Saúde ocular negligenciada na pandemia pode causar danos à visão

O adiamento de consultas, cirurgias e tratamentos de saúde foi um comportamento comum e até esperado desde 2020, quando foi decretada a pandemia do novo Coronavírus.

Entretanto, esse descuido com a saúde pode ter consequências importantes. Dessa maneira, é importante retomar os cuidados com a saúde assim que possível.

Em relação à saúde ocular, uma pesquisa realizada no Reino Unido mostrou que 1 em cada 5 pessoas deixou de visitar o oftalmologista no último ano. No Brasil, a pesquisa ‘Coronavírus e seu Impacto no Brasil’, realizada pela Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Marketing, apontou que 4 em cada 10 brasileiros precisaram de cuidados médicos em geral, mas não o fizeram por medo de contágio.

Perda da visão

Segundo a oftalmologista Dra. Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma, pessoas com mais de 40 devem fazer um check up oftalmológico anualmente.

“O glaucoma é uma doença grave. Quando não tratado de forma precoce, pode levar à perda irreversível da visão. Um dos aspectos que atrasam o diagnóstico é que se trata de uma condição silenciosa. A pessoa só procura o médico quando já perdeu parte da visão”.

A catarata é outra condição comum em pessoas com 40 anos ou mais. Embora a perda da visão seja reversível, pode interferir bastante nas atividades diárias, como dirigir, trabalhar e ler, por exemplo.

Visão borrada

Alguns sintomas oculares se tornaram mais prevalentes no último ano devido ao aumento do tempo gasto em celulares, computadores e tablets.

“Temos recebido muitos pacientes com sintomas da síndrome da visão do computador. Entre eles estão sensação de secura ocular, lacrimejamento, vermelhidão, visão borrada e dor de cabeça”, relata Dra. Beatriz.

A médica ressalta que esses sintomas costumam ficar mais evidentes no final do dia, quando a pessoa já dispensou bastante tempo nas telas.

O tempo prolongado em frente às telas tem sido apontado como o responsável pelo aumento dos casos de miopia, principalmente entre as crianças e adolescentes, público que também precisa de um check-up oftalmológico periódico.

Procure seu oftalmologista

Estamos no último mês do ano e próximos das férias. Nessa época, as pessoas não costumam pensar muito em cuidar da saúde e acabam adiando para fevereiro ou março.

“Contudo, vivemos um momento diferente de outros anos, pois esse adiamento tem se prolongado demasiadamente. Por isso, é importante não deixar a saúde de lado, principalmente a oftalmológica”, finaliza Dra. Maria Beatriz.


 

Queda da Covid quase dobra transplante de córnea

A pandemia de Coronavírus interrompeu o transplante e a captação de córnea várias vezes em 2020. Por isso, entre todos os tipos de transplantes foi o que sofreu a maior queda no Brasil conforme relatório da (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). Os dados da ABTO mostram que de 2019 para 2020, o País reduziu o número de transplantes de córnea em 56%, totalizando entre janeiro e setembro, 10.977 e 4.807 transplantes de córnea respectivamente.

A boa notícia é que entre janeiro e setembro do ano o transplante de córnea quase dobrou no País. Somou 9.137 procedimentos, um crescimento de 90% em relação às 4.807 cirurgias realizadas no mesmo período de 2020. Segundo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier a queda no número de transplantes em 2020, somada à descontinuidade no acompanhamento oftalmológico da saúde ocular explica o aumento de 84% na fila de espera por córnea no país, apesar da retomada das cirurgias e captações este ano.  Para se ter ideia, saltou de 10,8 mil em setembro de 2019 para 14,4 mil no mesmo mês de 2020 e 19.9 mil em 2021.  No ranking da fila de espera os três estados com o maior número de pessoas aguardando pelo transplante são: São Paulo (3,5 mil), Minas Gerais (2,7 mil) e  Rio de Janeiro (2,6 mil). O  especialista ressalta que neste cenário nunca foi tão importante manter o acompanhamento oftalmológico em dia. Isso porque, pode ocorrer uma nova onda da pandemia de Covid e um recente estudo publicado no JAMA, conceituado jornal da Associação Médica Americana, mostra que 55% das córneas de falecidos de covid-19 carregam partes do vírus e por isso as captações podem diminuir.

