Pacientes portadores de esclerose múltipla em tratamento possuem a mesma chance de recuperação do que aqueles sem comorbidades ao contraírem o Coronavírus. O resultado está em artigo publicado recentemente no Multiple Sclerosis Journal e tranquiliza especialistas na área que, em um primeiro momento, desenhavam um cenário mais alarmista para pessoas que possuem a doença. O estudo, desenvolvido pela neurologista Maria Cecília Aragon de Vecino, do Núcleo de Esclerose Múltipla e Doenças Desmielinizantes do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), mostrou que a incidência e as complicações em decorrência da Covid-19 nos pacientes que sofrem com a comorbidade não foi diferente da população brasileira em geral.
O estudo apontou uma incidência de Covid-19 de 27,7 para cada 10 mil pessoas com esclerose múltipla e de 29,2 para cada 10 mil na população em geral. Entre os voluntários na pesquisa, um total de 94 pacientes do primeiro grupo (sendo 77 mulheres) — com 40 anos e apresentando tempo de doença entre 8,6 e 9,9 anos — desenvolveram quadros leves da infecção pelo Coronavírus, o que correspondeu a 87% dos casos positivos. Desses, 80 mantiveram o uso de tratamento modificador da doença de EM (DMT) durante a pandemia. De acordo com Maria Cecília, os números demonstram que a incidência da Covid nos que possuem esclerose múltipla não foi diferente da observada na população em geral. A maioria apresentou um quadro moderado, mesmo com a manutenção do tratamento para a esclerose múltipla.
Resultado semelhante foi verificado em outra pesquisa, também da neurologista do Moinhos, publicada no Multiple Sclerosis and Related Disorders. Este artigo apresenta dados de 73 pacientes com esclerose múltipla e diagnóstico confirmado de Covid-19, de cinco países latino-americanos: Brasil (32), Argentina (15), Chile (12), México (8) e Equador (6). Do total analisado, 15 foram hospitalizados e dois faleceram. O uso de terapias anti-CD20 foi o único fator de risco associado à hospitalização e óbito em comparação a outros tratamentos, destacando assim a necessidade de farmacovigilância em terapias que afetam a imunidade do paciente.
“Num primeiro momento, se pensava no pior. Mas depois nós fomos vivenciando uma realidade diferente e pudemos observar que a evolução da infecção pelo Coronavírus vai depender das características de cada paciente, do grau da comorbidade e dos medicamentos que ele utiliza para a esclerose múltipla”, observa Maria Cecília.
Dia Nacional de Conscientização
O Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla é lembrado no dia 30 de agosto. Ainda pouco conhecida pela população, é uma doença neurológica crônica e autoimune que atinge cerca de 40 mil brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM). Apesar de muitos acreditarem que a enfermidade acomete a população mais idosa, ela é comum em jovens, com seu auge entre os 20 e os 40 anos, e pode inclusive se manifestar na infância. Atinge mais mulheres do que homens, especialmente em função do fator hormonal.
Maria Cecília também destaca o trabalho do Hospital Moinhos de Vento nessa especialidade, que além de atendimento específico, com toda a infraestrutura necessária para diagnóstico e tratamento, também desenvolve pesquisas sobre a doença. São diversos estudos e protocolos em andamento com medicamentos mais eficazes e específicos, destinados a diferentes tipos de evolução dos pacientes.
Esclerose múltipla
A doença se manifesta por meio de diversos sintomas e sinais, podendo ser diferentes, dependendo das áreas afetadas pelo acometimento, indo desde alterações de sensibilidade, até perdas de visão e equilíbrio, por exemplo. A maioria consegue levar uma vida normal, sem redução da expectativa de vida, desde que siga corretamente o tratamento.
Mas, por abranger diversos sintomas, é fundamental que se fique alerta a alguns sinais para o diagnóstico precoce. “A pessoa deve ficar atenta a qualquer problema que tenha função no sistema neurológico e que perdure por mais de 24h. Uma tontura que se instala e não vai embora. Perda de visão, de equilíbrio, da força”, alerta. E lembra: “O tratamento é para a vida toda, mas com rápido diagnóstico e condução correta, é possível ter uma qualidade de vida normal.”