Artigo – Querem transformar o residente médico em escravo

A Clínica Medica é uma das áreas-base da Medicina. Engloba conteúdo de diversas especialidades, sendo que, ao longo dos 30 anos recentes, tornou-se uma espécie de guardiã da relação médico-paciente.

Para fazer jus ao título de médico clínico é necessário cumprir dois anos de residência após a graduação. É o tempo absolutamente adequado à formação de excelência. Está demonstrado na prática e em pesquisas que, ao concluir o R2, o profissional tem plena condição de oferecer a melhor assistência aos cidadãos.

O biênio de estudos, além de perfeito do ponto de vista da capacitação, também possibilita que um médico almeje se especializar em outra área ainda jovem. Aliás, em 2002, a residência em Clínica Médica virou obrigatória como pré-requisito para realização de residência em outras importantes especialidades médicas, como Cardiologia.

Ser alicerce em conhecimento ressalta a relevância social da Clínica Médica, tradicionalmente identificada pelo cuidado humanizado, pela adequada anamnese, o olho no olho, o acompanhamento próximo do cidadão.

Ocorre que, agora, há um grupo de iluminados disposto a mudar o pouco que funciona bem no Brasil, com resoluções vazias, desprovidas de qualquer evidência e sem respeito ao legítimo direito democrático os médicos clínicos. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Clínica Médica encaminhou à Comissão Nacional de Residência Médica, um órgão deliberativo, o programa para dois anos, que foi aprovado, sendo, vale frisar, uma atitude de respeito à outras especialidades.

Entretanto, surgiram pressões para que a mesma seja estendida a três anos. A alteração é ideológica e fica provado por quem comanda essa ideia. São pessoas que nunca fizeram nada pelos clínicos. Quem luta pelos clínicos é a SBCM, reconhecida como de excelência por todos.

O coro dos inconsequentes usa argumentos dos mais variados buscando impor seus quereres de cima para baixo. Contudo, o mais provável é que estejam apoiando o lobby de alguns poderosos que preferem manter o residente trabalhando por mais tempo como mão de obra barata, quase em regime de servidão.

A SBCM ouviu seus associados. São mais de 42 mil médicos clínicos no Brasil. A opinião generalizada é a de que aumentar em 50% a carga da residência só trará prejuízos á saúde como um todo.

Inexplicável é um ataque gratuito, orquestrado por poucas cabeças, contra a Associação Médica Brasileira (AMB), que é o guarda-chuva das especialidades médicas em nosso País. Quem hoje tenta desferir um golpe contra a Clínica Médica certamente atacará outras áreas de especialistas em breve, pois a orquestração visa favorecer interesses de uns poucos em detrimento da boa assistência aos brasileiros.

O campo associativo precisa se unir. É importante preservar o Conselho Federal de Medicina, temos de impedir que maus intencionados usem nossa representação máxima para impor regras que não condizem com nossas necessidades, afrontando a AMB, as especialidades médicas e nossos pacientes.

 

 

Antônio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM)

Redação

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