Os tratamentos adotados para pacientes infectados pelo vírus Sars-Cov-2 variaram muito ao longo da pandemia (alguns dos quais ainda geram controvérsia). A eficácia e segurança de tais tratamentos, no entanto, ainda não haviam sido avaliadas. Um grupo de associações e sociedade médicas elaborou então diretrizes para subsidiar decisões sobre como tratar com medicamentos pacientes ambulatoriais com Covid-19 no Brasil. Essas diretrizes estão em um artigo publicado na edição de abril do periódico especializado “The Brazilian Journal of Infectious Diseases”, e a SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) contribuiu com essa elaboração.
O diretor da SBMFC, Ricardo Heinzelmann, reforça que “diretrizes como essas, baseadas em evidências, é a melhor contribuição que se pode fazer para afastar as fake news do debate da saúde”. Segundo o artigo, as recomendações elaboradas são restritas ao que não deve ser utilizado em pacientes com a doença, “a fim de proporcionar o melhor tratamento de acordo com os princípios da medicina baseada em evidências e promover a economia de recursos ao evitar tratamentos ineficazes”.
São dez as recomendações, feitas por um painel formado por especialistas de diferentes áreas clínicas, representantes do Ministério da Saúde e metodologistas. Entre as recomendações está a de não se fazer uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, que tem sido pivô de forte controvérsia. De acordo com o artigo, “as evidências não mostram benefício” do uso dos dois medicamentos “independentemente da via de administração” – oral, inalatória ou outras, tendo sido observado inclusive um “aumento nos eventos adversos” em decorrência do uso. Ambos só devem ser utilizados, diz o texto, por pacientes com outras condições de saúde – como doenças reumatológicas ou malária.
Mesmo a ivermectina não deve ser empregada no tratamento de pacientes com Covid-19. O painel diz que não é possível descartar benefícios do medicamento, que é “relativamente seguro”, mas as evidências atuais “são insuficientes para indicar seu uso rotineiro”.
O artigo destaca que cerca de 14% dos casos de Covid-19 evoluem para quadros de maior gravidade, sendo preciso hospitalizar o paciente, e 5% acabam exigindo a internação em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Na maioria dos casos de infecção, no entanto, o que os pacientes manifestam são quadros mais leves, com sintomas como febre, tosse seca e cansaço físico extremo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o último dia 5 havia no mundo pouco mais de 492 milhões de casos confirmados de Covid-19, com cerca de 6,1 milhões de óbitos. No Brasil, cerca de 75% da população já completou o primeiro ciclo vacinal (dose única ou duas doses), e 37% da população elegível já recebeu a dose de reforço.
“Com essa diretriz, espera-se orientar o atendimento de pacientes ambulatoriais com Covid-19 no Brasil, destacando as incertezas existentes, principalmente quanto à ineficácia ou falta de benefício documentado da maioria dos medicamentos avaliados”, conclui o artigo – que considerou tanto evidências disponíveis na literatura científica como aspectos relevantes para o contexto brasileiro – como a disponibilidade de medicamentos, a aceitação das intervenções pela população e pelos médicos e os custos associados.