Promissora, complexa e cara são algumas das palavras que descrevem a terapia à base de células CAR-T, uma esperança para os pacientes de alguns tipos de câncer, como linfomas, leucemia e mieloma, que já passaram, sem sucesso, por outros tratamentos. O oncologista André de Moraes, do COC – Centro de Oncologia Campinas (SP), destaca que a terapia celular ativa representa um dos avanços mais promissores no combate a vários tipos de câncer e integra a linha de frente das inovações.
No mês que difunde a conscientização sobre a leucemia, por meio da campanha Fevereiro Laranja, a terapia com células CAR-T projeta a evolução que se busca para combater o câncer, ainda que os custos a tornem, neste momento, proibitiva para a grande maioria dos pacientes. Dada a individualização e complexidade, o tratamento com células CAR-T pode custar cerca de U$ 500 mil – mais de R$ 2,5 milhões. A terapia foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2022.
No Brasil, a hematologia oncológica se compara à dos melhores centros de tratamento de câncer do mundo, aponta André de Moraes. “O Brasil hoje já desenvolve as primeiras células CAR-T e trabalha para baratear o custo da operação”, reforça. Um desses desenvolvimentos ocorre no Centro de Terapia Celular (CTC), da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, que vem avançando em um tratamento do tipo com menor custo, juntamente com investigações para operacionalização de terapias celulares semelhantes.
Na terapia com células CAR-T, uma célula de defesa do próprio corpo é modificada em laboratório para reconhecer e combater a proteína específica da doença a ser tratada. Linfócitos T do paciente são coletados e geneticamente alterados para que expressem moléculas capazes de identificar e oferecer uma resposta agressiva contra o câncer (são chamados Chimeric Antigen Receptors, ou CAR na sigla em inglês).
Após a modificação, são multiplicados e reinfundidos no paciente. “Com essa tecnologia é possível tratar vários tipos de doença e o câncer é a primeira da lista”, reforça.
O combate à leucemia foi a primeira experiência da terapia celular ativa. “As leucemias muitas vezes expressam uma proteína exclusiva na superfície da célula leucêmica e em nenhum outro tecido do corpo. Quando se cria um receptor quimérico no linfócito efetor da resposta imune celular, capaz de identificar e ligar-se a esta proteína, este linfócito passa a ter competência de reconhecer a presença dessa proteína numa determinada célula e a destrói”, especifica o oncologista do COC.
André Moraes, entretanto, reforça que a terapia celular ativa é individualizada e usada como última linha de tratamento contra a doença. “Dada a especificidade do tratamento e sua individualização, a terapia celular ativa é um recurso usado após todos os outros tipos de tratamento terem falhado”, reforça.
“Aqui no Brasil tem alguns laboratórios tentando desenvolver essa tecnologia para barateá-la. O objetivo é criar um ambiente fabril em que se possa produzir essas células específicas. Vale destacar que é uma terapia Individualizada, não há um produto universal”, conclui.
Desenvolvimento
A Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) informou que pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC) da Universidade de São Paulo (USP) atuam para desenvolver um método que reduz o tempo e o custo de produção células CAR-T.
Todo esse processo personalizado de terapia pode demorar até 60 dias para ser concluído e, dado o estado de saúde do paciente, nem sempre é possível obter células em quantidade e qualidade necessárias para o tratamento. Em função disso, pesquisadores investigam alterações genéticas nas células CAR-T que as tornariam “universais”, ou seja, uma única linhagem de linfócitos T daria origem a células CAR-T para diferentes pacientes.
No Brasil, o trabalho do CTC é realizado em diferentes frentes e tem como meta principal baratear o tratamento, para que custe entre 10% e 15% dos valores praticados no mercado. Segundo a Fapesp, o CTC desenvolve atualmente cinco projetos nas linhas de células CAR-T.