Já imaginou vivenciar uma situação de perigo em que médicos trabalham em ritmo emergencial? Para enriquecer o processo de aprendizado e a interação direta com ocasiões alarmantes, o Centro Universitário de Brasília (CEUB) implementou em seus laboratórios a técnica de simulação realística nos cursos da área da saúde. O processo envolve uma cadeia produtiva das artes cênicas (atores, cenários, maquiadores) e tecnológicas para tornar a experiência o mais próximo da realidade. A técnica, que é difundida nos melhores centros universitários do mundo e tem sido aprovada pelos alunos do CEUB, proporciona segurança aos pacientes, autonomia dos alunos e maior retenção do conhecimento.
Durante o processo vivenciado nos laboratórios de simulação Realística (SR) são criadas situações de estresse, estimulando a sensação de desequilíbrio e induzindo à ação rápida dos envolvidos no socorro de vítimas emergenciais. Por meio de casos clínicos, a técnica permite a experiência prática em ambiente seguro, seguida de reflexão guiada, gerando um impacto em habilidade e atitudes relacionadas ao exercício do profissional de saúde. A ferramenta é utilizada a muitos anos, mas a edificação de um espaço próprio e a ampliação do uso da SR foi motivada pelo curso de Medicina em 2017, que tem como base curricular a Metodologia Baseada em Problemas.
O professor de Medicina do CEUB Alberto Vilar destaca o impacto positivo desta metodologia no aprendizado e acrescenta que a simulação realística cumpriu um papel importante durante a pandemia da Covid-19, ao permitir abordagens práticas enquanto as aulas presenciais nos cenários reais estavam suspensas. “A simulação realística é uma metodologia importante de ensino-aprendizagem no curso de Medicina, pois proporciona a união dos conhecimentos teóricos a decisões práticas num ambiente seguro e sem riscos para os alunos ou pacientes”, completa.
Na Europa e nos Estados Unidos a simulação realística é uma prática difundida, além de ser metodologia educacional indispensável aos cursos de graduação em saúde. No Brasil, no entanto, a técnica enquanto metodologia educacional ainda é pouco utilizada devido aos desafios atrelados à sua implementação, explica Magda Verçosa, coordenadora do Labocien do CEUB. A ferramenta é utilizada há muitos anos, mas a edificação de um espaço próprio e a ampliação do uso da SR foi motivada pelo curso de Medicina em 2017, que tem como base curricular a Metodologia Baseada em Problemas. “Além do alto investimento financeiro em equipamentos e infraestrutura, a metodologia demanda engajamento do corpo docente, capacitação dos facilitadores, alta carga de trabalho para a elaboração dos cenários e situações-problema”, completa.
Efetividade comprovada
Diante da percepção dos progressos gerados, as estudantes Amanda Guedes (25) e Eduarda Martins (23) lançaram o “Estudo do Impacto da Simulação Realística na Formação do Acadêmico de Medicina”. A pesquisa avaliou, entre 92 acadêmicos que possuem a simulação na grade curricular, como a união da teoria com a prática pode auxiliar no gerenciamento emocional da situação. Sua realização foi composta de etapas objetivas e discursivas, seguidas de análise externa da conduta do estudante. Ao todo, 45,28% dos entrevistados consideram a metodologia fundamental para o processo de aprendizagem na saúde. Outros 36,95% consideram a importância e os avanços obtidos com as técnicas imersivas.
A simulação realística é um pilar fundamental na formação acadêmica de saúde na atualidade, garantem as autoras da pesquisa: “Desde o ciclo clínico ao último dia como acadêmicos, é por meio dessa técnica que temos contato com aparelhos reais, que aprendemos a nos comportar frente a situações de estresse e a estabelecer as melhores condutas”. “Os alunos enxergam a simulação como uma ferramenta de capacitação médica que os prepara para situações reais. Os laboratórios foram considerados completos e produtivos, com reconhecimento do investimento e esforço realizado pelo CEUB”, arrematam.
Erros fatais
Relatório publicado pelo Instituto de Medicina dos EUA (U.S. Institute of Medicine) “To err is human”, apresenta dados alarmantes em relação ao número de mortes por erros na área da saúde, a despeito das medidas e políticas instituídas mundialmente: em torno de 48 mil a 98 mil por ano. Para reduzir esses números, a simulação realística em saúde para a formação e treinamento dos profissionais da área tem crescido como uma das estratégias para o desenvolvimento de habilidades técnicas e não técnicas.