instituições privadas possuem maior flexibilidade na condução da operação de um hospital, sem as amarras da gestão pública nas tomadas de decisão.
Arthur Lima, sócio-fundador da AfroSaúde, especialista em Saúde da Família e mestre em Saúde, Ambiente e Trabalho pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), ressalta que, no setor público, as dificuldades são mais marcantes para a implementação da pauta ESG. “A saúde suplementar consegue inserir esta pauta de maneira muito mais fácil, porque não enfrenta os obstáculos que o SUS possui, como, por exemplo, tentativa de desmonte e interferência governamental.”
Conforme Lima, o assunto ESG dentro do SUS ainda está muito tímido. “O SUS enfrenta muitos problemas com o seu modelo de gestão. Vejo que, quando a iniciativa privada atua em parceria com o sistema, é possível inserir a pauta de ESG, pois o processo exige de fato identificar o problema, traçar estratégias e, principalmente, realizar atividades de educação permanente com profissionais da assistência, gestores e todas as pessoas que direta ou indiretamente participam dos cuidados dos usuários. Estamos falando sobre saúde e precisamos olhar para além da medicina”, relata.
O executivo da AfroSaúde afirma ainda que, durante a pandemia, foram observadas condutas de pacientes e usuários dos serviços em relação a casos de discriminação com profissionais negros.
“Mesmo após a pandemia de Covid-19, a pauta da diversidade é bem tímida na saúde, mas vejo iniciativas importantes acontecendo em termos de atuação e formação de profissionais. Quando era residente em Saúde da Família, a pauta equidade e diversidade não estava presente dentro da minha unidade e nem no contexto do município que atuava. Eu perguntava sobre a raça/cor dos meus pacientes e conseguia analisar, a partir dos meus dados de atendimento, diferenças marcantes relacionadas à saúde bucal dos pretos e pardos, quando comparados com os não-negros”, relembra Lima.
Ele descreve as unidades que trabalhava como mais deterioradas e condenadas a procedimentos mais invasivos. “A partir de dados e informações, conseguimos discutir e traçar possíveis caminhos.”
O médico pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Fleury Johnson, por meio do Instituto de Diversidade e Inclusão em Saúde (Instituto DIS), fomenta a diversidade e inclusão para dentro dos hospitais privados. “Trabalhamos educação inclusiva, antiracista, anti-homofóbica para os profissionais de saúde, a partir das universidades, além de participar de processos de contratação de médicos e médicas negras”, explica.
Para ele, ainda há muito a avançar, olhando para os hospitais de grande porte. “Os profissionais estão muito despreparados para o atendimento de pacientes de grupos sub-representados. As redes de saúde conseguem formentar o trabalho para o quadro administrativo, porém isso não chega para a ponta, que são os profissionais de saúde, que lidam diretamente com os pacientes, o que pode gerar grande problema e exposição das marcas”, finaliza Johnson.
Em 2022, a Anahp lançou o livro “ESG nos hospitais Anahp: resultados e boas práticas”. A publicação mostra os resultados das ações em conjunto com os hospitais credenciados: R$ 119,6 milhões foram investidos. Desse valor, 22% são em saúde e bem-estar. Por meio de 193 projetos realizados, as iniciativas de gestão ESG fomentadas geraram, por exemplo, economia de 486 milhões de litros de água por mês, o equivalente a aproximadamente 194 piscinas olímpicas e ao consumo médio de mais de 162 mil pessoas por mês.
Arthur Lima, Fleury Johnson e Fernando Torelly debatem a agenda ESG no Brasil no dia 8 de novembro, a partir das 10h15, durante a digital do Conahp 2022. Veja a programação de palestrantes e debatedores.
Autoridade em saúde do Reino Unido fala de compaixão na promoção da Saúde
Abrindo a versão online do Conahp 2022 nesta segunda-feira (7), Nigel Crisp, membro da House of Lords, ex-diretor-executivo do NHS e ex-secretário de Saúde do Reino Unido, falou sobre importância da atenção para o cuidado do paciente, além das portas da clínica: entendendo a comunidade, seus anseios, suas dificuldades e a correlação das áreas como educação, segurança e até a natureza como agentes de promoção da saúde.
Sob o tema “O mundo de cabeça para baixo novamente – saúde global em uma época de pandemias, mudanças climáticas e tumultos políticos”, Crisp, que coincidentemente está positivo à Covid-19, destacou que a pandemia escancarou problemas em nível global, como a desigualdade, seja no acesso a tratamentos, seja no acesso a vacinas.
Conforme o britânico, a pandemia também demostrou a união e fluidez no trabalho público e privado. “Mas vimos que precisamos focar nas pessoas e não nos governos”, reiterou o ex-secretário, que se intitulou uma pessoa independente dentro do parlamento britânico.
