Morte materna acontece porque não se dá a devida atenção às mulheres na nossa sociedade, alerta Febrasgo

De acordo o Painel de Monitoramento de Mortalidade Materna, em 2021, foram registrados mais de 92,5 mil óbitos maternos no Brasil, o que indica que houve 107 mortes a cada 100 mil nascimentos. Esse número está acima dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODC) do parametrizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estima média de 70 óbitos por 100 mil nascimentos. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) aponta que, dentre as principais causas de morte de gestantes e puérperas estão a hipertensão, hemorragias e infecção puerperal.

O tema volta ao centro do debate, pois 28 de maio é marcado como o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. A data foi criada com o intuito de alertar e conscientizar a população sobre o assunto.

O vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Mortalidade Materna da Febrasgo, Dr. Rodolfo de Carvalho Pacagnella, explica que “para reduzir a mortalidade materna, é necessária uma atuação sistêmica em todo o sistema de saúde. É importante reconhecer o papel central da mulher na nossa sociedade. A morte materna acontece porque não se dá a devida atenção às mulheres na nossa sociedade”.

Óbitos maternos são evitáveis desde que haja qualidade na assistência durante a gravidez, no parto e o puerpério. Dr. Rodolfo assinala que há três fases que comprometem a qualidade dessa assistência. “É preciso ter um investimento em todo o sistema de saúde, de maneira que se evite três demoras que levam a morte. A demora na fase um, em reconhecer que há um problema de saúde, ou seja, a mulher reconhecer que há um problema no corpo dela. É preciso ter educação para reduzir esse intervalo. A segunda é a demora em chegar a uma unidade de saúde. Para isso, é preciso ter transporte e uma rede de assistência adequada. E a demora de fase três, que diz respeito ao diagnóstico adequado e ao tratamento oportuno que vai ser oferecido à essas mulheres assim que elas chegarem no sistema de saúde.”

Segundo Pacagnella, as altas taxas de mortalidade materna estão relacionadas a problemas sociais. “Quanto maiores as taxas, maiores as desigualdades daquele país ou região. Países de alta renda, com igualdade entre gêneros, têm taxa de mortalidade materna muito baixas”, explica.

Saúde da Mulher

Para o especialista da Febrasgo, o mais indicado para a prevenção e o tratamento de doenças como HPV, a endometriose, o câncer de mama e de colo de útero, fibromialgia, depressão e obesidade – que figuram entre as maiores incidências de agravamento e morte entre mulheres no Brasil – são consultas e exames regulares, práticas que podem fazer a diferença na saúde da mulher, já que o diagnóstico tardio pode prejudicar o processo de tratamento e cura. Um dos maiores desafios da saúde pública é oferecer serviços de qualidade à saúde integral da mulher.

Para o Dr. Rodolfo, esses desafios existem, por consequência da forma como a mulher é vista pela sociedade. “Em uma sociedade que enxerga a mulher como um ser de segunda categoria, se investe pouco na vida das mulheres, se investe pouco na qualidade de vida dessas mulheres, se investe pouco no reconhecimento dessas mulheres como fundamentais para a constituição de um país, de uma sociedade justa e igualitária”, finaliza.

Redação

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