Preconceito afeta 80% das pessoas com obesidade e médico reforça importância do acolhimento

Dados de 2021 levantados pelo Ministério da Saúde mostram que 22,35% da população brasileira são obesos. Desses, oito em cada dez afirmam já terem sido constrangidos por conta de seu peso conforme apurou uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Mais do que isso, a maioria afirma que essas situações acontecem pelo menos uma vez ao mês, especialmente em ambiente familiar (72% dos entrevistados).

Para o endocrinologista, Guilherme Borges, tem se tornado cada vez mais clara a importância de mostrar como o assunto do excesso de peso é complexo tanto para pacientes como para profissionais de saúde. “Nossa responsabilidade é não tratar o tema de forma pejorativa e menos ainda de forma simplista”, afirma.

Obesidade e preconceito

A afirmação do médico não é por acaso. Ainda de acordo com o levantamento da SBEM, o consultório médico está entre os quatro ambientes em que a pessoa com obesidade mais se sente vítima de constrangimento (60,4% das respostas), atrás de lojas e comércio em geral e à frente do local de trabalho.

Para Guilherme trata-se de um tema delicado. “Infelizmente ainda não podemos dizer que existe um excesso de peso seguro. Toda a gordura que é acumulada em excesso oferece risco à saúde”, pontua. Para todos os efeitos, o endocrinologista esclarece que existe diferença entre gordura visceral e subcutânea.

Por um lado, a visceral, localizada na região interna, é mais inflamatória, gera resistência insulínica e causa predisposição a doenças como o diabetes. Esse tipo de gordura se adere a órgãos como fígado, pâncreas e até coração, mas é mais fácil de eliminar por ser priorizada pelo organismo durante o processo de emagrecimento. Por outro, a subcutânea, que pode ser apalpada, é menos inflamatória e oferece menos risco cardiovascular, no entanto, também é mais difícil de eliminar.

Acolhimento e conscientização

Diante disso, Guilherme reforça a responsabilidade do profissional de saúde que recebe esse paciente em busca de objetivos que vão desde o cuidado com a saúde até a melhora da autoestima e aceitação.

“Em qualquer doença, nosso papel é primeiramente acolher o indivíduo e entender o contexto no qual a queixa e a patologia desse paciente se inserem. Isso vai desde respeitar seu contexto familiar, pessoal, de trabalho e condição socioeconômica do paciente até fazer uma anamnese detalhada. Precisamos entender quais são as comorbidades que esse indivíduo tem, fazer uma avaliação por exames complementares não de forma excessiva, mas minuciosa para conseguir identificar todos os fatores importantes de risco que estão associados eventualmente com sobrepeso e obesidade e, dessa forma, conseguir traçar o plano de tratamento que seja adequado para aquele indivíduo”, afirma.

Como o especialista ressalta, é fundamental que o paciente obeso entenda o risco associado a esse excesso de peso e esse acolhimento cuidadoso é o primeiro passo nessa jornada tão afetada pelo preconceito. “O ponto principal que indivíduo que tem obesidade precisa entender é que se trata de uma doença crônica, recidivante e multifatorial”.

Contudo, o endocrinologista frisa que o problema está longe de se limitar à comida. “Mais de 30% dos pacientes com obesidade têm algum transtorno alimentar, muitas vezes inclusive têm transtorno de compulsão alimentar. Mais de 50% deles têm algum transtorno de humor, transtorno depressivo ou transtorno ansioso, que são gatilhos muito importantes bem como o histórico familiar e fatores genéticos”, completa.

Por fim, depois de avaliar esses elementos modificáveis associados à obesidade, o médico salienta que é preciso entender que a adoção de novos hábitos precisa ser permanente para garantir uma vida saudável em que o paciente esteja bem consigo mesmo.

“Fazendo uma comparação, não é como tratar a dor ou inflamação, em que se usa o remédio por um período, o problema melhora e talvez nunca mais volte. Estamos falando de tratar uma condição que é considerada sim uma patologia, uma doença. Não necessariamente o tratamento será feito com medicação para a vida inteira, mas a mudança de hábitos deve sim ser para o resto da vida”, conclui.

Redação

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