Para ele, a saúde é um assunto que ultrapassa fronteiras, perpassa as comunidades, a sociedade, e desponta para a influência global. “Com esse novo governo eleito no Brasil, esperamos ter uma melhora.”
Crisp defendeu que o cuidado envolva mais do que as doenças, e comece na prevenção, por meio do conhecimento das comunidades onde as pessoas habitam, por meio da avaliação de necessidades locais e com compaixão, e não por imposição de métodos pré-estabelecidos nas salas dos mistérios.
Para exemplificar essa forma de promoção à saúde, que ele chamou de holística, citou casos do Reunido Unido em que escola, polícia e comunidade pensaram e resolveram juntos seus problemas, como a incidência em áreas mais pobres de depressão perinatal. Com o tempo, conforme disse o britânico, os filhos destas mulheres estavam na escola e longe da criminalidade. “Os relacionamentos estão acima do sistema”, defendeu.
Ele ainda afirmou que os grandes hospitais podem aprender com os países mais pobres, para a promoção de uma saúde centrada no indivíduo, escutando o que a população local tem a dizer.
Para isso, o britânico citou modelos brasileiros que se aproximam da comunidade para promover cuidado. “Essa ideia está se espalhando”, afirmou. Mas, dentro das universidades, Crisp entende que os profissionais do século 21 devem ser esses agentes de mudança e superar o ensino de como era antes. E ainda fez um alerta sobre as tecnologias do futuro como medicina artificial. “Lógico que existe as habilidades clínicas, mas deve haver mais espaço para compaixão e relacionamentos para influenciar pessoas, uma mudança dentro da cultura da medicina.”
A ecologia está no centro das discussões de Crisp como promotora de bem-estar. “Criar a saúde, a prevenção, e entender as causas de doenças, entram na questão de ecologia.”
De acordo com ele, essa é uma das formas de se criar condições para que as pessoas estejam saudáveis. “Existem evidências médicas que relacionam nosso bem-estar com o acesso à natureza, como a prevenção do Alzheimer. O isolamento social também pode ser prejudicial para a saúde mental.”
Crisp ainda opinou sobre o que pode ser útil no Brasil, dadas suas experiências no Reino Unido e África. “Se eu fosse conselheiro do presidente eleito, eu diria que bem-estar e saúde são a base da prosperidade de um povo, além de outras áreas que promovem bem-estar. Mas, no âmbito da saúde, existe muita coisa a ser feita como condição mínima. Saúde e prosperidade nem sempre é uma questão da economia. A proteção da Amazônia está relacionada com a saúde no Brasil. Aliás, a COP27 discute isso este ano.”
Sob o tema “Saúde 2022: a mudança que o Brasil precisa”, o principal congresso na área da saúde no país continua com a programação até 11 de novembro e terá três dias exclusivamente online e dois presenciais, com foco no reencontro e participação de lideranças e tomadores de decisão do setor, incluindo lideranças internacionais.
Fechando o Conahp, Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e membro da transição do governo Lula, fala sobre as perspectivas do setor no para os próximos quatro anos. Para ver toda a programação, clique aqui.
Conahp 2022 traz Arthur Chioro para discutir a saúde no novo governo Lula
Com as eleições definidas, Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e membro da coordenação do Programa de Saúde do governo Lula, é o convidado do Conahp 2022 para fechar a programação do evento, no dia 11. Além da apresentação de Chioro, o painel terá também um debate com representantes do legislativo, que discutirão os desafios e propostas à saúde para os próximos quatro anos.
Sob o tema “Saúde 2022: a mudança que o Brasil precisa”, o principal congresso na área da saúde no país acontece de 7 a 11 de novembro e terá três dias exclusivamente online e dois presenciais, com foco no reencontro e participação de lideranças e tomadores de decisão do setor, incluindo lideranças internacionais.
Com a moderação de Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), entidade que realiza o evento, Chioro falará sobre as prioridades do governo na saúde, bem como mudanças que serão feitas a partir de 2023. O painel começa a partir das 15h40, no palco principal. Para acessar toda a programação, clique aqui.
“Este é o momento de juntarmos lideranças, independentemente dos partidos, para discutir caminhos sustentáveis para o setor, que sofre com grandes problemas no âmbito da gestão, orçamento e equidade no acesso”, destaca Britto.
Pesquisadora e ativista indiana coloca crise climática no centro do debate da saúde
Abrindo o segundo dia da versão online do Conahp 2022 na terça-feira (8), a indiana Shweta Narayan, pesquisadora e ativista internacional de clima e saúde da Health Care Without Harm (HCWH), destacou que a crise climática global deve ser um assunto central no setor da saúde e apontou a importância dos hospitais como exemplos de construções sustentáveis, em linha com a mitigação dos problemas relacionados ao tema.
