Cirurgias eletivas, exames e consultas estão entre os procedimentos clínicos represados durante a pandemia e que, agora, podem sobrecarregar a já difícil rotina dos sistemas público e suplementar do país. “Nos próximos 15 a 18 meses, entre 5 a 7 milhões de pessoas vão bater na porta dos hospitais para receber atendimento”, calcula Guilherme S. Hummel, coordenador científico da 2ª Digital Journey by Hospitalar, evento online que ocorre até 30 de agosto como parte da Hospitalar, um dos dez maiores eventos de saúde do mundo e a principal plataforma de geração de negócios e networking do setor na América Latina. No dia 19, a jornada vai discutir como a tecnologia pode contribuir para desafogar hospitais, clínicas e laboratórios dessa demanda drenada.
A teletriagem consiste na principal ferramenta tecnológica que a cadeia de saúde dispõe neste momento para enfrentar o represamento dos atendimentos. “Eu preciso tirar do pronto-socorro aquele indivíduo que acordou com torcicolo e vai para o hospital”, pondera Hummel. Neste tipo de triagem, o paciente responde a cerca de dez perguntas antes de procurar um serviço de saúde. As respostas podem ser dadas por celular a um profissional treinado ou por aplicativo, que opera numa plataforma digital. Ao final do questionário, o paciente é orientado a procurar o atendimento primário ou secundário, em lugar de ficar horas na fila ou na sala de espera de um hospital, onde está sujeito à contaminação viral.
Esse mecanismo já é usado há décadas pelo National Health Service (NHS), o sistema público de saúde do Reino Unido. O serviço é realizado via telefone 24 horas por dia com enfermeiras que oferecem informações de saúde aos usuários e, quando necessário, fazem o encaminhamento correto. “A teletriagem deveria ser feita em todos os hospitais, pronto-socorros, Unidades Básica de Saúde (UBS) e unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMAS)”, declara Hummel.
Outra ferramenta importante para desafogar os sistemas de saúde é a consulta virtual, que foi adicionada no cotidiano das pessoas na crise epidêmica. Passada a pandemia, a prática deve ser incorporada ao rol dos procedimentos dos sistemas de saúde, provocando um grande impacto não só para o médico e o paciente, mas para os prestadores de serviços e operadoras da saúde suplementar. A modalidade está permitindo levar a medicina a comunidades isoladas ou sem acesso a unidades de saúde. Hoje estima-se que sejam realizadas entre meio milhão a um milhão de consultas a distância por mês no Brasil.
O acompanhamento pós-operatório via aplicativo é outro recurso tecnológico importante para ajudar no atendimento da demanda represada. “Muitos pacientes retornam ao hospital por não receberem ou não seguirem as orientações do pós-operatório”, constata Hummel. Nesses casos, antes voltar ao hospital, o paciente poderia acessar o aplicativo e se inteirar da necessidade ou não de seu retorno hospitalar.