Tratamento humanizado acalma pacientes e aumenta chances de sobrevida em UTIs

O aposentado José de Paula passou 32 dias internado, sendo mais de 10 em uma UTI. “A primeira pessoa que vi quando acordei foi a doutora Laura e pedi a ela um chocolate morno”

A humanização em hospitais é um dos assuntos mais discutidos pela sociedade médico-científica. Humanização requer tratamento personalizado ao paciente, cuidado individualizado e acolhedor. Nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), onde pacientes estão mais fragilizados por lutarem diariamente pela vida, o tema assume ainda mais relevância.

No Hospital Márcio Cunha, administrado pela Fundação São Francisco Xavier, o tratamento humanizado recebe atenção especial e faz parte do treinamento constante dos profissionais da saúde. “Os pesquisadores desenvolvem diversas tecnologias para prolongar a vida. Mas é preciso entender que, na frente de tudo isso, existe uma pessoa que tem angústias, sofrimentos e dores. É importante compreender o indivíduo como um ser humano psicossocial em todos os seus sentimentos e emoções”, comenta a médica do Hospital Márcio Cunha, Dr. Laura Fernandes Aredes Cunha.

O processo de humanização tem ganhado força nos últimos tempos e as mudanças realizadas em infraestrutura e acolhimento têm sido essenciais. Quando acordou na UTI do Hospital Márcio Cunha, a primeira pessoa que o aposentado José de Paula, 60 anos, viu foi a doutora Laura Fernandes, que o chamou carinhosamente de Zé, apelido de uma vida toda. Ela perguntou o que ele mais queria naquele momento. “Um copo de chocolate morno”, disse. E seu desejo foi atendido. “Essa é a lembrança mais forte que tenho do tempo no hospital. Nunca vou esquecer o carinho e o cuidado que tiveram comigo”, conta.

Foram 32 dias internado, sendo mais de dez dias na UTI. “A equipe fazia a minha barba, me dava banho todos os dias, tinha psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta. A médica passava para me ver todos os dias e sempre perguntava o que eu estava precisando. Hoje estou muito bem, graças a Deus e ao tratamento humano que tive”, relembra José de Paula.

Outro paciente grato ao tratamento recebido é o professor Jardel da Silva Abreu. Depois de sofrer um grave acidente de moto, ele passou 21 dias internado e 13 na UTI do Márcio Cunha. “Percebi o quão é importante o trabalho daqueles profissionais da saúde. Eles faziam de tudo para me animar. Cada evolução que eu tinha era comemorada por toda a equipe. Um exemplo que me marcou muito foi o dia que minha esposa não pôde me visitar e fiquei triste. A enfermeira percebeu que eu não estava bem e fez uma videochamada com minha mulher. Aquilo foi muito importante e me deu outro ânimo”, lembra.

Antigamente, as UTIs eram totalmente fechadas e os familiares só podiam ver os seus entes queridos através de um vidro. Para o Dr. Geraldo Majella, intensivista da FSFX, a família também é parte importante do processo de recuperação. “Hoje temos usado o conceito de UTIs abertas e os familiares podem acompanhar a internação. Muitos estudos provam que simples ações mudam a evolução dos pacientes, reduzem os índices de delirium e as taxas de sobrevida aumentam”, explica o médico, que atende em UTI há 12 anos.

Outra ação importante de humanização no HMC é a conferência familiar. Ela é o momento para expor a situação do paciente de forma clara e objetiva. O médico horizontal é treinado para conversar com os familiares e tirar todas as suas dúvidas quanto à situação do paciente. A habilidade na comunicação com um familiar também é uma forma de cuidado, carinho e acolhimento.

Prontuário Afetivo

O prontuário é uma ferramenta de humanização adotada no Hospital Márcio Cunha desde o ano passado. Ele é um pequeno banner com informações do paciente que fica ao lado da cama. É uma iniciativa simples e de grande contexto humano e, por meio dele, é possível conhecer um pouco mais quem é a pessoa internada. Nele constam respostas a três perguntas e uma mensagem. Como você gosta de ser chamado? O que mais ama na vida? Qual a sua música preferida? E nos diga uma mensagem. Caso o paciente esteja inconsciente, um familiar fica responsável por preenchê-lo.

“Somos muito mais do que a doença. Quando sabemos mais sobre o paciente, podemos nos aproximar, interagir e proporcionar um ambiente mais humano. Tem paciente que não se reconhece pelo nome de batismo e se identifica mais com um apelido. Isso nos aproxima dele”, explica a doutora Laura Fernandes, idealizadora do prontuário afetivo nos hospitais da FSFX.

A música, segundo a médica, tem outro efeito tranquilizador nas pessoas. “Tem gente que gosta de hinos de louvor, outros de sertanejo ou MPB. Durante a pandemia da Covid-19, colocamos Metallica para um paciente, pois ele estava muito inquieto. Na hora de retirar o tubo e o respirador colocamos a música que ele mais gosta para deixá-lo calmo”, relata.

Redação

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