Shweta alertou para o fato de todos os sistemas ficarem ameaçados no contexto da crise climática, incluindo água, alimento e a própria economia, que, segundo ela, tem que ser pautada pela saúde. “Quando acontece, por exemplo, as pessoas adoecem e isso afeta os hospitais, que não estão preparados para acontecimentos fora da sazonalidade. Por isso, agir de forma proativa e preventiva é o caminho.” Ela se refere a casos de poluição e enchentes que afetam a saúde respiratória e aumenta a proliferação de doenças transmissíveis, respectivamente, e atinge, principalmente, as populações mais vulneráveis. “Acho que temos um chamado para sermos exemplos.”
A ativista chamou a atenção para que o setor atue como líder nas pautas do clima nas mesas globais de discussão. No entanto, ela ressaltou que, sem os próprios colaboradores entenderem os problemas climáticos, eles não podem ser agentes disseminadores de prevenção, de informações confiáveis, baseadas em evidências, como deveria ser. “Se continuarmos, 70 milhões de pessoas vão morrer por causa de estresse climático até o final do século. O setor da saúde pode salvar pelo menos metade delas se fizer essas ações.”
Ela ainda fez um alerta para a formação dos profissionais. “Nas faculdades, não temos matérias climáticas. Se não aprendemos isso na formação, a gente não entende isso na realidade. Como podemos ser um multiplicador?”, questionou. “A crise climática não é algo do futuro, é cada vez mais frequente.”
Hospitais como exemplo
A pesquisadora apontou ainda como as instituições não sustentáveis podem contribuir para os problemas do clima, paradoxalmente. De acordo com ela, é urgente o planejamento de hospitais mais sustentáveis, que atuem como exemplo, utilize energias renováveis, como a solar, otimizem a utilização de insumos, comprem alimentos de produtores locais e trabalhem para a diminuição da pegada de carbono. “O sistema de saúde contribui com 5% de emissões de gases carbônicos.”
Shweta é parceira do projeto Hospitais Saudáveis, iniciativa brasileira que lidera o estudo de redução da pegada de carbonos nos hospitais e clínicas. “Combustíveis fosses são um dos principais fatores de problemas climáticos. Ocasionam 13 mortes por minuto.” São 100 instituições de saúde com inventários anuais. “Não é suficiente, mas não é pouca coisa. E o Brasil aponta como exemplo em vários sentidos.”
Sob o tema “Saúde 2022: a mudança que o Brasil precisa”, o principal congresso na área da saúde no país continua com a programação até 11 de novembro e terá três dias exclusivamente online e dois presenciais, com foco no reencontro e participação de lideranças e tomadores de decisão do setor, incluindo lideranças internacionais.
Fechando o Conahp, Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e membro da transição do governo Lula, fala sobre as perspectivas do setor no para os próximos quatro anos.
Os benefícios dos Nãotecidos aplicados em produtos médico hospitalares serão abordados no Conahp 2022
O Comitê Técnico Médico Hospitalar da Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (CTH ABINT) é patrocinador do Conahp 2022 – Congresso Nacional de Hospitais Privados. Levando em conta que, nos últimos anos, a pandemia do Coronavírus tornou evidente o potencial de impacto que o setor de saúde tem na sociedade como um todo, o Conahp 2022 pretende discutir temas que evidenciem essa pauta, como Inovação e Saúde Digital, ESG, O Futuro da Assistência, Parcerias Público-Privadas, entre outros.
Segundo a organização do evento, o objetivo é reunir, além dos profissionais que atuam na área da saúde que são o público direto Congresso, também os profissionais que atua em outros setores e enxergam a saúde como um segmento norteador de algumas tendências de gestão.
O CTH ABINT estará representado no evento, a fim de se apresentar institucionalmente como a entidade que tem por objetivo divulgar, promover e fomentar, com qualidade e técnica, o conhecimento e o crescimento das aplicações dos Descartáveis Médicos no mercado brasileiro. Quem visitar o estande, poderá saber mais sobre as normas ABNT NBR para máscaras cirúrgicas, aventais e campos cirúrgicos, e aventais de procedimentos, além da legislação vigente que menciona o cumprimento de normas por parte dos fornecedores destes itens.
Para a Engª Têxtil, Cristiane de Lima, Secretária Executiva da ABINT, participar e patrocinar esse tipo de evento é importante para promover o maior entendimento do mercado sobre os Nãotecidos aplicados ao segmento médico hospitalar, assim como para reforçar a necessidade da atenção às normas e a qualidade nesse setor. “Por exemplo, durante a pandemia, reforçamos o trabalho de revisão e atualização das normas ABNT NBR no intuito de dar mais garantia da qualidade máscaras cirúrgicas, aventais e campos cirúrgicos e aventais de procedimentos comercializados no Brasil, pois acreditamos que oferecer proteção e segurança aos profissionais da saúde é a principal missão do Comitê CTH ABINT. Esse é o tipo de trabalho que realizamos e que pretendemos ampliar com a participação do mercado”, afirma Cristiane.
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