Caracterizada como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis atinge principalmente homens adultos, que representam mais de 59% dos casos. No entanto, com a possibilidade de contaminação do feto durante a gestação, a sífilis em gestantes e bebês torna o público feminino o alvo principal de atenção no controle da doença.
De acordo com Brunna Grazziotti Milanesi, coordenadora da Pediatria e Neonatologia do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, combater a sífilis requer ações constantes de conscientização, especialmente voltadas às gestantes e seus parceiros sexuais.
“Ações preventivas são fundamentais durante o pré-natal, a fim de reduzir o risco da sífilis congênita, que, além da morte no nascimento, pode causar aborto espontâneo, parto prematuro com malformação do feto, surdez ou cegueira, alterações ósseas e deficiência mental”, reforça a neonatologista.
O diagnóstico e o tratamento adequado às gestantes podem reduzir drasticamente os casos de sífilis congênita. “O diagnóstico exige uma combinação de avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial”, detalha a médica.
Segundo dados do último Boletim Epidemiológico de Sífilis, divulgados pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) do Ministério da Saúde, em 2020, foram registrados mais de 61 mil casos de sífilis em gestantes, enquanto as congênitas ultrapassam 22 mil.
Quando comparado ao Boletim de 2019, além do aumento de casos de gestantes contaminadas, o número de óbitos de recém-nascidos apresentou elevação de 7,5%. Este cenário representa um sério problema de saúde pública no Brasil.
“Somente no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, foram registrados 213 óbitos por sífilis congênita em 2020. Estes óbitos seriam evitáveis, visto que o acesso ao diagnóstico e tratamento são realizados gratuitamente pelo SUS”, alerta.
A maioria dos casos acontece porque a mãe não foi testada para sífilis durante o pré-natal ou porque recebeu tratamento inadequado para a doença antes ou durante a gestação, lembrando que a transmissão vertical ocorre em qualquer fase da gestação ou estágio da doença materna. “Por isso, é importante realizar o teste de detecção de sífilis durante o pré-natal, direcionando-a para o tratamento durante a gravidez”, destaca a especialista.
Dra. Brunna explica que toda gestante admitida no Mariska Ribeiro é submetida à triagem para sífilis, de modo que o risco da doença congênita para o bebê possa ser identificado. “Sempre que o recém-nascido for exposto à sífilis na gestação, realizamos o rastreamento do bebê e o tratamento do mesmo, se necessário, seguindo sempre as orientações do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral de Pessoas com DST do Ministério da Saúde.”
Conforme levantamento do CEJAM no hospital, em 2022, já foram diagnosticados e tratados 112 casos de sífilis congênita. O tratamento aumenta o tempo de permanência na maternidade e, por vezes, gera internações em UTI neonatal com aumento de morbimortalidade. “Após a alta, todas estas crianças são referenciadas à atenção primária para segmento”, salienta.
De acordo com a médica, a sífilis congênita pode se manifestar logo após o nascimento e durante ou após os primeiros dois anos de vida da criança. Quando ocorre de forma precoce, o bebê pode apresentar sintomas como baixo peso, coriza e obstrução nasal, osteocondrite, fissura peribucal, alterações respiratórias, anemia severa e icterícia. Além disso, o bebê pode ser assintomático.
Já no caso da manifestação tardia da doença, a partir dos 2 anos de vida, os sinais incluem mandíbula curta, arco palatino elevado, surdez neurológica e dificuldade no aprendizado, entre outros.
CEJAM Meet – Sífilis Congênita
Com o objetivo de promover o compartilhamento de experiências, atualização técnica e científica sobre os desafios do combate à sífilis congênita, o CEJAM realiza, no dia 27 de outubro, mais uma edição do CEJAM Meet.
O evento reúne, por meio de encontros virtuais, pequenos grupos de especialistas com a proposta de integrar equipes dos Serviços de Saúde e municípios em que a Instituição mantém gestão por contrato, convênio ou parcerias.
Nesta edição, o encontro conta com a participação da Dra. Tassiana Rodrigues dos Santos Galvão, infectologista do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) do CEJAM; Dra. Maria Celeste Dilela, coordenadora da Ginecologia Obstetrícia do Hospital Estadual de Francisco Morato; e Dr. Paulo Henrique Ferreira, coordenador da UTI Neonatal do Hospital Estadual de Francisco Morato; moderados pelo Dr. Eduardo Luna, diretor técnico do Hospital Estadual de Francisco Morato.
Com início às 14h, o bate-papo será transmitido pelo canal Escola CEJAM no YouTube.