Causa

O oftalmologista afirma que o ceratocone responde por 7 em cada 10 transplantes de córnea no Brasil. A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o médico faz parte, é de que 100 mil brasileiros tenham a doença. O ceratocone, explica, enfraquece e afina a córnea, lente externa do olho que vai tomando o formato de um cone conforme progride. Geralmente surge na infância e adolescência. “No início pode ser confundido com astigmatismo. Isso porque, logo que surge pode ser corrigido com óculos, geralmente coexiste com astigmatismo e as duas alterações têm vários sintomas em comum: visão desfocada para perto e longe, fotofobia, ofuscamento e visão embaçada”, salienta. A principal diferença é a troca mais frequente dos óculos no ceratocone, sobretudo entre crianças por conta da progressão mais acelerada durante a infância.

Os principais fatores de risco elencados pelo médico são:

·         Casos na família

·         Algum tipo de alergia

·         Síndrome de Down

·         Olho seco

·         Hábito de coçar os olhos

·         Apneia do sono

·         Miopia e alta miopia

Diagnóstico

Queiroz Neto afirma que na mulher o ceratocone pode ser descoberto durante a gravidez. Não quer dizer que a gestação cause a doença. “Significa que a maior retenção de água causada pelas mudanças hormonais altera a refração e pode piorar bastante a visão de gestantes”, comenta.

Por isso, para quem têm astigmatismo ou convive com algum fator de risco, o médico recomenda incluir no planejamento da gestação a tomografia da córnea. Isso porque, o exame avalia milhares de pontos das duas faces da córnea e pode flagrar o ceratocone bem no início “Já atendi pacientes que nem desconfiavam ter ceratocone e a tomografia permitiu o diagnóstico precoce”, afirma.

Tratamentos

O oftalmologista destaca que diversos estudos mostram que geralmente o ceratocone progride mais rápido até a idade de 25 anos. Hoje há tratamentos para impedir o transplante, mas devem seguir protocolos. Um deles é o crosslinking, único que interrompe a progressão do ceratocone em 90% dos casos. O especialista explica que o procedimento é ambulatorial e feito com anestesia local (colírio). Aumenta em até 3 vezes a resistência da reticulação da córnea.  Consiste na aplicação de vitamina B2 (riboflavina) e luz ultravioleta na córnea. Em 3 dias as atividades podem ser retomadas. Queiroz Neto ressalta que o crosslinking é contraindicado para córnea com espessura inferior a 400 micras, olhos com cicatrizes e outras alterações externas, portadores de glaucoma e histórico de herpes.

Outra terapia que pode evitar o transplante é o implante de anel intraestromal que aplana a córnea, deixa a lente mais estável no olho e melhora a visão. Para que tem muito desconforto no uso de lentes rígidas para corrigir o ceratocone a alternativa é a lente escleral que invés de ficar apoiada na córnea  se apoia na esclera.

“Igual a todas as outras doenças, no ceratocone a prevenção continua sendo o melhor remédio, principalmente porque no transplante pode ocorrer rejeição”, conclui.


 

Cirurgia de catarata tornou-se rápida e segura com ajuda da tecnologia

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a catarata é a principal causa de cegueira reversível no mundo. No Brasil, a doença é responsável por 49% dos casos de perda de visão, segundo levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Relacionada principalmente ao envelhecimento natural dos olhos, a catarata possui como única forma de tratamento a cirurgia, a qual tem atraído, para além de idosos, pessoas cada vez mais jovens, devido a modernização do procedimento ao longo dos anos.

A doença afeta o cristalino, que normalmente perde a capacidade de focalizar objetos e leitura próximos por volta dos 49 anos. Alguns pacientes apresentam esta dificuldade, à qual damos o nome de presbiopia, um pouco mais tarde, próximo dos 50 anos. A presbiopia é o primeiro sinal de que o cristalino está perdendo suas funções. Na evolução deste processo, acontece a perda da transparência e a formação da catarata.

