O número de cirurgias para reparo de hérnias da parede abdominal, realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Santa Catarina, foi de 22,2 mil de 2019 a 2021, de acordo com dados divulgados pelo DataSus. Entre os procedimentos de urgência e emergência foram feitas 3 mil cirurgias no mesmo período, representando 13% do total.
A queda no número anual de procedimentos foi de 52% no mesmo período, saindo de 11,1 mil em 2019 para 5,3 mil em 2021. A redução nos atendimentos ao paciente é preocupante para os especialistas, que vão debater o assunto na Jornada Sul Brasileira de Hérnia, evento médico que acontece no sábado (30), em Blumenau (SC).
As hérnias da parede abdominal envolvem as umbilicais, incisionais (na cicatriz de uma cirurgia anterior), inguinais (na virilha) e as epigástricas. A doença tem alta prevalência na população, sendo que a alteração na virilha é a mais comum – representando 75% dos casos – e atinge cerca de 20% dos homens adultos ao longo da vida.
De acordo com o cirurgião Marcelo Furtado, presidente da Sociedade Brasileira de Hérnias da Parede Abdominal, a cirurgia é a única forma eficaz de tratamento para as hérnias e a sua ausência pode trazer sérios riscos ao paciente. “Além de afetar negativamente a qualidade de vida trazendo sintomas como dor, desconforto e prejuízos estéticos, as complicações como o estrangulamento e o encarceramento podem levar o paciente à morte caso não sejam tratados adequadamente”, alertou.
Em Blumenau o número de pacientes que aguardam por uma cirurgia no SUS chega a 381, município com 361,8 mil habitantes. Segundo o cirurgião Pedro Trauczynski, coordenador local da Jornada Sul Brasileira de Hérnia, o atendimento precoce evita complicações . “É uma das doenças mais operadas no mundo e a complicação do estrangulamento acontece quando o conteúdo herniário (geralmente parte do intestino) fica estrangulado, comprometendo o fluxo sanguíneo e podendo levar a isquemia e gangrena. O paciente geralmente apresenta dor intensa e a cirurgia deve ser realizada o mais breve possível”.
Do total das 22 mil cirurgias de hérnias feitas pelo SUS entre 2019 e 2021, apenas 127 – ou 0,5% – foram feitas utilizando a videolaparoscopia, uma tecnologia minimamente invasiva. Para o Dr. Gustavo Soares, vice-presidente da SBH, as cirurgias menos invasivas trazem vantagens tanto ao paciente quanto ao cirurgião. “Estamos falando de procedimentos mais seguros, com menores riscos de complicação e de recidiva da hérnia. Além disso, o paciente fica menos tempo internado e retorna às suas atividades laborais e profissionais de forma mais rápida”.
JORNADA SUL BRASILEIRA DE HÉRNIA – Acontece no dia 30 de abril um encontro de cirurgiões para debater as melhores técnicas para o tratamento desta doença, em Blumenau. Os possíveis reflexos para o paciente que teve a cirurgia adiada também será tema de debate entre os especialistas. “Todos os aspectos das hérnias abdominais, em seus diversos tipos serão discutidos, um evento bastante importante com nível científico elevado. Vamos discutir cirurgia minimamente invasiva, cirurgia robótica, avaliando suas indicações e vantagens”, explica Furtado.
Uma cirurgia robótica ao vivo está programada para acontecer, o que permite uma discussão sobre a utilização desta técnica, que tem como principal vantagem operar pacientes com casos mais complexos de forma minimamente invasiva, e segundo Marcelo Furtado, permite alta hospitalar precoce, recuperação mais rápida e redução do risco de infecção. “Teremos uma discussão em tempo real entre a plateia e o cirurgião. Tudo isso traz um conhecimento científico muito grande para o cirurgião que participa e leva esse conhecimento para o tratamento do paciente em consultório”.
Pedro Trauczynski lembra que a cirurgia de hérnia passou por uma recente revolução. “Agora podemos operar grandes hérnias incisionais de forma minimamente invasiva, com maior segurança ao paciente contando com a tecnologia robótica. A cirurgia de hérnia pode ser muito complexa e exigir grande capacitação técnica, por isso é tão importante debater sobre essas técnicas e levar ao paciente, particular e SUS, o melhor tratamento possível”.