Uso terapêutico da membrana amniótica do recém-nascido pode ajudar na cicatrização e recuperação de tecidos

Autorizada somente em outubro de 2021, a utilização da membrana amniótica de recém nascidos para tratamentos clínicos começa a ganhar visibilidade e representa mais um avanço em prol das milhares de vítimas de queimaduras que ocorrem no Brasil todos os anos. De acordo com médica e cientista Karolyn Sassi Ogliari, pós-doutora em Biologia Regenerativa e Células-Tronco, estudos mostram que essa membrana pode atuar como um curativo biológico, pois apresenta células e outros componentes proteicos com potencial para proteger a ferida, acelerar a cicatrização e aliviar a dor.

“Essa técnica já é utilizado em muitos países da América Latina, América do Norte e Europa como curativo para queimaduras superficiais e profundas, tratamento de úlceras varicosas e em feridas causadas por diabetes, além de cirurgias oftalmológicas”, explica Karolyn, que também é diretora do Hemocord, empresa de biotecnologia voltada para armazenamento de produtos de terapia celular para a Medicina Regenerativa, e única no Brasil onde pode ser contratado o serviço de coleta da membrana amniótica para fins terapêuticos.

A membrana amniótica é o tecido que compõe a parte mais interna do envoltório fetal e que sai junto com a placenta durante o nascimento do bebê, podendo ser coletada nesse momento. A placenta é levada então ao laboratório e lá processada para separação da membrana. Karolyn explica que esse material se trata de um curativo biológico pela riqueza em fatores de crescimento e citocinas que comprovadamente promovem a cicatrização de feridas.

“Ensaios clínicos para tratar queimaduras na pele e alterações na córnea mostram que as células-tronco da membrana amniótica aceleram a recuperação por meio da inibição da inflamação e da liberação de fatores de crescimento. As células-tronco mesenquimais amnióticas humanas tem funções de regulação imunológica, anti-inflamatória e regeneração de vasos. Por apresentar essas propriedades, a membrana tem múltiplos usos em diversas áreas da medicina”, explica. “A maioria das terapias com este material biológico está direcionada ao tratamento de queimaduras graves, enfermidades oftalmológicas e cicatrização de feridas”, explica.

Recentemente, o uso da membrana amniótica salvou a visão de um recém-nascido no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), em Curitiba (PR). O pequeno Anthony Amaral havia nascido com uma má formação nos olhos – ambos não abriam após o nascimento. O procedimento, realizado pelo SUS, aconteceu no final de fevereiro de 2023 e foi um sucesso.

Protocolo patenteado

Karolyn explica que o Hemocord é a única empresa no Brasil onde a população pode contratar o serviço de coleta e armazenamento da membrana amniótica. De acordo com a especialista, o protocolo patenteado pela empresa preserva as células vivas, que são biologicamente ativas. “Alguns meios de processamento não preservam as células, só a matriz celular. Desenvolvemos um protocolo que mantem as células vivas e produzindo essas moléculas que atuam na regeneração dos tecidos. O ‘curativo’ permanece biologicamente ativo e com uma produção maior desses componentes”, explica.

A especialista explica ainda que, diferentemente do SUS, que armazena as amostras em freezer -80º, o Hemocord criopreserva em Nitrogênio, o que garante a manutenção do material por décadas. “No freezer a -80º, a preservação é por um tempo limitado, no nitrogênio é por tempo indeterminado. E como não causa rejeição, pode ser usado pela própria criança ao longo da vida ou por algum familiar que precisar”, comenta.

O desenvolvimento do protocolo do Hemocord será publicado pela Biomedical Materials (2023) e apresentado no Simpósio Internacional Cord Blood Connect de 2022, em Miami.

Redação

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