O Grupo Huntington, referência em reprodução humana no Brasil, promoveu, nos dias 14 e 15 de setembro, o 4º Congresso Internacional Huntington de Medicina Reprodutiva, um dos principais eventos da área, que acontece a cada dois anos. Devido à pandemia de Covid-19 e seguindo os protocolos de segurança e distanciamento, o evento de 2021 foi realizado totalmente online e gratuito. Participaram mais de 1.500 profissionais, entre eles médicos, embriologistas, profissionais e estudantes da área da saúde e patrocinadores. Os dois dias de evento apontaram as recentes atualizações e os temas de maior relevância na especialidade por meio dos 10 convidados internacionais e nacionais da área.
“Preparamos uma programação minuciosa levando atualização científica, além de um debate construtivo com perguntas do público. Nosso intuito é compartilhar conhecimento e agregar aos participantes para que a reprodução humana e os tratamentos de infertilidade no país sejam cada dia mais reconhecidos pelos seus avanços, ética e profissionais”, declara Eduardo Motta, médico e fundador da Huntington Medicina Reprodutiva.
“Esse congresso também vai ao encontro das necessidades de conhecimento em relação à medicina baseada em evidências, mas com o diferencial de ser voltado para diferentes áreas que puderam se inscrever. Permitindo, assim, uma ampla confluência de ideias para que seja possível extrair o máximo das temáticas relacionadas à reprodução humana”, afirma João Pedro Junqueira Caetano, ginecologista especialista em reprodução assistida, diretor médico e sócio fundador da Huntington Pró-Criar.
Destaque para abertura com o médico Michael Alper, MD, Cofundador da Boston IVF e Professor Clínico Associado do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Biologia Reprodutiva da Harvard Medical School, EUA, que abordou os objetivos de estimulação ovariana para FIV. “Começamos com a excelente palestra do Dr. Michael destacando o “Um e Pronto”, termo amplamente reconhecido na área quando é realizada a estimulação da ovulação maximizada para o melhor número de embriões de boa qualidade, aumentando as chances de sucesso e, assim, com apenas uma retirada de óvulos conseguir gerar uma família. Porém, vale reforçar que, de acordo com a nova resolução de reprodução assistida do Brasil, que entrou em vigor há cerca de dois meses, não é permitido que tenhamos mais de 8 embriões, limitando esse tipo de conduta”, explica o Maurício Chehin, ginecologista especialista em reprodução assistida e coordenador científico do Grupo Huntington.
Outro debate foi sobre a autocorreção embrionária de aneuploidias e, durante a aula, a PhD da Espanha, Mina Popovic, mostrou que não é possível e, portanto, não existe um descarte irregular de embriões. A pesquisadora clínica explicou que isso pode acontecer nos embriões mosaicos. Já na apresentação, do PhD americano Denny Sakkas, sobre tecnologias não invasivas para avaliar o potencial de implantação do embrião, foram apontados os benefícios da análise da velocidade e qualidade do desenvolvimento para identificar o melhor ou mesmo pelo DNA livre no meio de cultivo onde se encontram os embriões. Essas técnicas são ideais no futuro, mas ainda existem limitações técnicas em discussão.
Já a aula da médica e pesquisadora americana Linda Giudice, MD PhD, reforçou que a endometriose provoca alterações não apenas inflamatórias, mas também imunológicas no fluido peritoneal e no endométrio, e essas modificações podem contribuir na infertilidade dessas mulheres. À medida que novas terapias surgem, para diminuir a inflamação e modular a imunologia dessas pacientes, podem aumentar eventualmente as taxas de gravidez mesmo com a fertilização in vitro. Vários estudos já feitos tentaram minimizar a quantidade de inflamação e é preciso dar um passo para trás e examinar, pois a endometriose não tem receita única. Contudo, existe uma esperança que o uso de imunossupressores possa melhorar de certa forma a fertilidade das mulheres com endometriose.
A apresentação do médico Peter Schlegel, MD FACS, apontou a microdissecção testicular nos casos de ausência de espermatozoides, azoospermia não obstrutiva, como a técnica padrão ouro. Ainda em evolução, pois existem pequenas áreas que podem ter produção, mas são pequenas e não são encontradas nem com o uso dos microscópios convencionais. O professor apontou que existem ferramentas promissoras em estudo para melhorar a seleção de espermatozoides, assim como técnicas e táticas cirúrgicas. Além disso, em alguns casos são necessárias algumas substâncias, como é o caso da pentoxicilina usada para separar os mais saudáveis e, dessa forma, é possível ter uma taxa de fertilização mais alta.
Também foram debatidos, durante o Congresso, os dispositivos de seleção de espermatozoides por microfluido para pacientes com DNA de fragmentação elevado e que trazem bons resultados. A técnica já existe no Brasil e a discussão entre os profissionais foi sobre os modelos existentes e mais promissores, entre eles a Zymot utilizado no Grupo Huntington e muito bem avaliada mundialmente.
Sobre o preparo endometrial artificial versus natural para transferência de embriões congelados, nas pesquisas não foram identificadas diferenças relevantes em termos de taxas de gravidez e, dessa forma, todos eles podem ser aplicados e individualizá-los é o melhor caminho. É possível reforçar a importância de ter diversas ferramentas para personalizar a melhor forma de preparo para cada paciente.
Dentre inúmeros temas relevantes para a Medicina Reprodutiva, o evento também trouxe uma apresentação sobre os distúrbios no rearranjo de cromossomos e a síndrome dos ovários policísticos que, na maioria das vezes, conta com alterações hormonais e endocrinológicas, como hipersinsulinemia, obesidade e hiperandrogenemia, que também podem alterar a meiose dos óvulos e, com isso, promover alterações cromossômicas nos embriões formados a partir deles. Portanto, essas mulheres podem ter maior taxa de abortamento por aneuploidias. Um dos tratamentos propostos é o uso dos análogo de GLP-1, como a Liraglutida, que podem beneficiar na rápida perda de peso e melhora do perfil metabólico e hormonal e, consequentemente, diminuir os números de falhas ou abortos que podem enfrentar.
O fechamento do evento foi com a professora e pesquisadora da Escola de Ciências Moleculares da Washington State University dos EUA, Patricia Hunt, PhD, abordando os efeitos ambientais nos gametas e embriões durante a fase inicial de desenvolvimento e realmente estão sujeitos a efeitos ambientais. A especialista apontou a relevância do efeito acidental e nocivo desse contato nos óvulos e espermatozoides, como até mesmo de uma próxima geração. Portanto, é preciso garantir um ambiente saudável com cuidado extremo nos materiais utilizados, afim que com o progresso da tecnologia seja criado o melhor futuro possível.
Os participantes receberam um certificado digital e no site www.congressohuntington.com.br constam todas as aulas legendadas para quem não conseguiu acompanhar ao vivo.