Uma nova visão

Segundo o oftalmologista Dr. Marcello Fonseca, à frente do Instituto da Visão de Curitiba (iVisão), a falta de compreensão de grande parte da população integra uma extensa lista de mitos e tabus relacionados à catarata e ao seu tratamento cirúrgico, que foi paulatinamente modificado ao longo dos anos pelos avanços da tecnologia e da medicina:

“Antigamente, quando o paciente ainda tinha uma visão funcional razoável, mesmo com certa perda de qualidade, a cirurgia não era realizada. Isso acontecia porque as técnicas utilizadas exigiam um corte muito extenso, o que ampliava as chances de infecção e tornava a recuperação mais delicada. Quando levamos em consideração que os olhos possuem cerca de 12 mm, e o cristalino, 10 mm, a incisão exigida pela cirurgia era próxima ao diâmetro total dos olhos, em torno de 8 a 9 mm”, explica o médico e fundador do iVisão.

Neste contexto, a mudança do ambiente da operação também foi decisiva para que o procedimento fosse visto com outros olhos. Com a transferência da oftalmologia para clínicas especializadas, a cirurgia de catarata, que até então era realizada em hospitais gerais, passou para um local menos suscetível a infecções, contribuindo para torná-la uma das mais seguras da atualidade.

Simultaneamente, a chamada facoemulsificação surge como uma das técnicas mais utilizadas para a solução do problema até os dias de hoje; nela, a partir de uma incisão mínima, de cerca de 1.8mm, é introduzida uma sonda vibratória que, com uma mecânica similar a de uma britadeira utilizada em construções, fragmenta o cristalino – quando este já se encontra mais rígido, em um estágio avançado de catarata -, em pequenos pedaços, os quais são aspirados mais facilmente. Posteriormente, ele é substituído por uma lente intraocular transparente dobrável, sem a necessidade de pontos, o que permite a recuperação imediata da visão.

O Dr. Marcello ressalta, contudo, que a correção de catarata e a eliminação do uso de óculos podem acontecer simultaneamente, mas tratam-se de procedimentos distintos. “A cirurgia de catarata consiste na remoção do cristalino, o que por si só já é suficiente para eliminar a opacidade da visão ocasionada pela doença. Já a eliminação do grau, com a substituição por uma lente que busca corrigir outros problemas oculares, é uma alternativa que varia de acordo com a expectativa de cada paciente em relação ao procedimento e o desejo ou não de eliminar o uso dos óculos.”, esclarece.

Quanto antes, melhor

O envelhecimento natural dos olhos ainda é o principal responsável pela catarata, mas existem outras causas para o seu surgimento, como no caso da catarata congênita, na qual uma criança já nasce com a condição; e a relacionada a outras doenças pré-existentes, como a diabetes, por exemplo. Além disso, possíveis traumas oculares e o uso contínuo de determinados medicamentos, como corticoides, também podem ocasionar o aparecimento precoce da doença.

A percepção nebulosa e até mesmo assustadora que muitos ainda têm do procedimento está em vistas de ser substituída pela nitidez da precisão e da segurança de como ele é realizado atualmente. “Da anestesia geral, o procedimento passou a ser local, com a utilização de colírios anestésicos. O paciente permanece consciente e não sente nenhum desconforto durante o ato cirúrgico, que dura apenas alguns minutos. Com isso, eliminamos, inclusive, o uso do tampão no pós operatório. O paciente já sai da clínica enxergando.”, conclui o oftalmologista.

Não por acaso, a busca pelo procedimento tem aumentado cada vez mais: no próprio Instituto da Visão de Curitiba, mesmo durante a pandemia, foram realizadas uma média de 200 cirurgias de catarata mensalmente ao longo de 2021.

Hoje, já não há mais motivos para tanto sofrimento e espera para conseguir um novo olhar sobre a vida. Assim que a catarata é diagnosticada, a cirurgia já pode ser realizada, sem que seja necessário aguardar pelo seu “amadurecimento”, o comprometimento das nossas funções diárias e, no pior dos casos, a perda completa da visão.

Diante de tantos aprimoramentos, o procedimento abandonou o posto de uma cirurgia complexa, antes realizada somente em últimos casos, quando não havia mais nenhuma outra opção, para ocupar o local de uma cirurgia segura, rápida e com altas chances de uma recuperação bem sucedida.

Redação

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