“Um marco histórico e de grande impacto para a comunidade médico-cientifica, bem como, para milhares de pacientes com câncer de reto em todo o mundo”. Assim Rodrigo Oliva Perez, coordenador do grupo de cirurgia colorretal oncológica do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, define a publicação de seu artigo pela revista médica britânica The Lancet, uma das mais conceituadas e respeitadas do mundo.
Sob o título Registry of 1009 patients in the International Watch & Wait database (IWWD) for rectal cancer: Results of clinical complete responders, o artigo foi publicado em 23 de junho e deve mudar a conduta no tratamento do câncer de reto, graças as evidências científicas obtidas durante mais de 25 anos de pesquisa.
Quebra de paradigma e prêmio
A conduta padrão para o tratamento da maioria dos casos do câncer de reto, ainda é a radioterapia e quimioterapia concomitantes, seguida de cirurgia radical, mesmo em alguns pacientes que não apresentavam tumor residual no intestino ressecado e que, portanto, não necessariamente precisariam ser operados.
Além disso, a cirurgia radical, ainda que bem-sucedida do ponto de vista oncológico, oferece riscos de complicações imediatas e tardias importantes e algumas sequelas funcionais ao paciente como a impotência sexual, disfunções urinárias, incontinência fecal e a obrigatoriedade do uso de bolsa de colostomia.
Diante desses fatos, a Professora Doutora Angelita Habr-Gama e um grupo de pesquisadores brasileiros, do qual o doutor Rodrigo faz parte, passaram a não operar de imediato pacientes com evidências de regressão clinica completa do tumor de reto apenas com a radio e quimioterapia concomitantes.
Os primeiros resultados do estudo inicial foram publicados em 2004 e serviram de base para inúmeros outros estudos nesse mesmo campo.
Em 2013, a Diseases of the Colon & Rectum (DCR), revista da Sociedade Americana de Cirurgia Colorretal publicou um novo artigo, que também teve como coautor o doutor Rodrigo, sugerindo que um novo esquema de radio e quimioterapia poderia aumentar ainda mais o numero de pacientes com resposta completa ao tratamento sem a necessidade de cirurgia imediata.
Graças a relevância dessa contribuição científica para o tratamento do câncer do reto, no final de maio, o coordenador do grupo de cirurgia colorretal oncológica da BP recebeu o prêmio Robert D. Madoff, MD Impact Paper, pelo trabalho Watch and wait approach following extended neoadjuvant chemoradiation for distal rectal cancer: are we getting closer to anal cancer management? . Trata-se de um reconhecimento inédito concedido pela Sociedade Americana de Cirurgia Colorretal (ASCRS), pelo fato de ter sido o trabalho publicado na revista da ASCRS de maior impacto nos últimos 5 anos.
Mais de mil pacientes tratados
Em função dos dados promissores apresentados pelo grupo brasileiro, formou-se um registro internacional de dados de pacientes tratados com radio e quimioterapia que apresentaram resposta completa e evitaram a necessidade de cirurgia imediata.
Trata-se de uma base de dados enorme que permite o acesso de Instituições envolvidas no tratamento do câncer do reto. Por meio de uma plataforma online, foram registrados de cerca de mil pacientes do Brasil e de diversas partes do mundo que foram tratados com essa nova conduta nos últimos três anos. Esses dados nos deram subsídios para o artigo agora publicado no The Lancet.
“Uma publicação no The Lancet, com um numero tão significativo de pacientes tratados com esta estratégia em todo mundo, mostra o impacto da contribuição brasileira para o tratamento moderno do câncer do reto” finaliza o coordenador do grupo de cirurgia colorretal oncológica da BP.
Fiquei muito feliz em saber desses resultados. Que bom que pode optar por tratamento menos invasivo como é a cirurgia.