Pesquisa realizada pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG) aponta que 93,3% dos profissionais de saúde que trabalham no serviço público da capital paulista apresentaram, ao longo de 2021, quadros de sobrecarga mental e sensação de fadiga. Outros 92,2% relacionaram o estresse do trabalho à irregularidade do sono e apetite, além de enjoo e náusea.
Esses são alguns dos alertas da pesquisa “Segunda Vítima”, aplicada pelo IQG e validada pelo CEP – Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS/SP), junto a 1.561 profissionais – médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem – que trabalham em UBSs, AMAs, UPAs e hospitais da cidade de São Paulo.
O levantamento trouxe mais dados alarmantes desta população. Em casos de incidentes negativos com os pacientes, 67,8% experimentaram sentimentos de “inadequação nas suas habilidades de atendimento”. Além disso, 68,5% dos profissionais afirmam que, após experiências ruins, sentem medo de tentar repetir procedimentos difíceis ou de alto risco.
A necessidade de tirar um dia para descanso após essas experiências negativas alcançou 67,9% dos respondentes. A respeito de projetos para a carreira, 73,3% dos profissionais apontaram que o estresse destas situações graves os faz querer deixar o emprego – sendo que 79,8% afirmaram ter vivido algum desses eventos nos últimos 12 meses.
“Esses dados mostram uma situação de forte estresse entre pessoas que, há mais de dois anos, estão na linha de frente do atendimento da pandemia de Covid-19. Trata-se de um desgaste preocupante, que impacta na qualidade e na segurança do atendimento, além da capacidade de gestão das unidades, em razão da falta de pessoal, da desmotivação e do absenteísmo entre as equipes. Isso tudo no momento em que vivemos um quadro de crescimento de infecções por uma nova variante do Coronavírus”, afirma a sócia-fundadora e CEO do IQG, Mara Machado.
Demanda por apoio emocional
Questionados sobre suporte emocional, 62,6% dos profissionais afirmam que discutir as situações ruins com os colegas oferece sensação de alívio. Mas 85,7% dos participantes disseram que buscam esse suporte emocional entre amigos e familiares.
Mas é grande a demanda por uma estrutura profissional de suporte emocional por parte das instituições de saúde. Entre esses meios estão um “Programa de aconselhamento gratuito a funcionários fora do expediente”, sugerido por 59,9% das pessoas ouvidas. Em seguida veio a “disponibilidade de um colega mais experiente para discutir o ocorrido”, preferido por 54,8%. Outros 34,7% gostariam de “um local reservado para se recompor após um incidente”, e 16% apoiam a possibilidade de “afastar-se da unidade imediatamente após o ocorrido”.
Pesquisa: perfil dos participantes
Entre os 1.561 profissionais que participaram da pesquisa realizada pelo IQG, 29,6% ultrapassam 12 anos de profissão; 16,7% têm de 9 a 11 anos; 16,2% estão entre 6 e 8 anos de carreira. Outros 19% têm entre 3 e 5 anos; já 18,5% responderam ter 2 anos de profissão ou menos.
O maior percentual de respondentes foi de agentes comunitários de saúde (29,7%), seguido por enfermeiros (15,1%), técnicos e auxiliares de enfermagem (13,6% e 11,3% respectivamente) e médicos (9,2%). Dentistas (2,9%), assistentes sociais (1,1%), psicólogos (1%) e fisioterapeutas (0,8%) também participaram.