O ceratocone é uma doença progressiva que afeta córnea e pode causar a perda visão. Além disso, a condição aumenta em sete vezes a necessidade de um transplante de córnea.
Segundo a oftalmopediatra Dra. Marcela Barreira, também especialista em estrabismo e neuroftalmologia, o ceratocone altera a estrutura da córnea. “A partir de alterações no colágeno, a córnea se deforma e assume um formato “cônico”, daí o nome ceratocone. Essas deformidades da córnea levam ao desenvolvimento de astigmatismo irregular, miopia progressiva e afinamento corneano. Todas essas condições pioram a acuidade visual”.
“Embora o ceratocone seja mais prevalente a partir da puberdade, a condição também pode afetar as crianças menores. Nesses casos, o diagnóstico e o tratamento precisam ser precoces, uma vez que na população infantil a doença tem uma progressão mais rápida”, explica a médica.
Atopia é importante fator de risco
Muitas vezes, o ceratocone é uma doença isolada. No entanto, a condição pode estar associada a quadros repetitivos de ceratoconjuntivite (inflamação da conjuntiva e da córnea), atopia (alergias), síndrome de Down, retinite pigmentosa, entre outras doenças genéticas.
Além disso, crianças com histórico familiar de ceratocone têm um risco muito maior de ter a doença do que a população em geral.
O ceratocone está intimamente ligado à atopia, ou seja, às alergias. A alergia ocular é uma condição muito frequente nas crianças que apresentam rinite, sinusite, asma e dermatites. “Como um dos principais sintomas da conjuntivite alérgica é a coceira, o risco de lesões na córnea é significativamente maior nas crianças alérgicas”, aponta Dra. Marcela.
Sem reclamações
Geralmente, o diagnóstico do ceratocone pediátrico é feito de maneira tardia, na maioria dos casos. A razão é que a criança não tem um parâmetro para comparar se sua visão está ruim ou boa, especialmente antes dos oito anos de idade.
“Infelizmente, nos estágios iniciais do ceratocone os sintomas são os mesmos de qualquer outro erro refrativo, como a miopia, astigmatismo e hipermetropia. Mas, um sinal de alerta pode ser a necessidade frequente de correção do grau. Uma manifestação comum em adolescentes é o desenvolvimento da intolerância em usar lentes de contato”, diz Dra. Marcela.
Nos estágios mais avançados, a redução da acuidade visual é bem evidente. Outros sintomas podem surgir como sensibilidade à luz, cansaço visual, aumento da coceira, irritação e desconforto nos olhos. Por fim, alguns pacientes podem ter visão dupla, percepção de várias imagens de um mesmo objeto, além de feixes de luz e distorção dos reflexos em volta da luz.
“Como a criança não se queixa de problemas de visão, cabe aos pais realizar um acompanhamento oftalmológico desde cedo. O ideal é levar o bebê em seu primeiro ano de vida a um oftalmopediatra para uma avaliação inicial. Inclusive, esse é um importante momento para levantar o histórico familiar de doenças visuais, por exemplo”, ressalta Dra. Marcela.
Já as crianças com histórico familiar de ceratocone e condições que aumentam o risco, como a alergia e a síndrome de Down, por exemplo, devem ser acompanhadas de maneira frequente por um oftalmologista infantil.
O tratamento do ceratocone depende de sua gravidade e taxa de progressão. Os casos diagnosticados de forma precoce são tratados com óculos e lentes de contato. Os quadros mais avançados podem necessitar do transplante de córnea ou ainda de cirurgias para melhorar o formato da córnea.