Artigo – 29 de Agosto: Dia do Combate à Desnutrição

Recentemente, a pandemia da Covid-19 trouxe de volta o fantasma da fome a milhares de famílias brasileiras, pois reforçou a desigualdade social, acentuou a condição de vulnerabilidade das populações carentes e os indicadores de pobreza e miséria, agravando a desnutrição, fome e a insegurança alimentar no Brasil.

Infelizmente, essa realidade não foi exclusiva do Brasil. Os dados internacionais demonstram que, em 2019, cerca de 690 milhões de pessoas se encontravam em situação de fome, representando 8,9% da população mundial.

Aproximadamente 750 milhões de pessoas (1 a cada 10) no mundo estiveram expostas a níveis graves de insegurança alimentar, sendo que se somarmos os níveis moderados e graves estas estimativas são ainda piores, apontando que quase 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo não tiveram um acesso regular a alimentos em quantidade e qualidade adequadas nos últimos anos.

A insegurança alimentar é a condição de não ter acesso pleno e permanente a alimentos, sendo a fome e consequentemente a desnutrição a sua forma mais grave.

No Brasil, segundo o relatório elaborado pelo grupo Food for Justice, apenas 44,8% da população brasileira se encontra em situação de segurança alimentar.

Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN), realizado em cinco macrorregiões brasileiras, nas áreas urbanas e rurais, entre novembro de 2021 a abril de 2022, mostrou que o povo brasileiro vem empobrecendo progressivamente e enfrentando as consequências da precarização da vida e isso teve reflexos claros na capacidade de acesso à alimentação suficiente e adequada pelas famílias brasileiras.

Foi identificado que em dezembro de 2020, 9% da população (ou 19 milhões de pessoas) conviviam com a fome, sendo que, em 2021, este percentual passou para 15,5% da população (33,1 milhões de pessoas), ou seja, 14 milhões de brasileiros foram deslocados para tal condição em um ano.

Segundo o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ao menos 250 milhões de crianças sofrem de desnutrição e a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que 45% das mortes de pessoas com menos de 5 anos estão relacionadas à desnutrição.

A desnutrição infantil permanece como um problema de saúde pública mundial. No Brasil, o quadro não é diferente. Entre os anos de 2015 e 2021, a desnutrição entre crianças de 0 a 19 anos aumentou, assim como a fome, especialmente entre os meninos negros (pretos e pardos), sendo 2 pontos percentuais acima do valor observado entre meninos brancos.

Insuficiência de renda, desemprego e subemprego, deficiências habitacionais, falta de acesso à educação e precárias condições de saúde estão diretamente inter-relacionados com a fome e desnutrição.

São muitas as condições de desigualdade que penalizam vários segmentos da população brasileira, porém deve ser dada uma atenção especial às crianças que, em condição de carência alimentar, podem ter suas potencialidades e seu futuro comprometidos, lembrando que a violação do direito humano à alimentação adequada constitui violação do preceito constitucional no Brasil.

Apesar de existirem diversos programas disponíveis, ainda há uma longa jornada a ser percorrida para erradicar a fome do Brasil.

Quando olhamos para a fome e desnutrição, devemos nos lembrar que cada número absoluto representa a vida de uma pessoa e que mesmo pequenas mudanças percentuais nestes números significam a melhoria das condições de saúde e de vida de milhões de pessoas convivendo diariamente com a fome.

Rosana Farah Toimil é professora do curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Redação

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