Na era da oncologia de precisão não basta saber que o paciente, ao ser diagnosticado com tumor maligno no pulmão, tem câncer de uma histologia específica neste órgão. É necessário saber a sua classificação molecular, ou seja, se este tumor é, por exemplo, adenocarcinoma pulmonar com mutação no gene EGFR. Esta informação, obtida por meio de um teste genético, é essencial para oferecer ao paciente um acompanhamento e tratamento personalizado. É a chamada Oncologia de Precisão, que tem no câncer de pulmão o exemplo mais efetivo de evidências consolidadas, que alteraram a história natural da doença.
Em alusão à campanha Agosto Branco, mês de conscientização sobre o câncer de pulmão, a Igenomix Brasil, laboratório multinacional de biotecnologia, destaca a contribuição do conhecimento em genética para o sucesso terapêutico e potencial aumento da sobrevida de pacientes com neoplasias pulmonares. “Dentre as neoplasias malignas, o câncer de pulmão foi o que mais evoluiu por conta da Oncologia de Precisão. Com a utilização da análise molecular do material genético tumoral é possível identificar quais genes estão envolvidos no desenvolvimento desse tipo de neoplasia. Daí a importância do painel de genes contemplando a análise de, principalmente, EGFR, KRAS, BRAF, ALK, ROS1, RET, MET, NTRK1, NTRK2 e NTRK3, que permite identificar não apenas as vias moleculares envolvidas no desenvolvimento do câncer, mas também o potencial benefício do uso de uma terapia alvo ou tratamento convencional com quimioterapia. Isso garante a entrega do melhor tratamento, para cada grupo de pacientes”, explica o biólogo molecular Gabriel Macedo, Head de Oncologia de Precisão da Igenomix Brasil e Consultor de Genômica no Hospital Moinhos de Vento.
Gabriel Macedo explica que a Oncologia de Precisão utiliza técnicas de diagnóstico molecular, principalmente por Next Generation Sequencing (NGS), para identificar as alterações genéticas somáticas (adquiridas), conhecidas como biomarcadores. As análises de biomarcadores podem ser realizadas no tecido tumoral ou, ainda, no DNA tumoral circulante. Esta última possibilidade é chamada como biópsia líquida. “Após a realização de uma biópsia para a confirmação do câncer, é possível solicitar o painel molecular, que é o exame responsável por revelar as alterações genéticas daquele tumor em particular. Importante destacar que para cada tipo de teste genético existe um rol de genes que compõem um painel genético específico. O oncologista precisa estar atento ao que está sendo coberto naquele exame”, aponta.
Dentre os tratamentos mais recentemente aprovados no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), está o sotorasibe, uma molécula desenvolvida para atacar o câncer de pulmão não pequenas células que apresenta, especificamente, a mutação descrita como G12C do gene KRAS. “Quando o teste genético aponta que o paciente apresenta esta alteração genética, sabemos que, potencialmente, ele será bom respondedor deste medicamento. O mesmo conceito vale para as outras terapias-alvo”, explica Macedo.
Neste contexto de personalização do tratamento de pacientes com câncer de pulmão também são comuns as abordagens multimodais, com combinação de medicamentos. Porém, sempre com base na informação de pesquisas clínicas, que levam em conta o perfil molecular e genético dos tumores e seu potencial de metastatizar (a doença se espalhar para órgãos próximos ou distantes). Neste cenário, despontam as imunoterapias, um tipo de tratamento contra o câncer que visa combater o avanço da doença pela ativação do próprio sistema imunológico do paciente. A ideia é que, com o uso de medicamentos, o organismo elimine a doença de forma mais eficiente e com menos toxicidade.
Macedo ressalva que a maior parte das aprovações de terapias alvo molecular e imunoterapias são no contexto de doença avançada ou presença de metástase. Diante deste cenário, a obtenção de material tecidual por biópsia pode ser desafiadora. “Nestas situações a biópsia líquida, uma efetiva alternativa para detecção de biomarcadores, pode ser utilizada para auxiliar na tomada de decisão do tratamento de primeira linha e, ainda, na identificação dos mecanismos de resistência e escolha da segunda linha de tratamento”, explica.
Em meio ao avanço da ciência, a importância da prevenção
O contexto ideal, não só para o câncer de pulmão, como para qualquer outro, é o de diagnóstico em fase inicial da doença, quando – por meio de uma cirurgia minimamente invasiva – já é possível se retirar o tumor e, em alguns casos, não necessitar de radioterapia ou quimioterapia, por exemplo. Por sua vez, o câncer de pulmão é, em uma parcela importante dos casos, diagnosticado em fase avançada, o que faz esta doença, apesar dos avanços da ciência, o mais letal do mundo.
De acordo com o Globocan, levantamento do IARC, braço de pesquisa do câncer da OMS, são mais de 1,8 milhão de mortes anuais, muito superior ao segundo colocado em mortalidade (câncer colorretal, com 935 mil mortes/ano). No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente entre homens e o quinto mais comum entre as mulheres, com estimativas de 30.200 novos casos em 2022, sendo 17.760 entre homens e 12.440 em mulheres. De acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM, em 2020 foram registradas 28.620 mortes por câncer de pulmão no Brasil.
Portanto, os esforços da ciência para reduzir essa alta prevalência devem, alerta Gabriel Macedo, trilhar pelo caminho da prevenção e diagnóstico precoce. O que é um desafio, pois o câncer de pulmão pode ser agressivo e com grande capacidade de metastatizar. A principal medida é não fumar, pois o tabagismo (incluindo narguilé e cigarro eletrônico) é a principal causa de câncer de pulmão no Brasil e no mundo. O primeiro fator de risco é o tabagismo ativo e o segundo é o passivo, quando a pessoa tem contato próximo com quem fuma.
Os principais sintomas são a tosse, dor torácica e escarro com ou sem sangue. “Como muitas vezes esses sintomas são do dia a dia do paciente tabagista, ele dá pouca importância e quando vai procurar o especialista, ele já está em um estágio muito avançado, em que o tratamento se torna mais difícil. Por isso, o rastreamento precoce é tão importante”, alerta Macedo. Como estratégia de rastreamento, estudos apontam para a eficácia da tomografia computadoriza de baixa dose para pacientes com histórico de alta carga de tabagismo.