O número de casos misteriosos de hepatite aguda em crianças continua a crescer, com centenas de incidências sendo relatadas em todo o mundo. Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 22 de junho, mostra que 33 países relataram 920 casos prováveis da doença de etiologia desconhecida em crianças, um crescimento de 41% dos casos em relação ao mês de maio.
Segundo a OMS, foram confirmadas 18 mortes e 45 crianças necessitaram de transplantes. Metade dos casos prováveis foram notificados na Europa (20 países que notificaram 460 casos), incluindo 267 casos (29% dos casos globais) do Reino Unido. No Brasil, dados do Ministério da Saúde divulgados neste mês de junho mostram que são 88 casos investigados e sete mortes suspeitas.
O surto foi inicialmente detectado em 5 de abril de 2022, quando o Reino Unido notificou a OMS de dez casos de hepatite aguda grave em crianças menores de 10 anos previamente saudáveis. Os principais sintomas relatados são dor abdominal e vômitos, acompanhados de alterações de enzimas hepáticas. Cerca de 52% das crianças afetadas são meninas e mais da metade tem menos de seis anos de idade.
Entre as suposições do aumento da patogenicidade viral em crianças, estão a diminuição da imunidade pela baixa exposição a patógenos durante a pandemia da Covid-19, o relaxamento das restrições pandêmicas levando a um aumento de infecções por adenovírus, a infecção passada ou coinfecção com SARS-CoV-2, ou a exposição a uma toxina, droga ou fator ambiental. Ou, finalmente, o surgimento de uma variante.
O SARS-CoV-2 foi detectado em vários casos, no entanto, os dados sobre os resultados da sorologia são limitados. Na região europeia, o SARS-CoV-2 foi detectado por PCR em 15% dos casos e nos Estados Unidos em 10% dos casos com resultados disponíveis.
Os adenovírus se destacam, entre as possíveis causas, já que esse vírus é frequentemente detectado entre os casos com dados disponíveis. Na região europeia, esse vírus foi detectado por PCR em 55% dos casos, nos EUA em 45% dos resultados e as infecções geralmente causam sintomas respiratórios leves, embora haja relatos de casos de hepatite em crianças imunocomprometidas e mesmo em adultos imunocompetentes.
O adenovírus do subtipo 41 desponta como principal causador dos quadros de hepatites em crianças. Uma investigação conduzida no Reino Unido apontou que os casos submetidos à tipagem de adenovírus revelaram a presença do subtipo 41. Ainda cinco crianças com hepatite de causa desconhecida no Alabama, entre outubro de 2021 e fevereiro de 2022, tinham infecções por adenovírus do subtipo 41. Esse subtipo estava anteriormente associado apenas a quadros de sintomas gastrointestinais leves a moderados.
Os adenovírus são uma causa comum de infecção, podendo ser um achado incidental. Mas, sob a luz dos achados recentes, a relação deles com a hepatite infantil deve ser minuciosamente investigada. Se descartada esta possibilidade, a orientação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) sugere considerar testes adicionais, como um painel respiratório, ou para enterobactérias e outros patógenos menos frequentes.
Enquanto as causas seguem sendo investigadas, as principais medidas de prevenção indicadas incluem a higiene das mãos, que se evite aglomerações, e se mantenha a ventilação de espaços. Além disso, é sugerido o uso de máscara, o consumo de água potável e alguns cuidados na preparação dos alimentos.
Mario Janini é assessor científico do DB Molecular