Bruna tinha apenas 9 anos quando recebeu o diagnóstico de leucemia mieloide crônica (LMC). Hoje, com 18, totalmente curada, ela relembra a trajetória de tratamentos que culminou com um transplante de medula aos 13.
“Embora eu não tivesse nenhum sintoma específico, além de palidez, meus pais me levaram ao pediatra. Lá, fiz exames de rotina e já fui encaminhada à oncologista pediátrica”, conta.
Dr. Claudio Galvão de Castro Jr., hematologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo que acompanhou a paciente, explica que muitas pessoas não desenvolvem qualquer sintoma no estágio inicial da doença.
“É comum que o diagnóstico aconteça como no caso da Bruna, através de um simples exame de sangue, mas, em alguns pacientes, é possível perceber sinais como perda de peso sem motivo aparente, sudorese noturna e sensação de fraqueza”, explica.
A leucemia é uma doença que afeta os glóbulos brancos e tem, como principal característica, o acúmulo de células doentes na medula óssea, substituindo as células sanguíneas normais. “Existem mais de 12 tipos de leucemia, que partem dos quatro tipos primários: leucemia linfocítica aguda (LLA), leucemia linfocítica crônica (CLL) e leucemia mieloide aguda (LMA), além da já mencionada leucemia mieloide crônica (LMC).”
O tipo de câncer que acometeu Bruna, embora raro em crianças, representa cerca de 15% dos novos casos de leucemia diagnosticados a cada ano no Brasil, afetando pessoas com idade média em torno dos 50 anos. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados cerca de 10 mil novos casos de leucemia por ano, o que torna esse grupo de doenças um problema de saúde pública.
Conforme o especialista, a LMC, causada por uma alteração nos cromossomos, tem progressão lenta e, quando não tratada, pode evoluir para uma leucemia aguda.
“O tratamento para esse tipo de leucemia foi um dos que mais avançou nos últimos 20 anos. Atualmente, a maioria dos pacientes é tratada com um medicamento via oral que inibe a proteína crucial para o surgimento da doença. Não é uma quimioterapia clássica, portanto não há queda de cabelo ou vômitos”.
Dr. Claudio explica que o transplante de medula óssea, anteriormente considerada a opção mais usada no tratamento de pacientes com LMC, hoje fica restrita aos casos mais graves, em que os medicamentos não funcionam. “No entanto, é preciso avaliar todas as variáveis, tais como idade, comorbidades, grau de evolução da doença, resposta aos tratamentos medicamentosos e doador compatível, entre outros”, frisa.
O médico destaca que diversas opções de terapias são utilizadas no tratamento dos diferentes tipos de leucemia. “O tratamento está cada vez mais individualizado, e essa tendência só deve se acentuar num futuro próximo”.
Para Bruna, que realizou quimioterapia e radioterapia ao longo dos quatro anos em que lutou contra a doença, em seu caso atípica e resistente, o transplante foi um presente. “Tive dois possíveis doadores que não deram certo antes dos médicos decidirem utilizar meu pai. E, embora ele fosse apenas 70% compatível comigo, deu tudo certo e me permitiu estar aqui hoje, feliz e saudável, depois de tantos anos”, comemora.
A todos que ainda estão em tratamento da leucemia e vivenciam, como ela, medos e dúvidas sobre o futuro, ela deixa uma mensagem: “É preciso confiar na equipe que está cuidando de você, aceitar o processo e acreditar que tudo vai passar logo. É essa fé que nos dá forças para continuar”.